Mulheres 50+

“Um relatório da consultoria Global Bain & Co. apontou que, na próxima década, 150 milhões de empregos serão ocupados por trabalhadores mais velhos.  Em 2031, os trabalhadores com 55 anos ou mais serão ao menos 25% da força de trabalho nos países do G7 (EUA, Canadá, Reino Unido, Alemanha, Japão, França e Itália), um salto de quase 10% em relação a 2011. O estudo aponta que os países em desenvolvimento também passarão por movimentos similares, inclusive o Brasil.”

Diante desta realidade, como estamos nos comportando para não termos mais uma ocorrência em que seremos lembrados como, no mínimo, distraídos?

Por que o tema idade, gerações, não é prioridade nas discussões e ações das organizações junto aos seus públicos de interesse?

Foi a partir dessas indagações que elaboramos esta matéria que pretende ser uma oportunidade para pessoas de todas as gerações, refletirem e agirem para conviver com algo inevitável a qualquer ser humano: o envelhecimento. Saber envelhecer sem sofrimento não é para todos os seres humanos; é para aqueles que desde a idade mais remota tiveram a oportunidade de conviver e naturalizar o tema e não serem amedrontados  com estereótipos que ainda hoje permanecem na mídia.

Quem lembra :

  • “Velho do Saco” (uma espécie de bicho papão que vaga pelas cidades em busca de crianças desobedientes aos seus pais e as leva para longe de suas casas),
  • Representação do idoso aposentado como  alguém dependente, um ônus para a família (que na maioria das vezes foi sustentada por esse aposentado) e
  • Idoso associado à doença, fragilidade e incompetência digital?

Com todas essas referências negativas, como o jovem pode querer pensar em ser, um dia, um idoso?

Envelhecimento Ativo: é possível?

Envelhecimento ativo foi criado pela Organização Mundial da Saúde no final dos anos 90, visando a transmitir uma mensagem mais abrangente do que “envelhecimento saudável”  e reconhecer, além dos cuidados com a saúde, outros fatores que afetam o modo como os indivíduos e as populações envelhecem. (Dr. Alexandre Kalache e Kickbusch)  

A abordagem do envelhecimento ativo baseia-se no reconhecimento dos direitos humanos das pessoas mais velhas e nos princípios de: independência, participação, dignidade, assistência e autorrealização, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas.

Ônus Demográfico em 2050. estamos preparados?

O ônus ou o bônus demográfico é determinado pela razão de dependência demográfica, a soma da “População Inativa”  jovem e idosos, dividida pela “População Economicamente Ativa” (A+C)/B.

A queda da mortalidade leva a um aumento da razão de dependência. Em nosso País, isso ocorreu nas décadas de 1950 e 1960, mas após 1970 a razão de dependência começou a cair, até chegar ao nível de 50 dependentes para cada 100 indivíduos em idade ativa, no período de 2010 a 2030.

Esta menor carga de dependência é denominada de “Bônus Demográfico”.

A  partir de 2030 a razão de dependência começará a subir.

A oportunidade de desenvolvimento de ações que resgatem carências históricas é agora.

Após 2050, caso o período de bônus não tenha sido aproveitado passaremos a ter o “Ônus Demográfico”.

Haverá a necessidade de repensar o modelo adotado hoje em algumas empresas que só abordam o envelhecimento, quando próximo à aposentadoria, desenvolvendo ações corretivas e sem efetividade.

O realinhamento da ação passa pela adoção do “Processo de Melhoria Contínua Para a Vida e Trabalho” (termo cunhado por nós em 1998), ou seja: colocar à disposição das pessoas, desde a sua contratação,  uma série de opções de aprendizagem sobre todos os fatores componentes da qualidade de vida e permitir que  usufruam dessas informações durante a permanência na empresa. Paralelamente, não descuidar da requalificação (Reskilling) e transmissão de know-how  aos novos colaboradores. 

Idoso – Quem é? 

Segundo a OMS Organização Mundial da Saúde, idosa é a pessoa a partir dos 60 anos. Pré-idoso aquele entre 55-64 anos;  Idosos jovens os de 65-79 anos e Idosos de idade avançada os de 80 anos ou mais. 

Nossa realidade: 50+

A população 50+ anos representa 27% da população do país e a média de pessoas  nessa faixa etária, nas grandes empresas brasileiras está entre 3% e 5%. Assim sendo,  o 50+ é um protagonista da exclusão etária.

Idoso é mais um excluído. Por quê?

Porque convivemos com o “Etarismo ou Ageísmo”, preconceito atribuído às pessoas por causa da idade não aceita como “padrão” para o trabalho, por exemplo, gerando discriminação  desde a entrada, durante a permanência no trabalho, carreira, e na saída.

A discriminação acontece, apesar de a Justiça do Trabalho condenar empresas por Etarismo.

Vejamos:

“Empresas têm sido condenadas a indenizar trabalhadores discriminados em razão da idade, seja no ambiente de trabalho ou em processos de seleção ou de demissão. As decisões, que tratam do chamado etarismo, ainda garantem reintegração ou compensação financeira. Atualmente, há 77 processos em tramitação com o tema etarismo, que somam R$ 20,64 milhões, segundo a empresa de jurimetria DataLawyer”. (Adriana Aguiar — De São Paulo.20/07/2023 Link)

Discriminação é ilegal, mas…

  • A vaga já foi preenchida;
  • Voce está acima do que podemos captar ou
  • Nem uma resposta, sequer. 

Etarismo – Como as empresas podem combatê-lo

Sugerimos que essas ações, entre outras:

  1. Verificar a convergência entre os valores da PJ e da PF. O que a empresa quer nem sempre é convergente com a ação de quem está à frente do processo de seleção, na liderança ou na gestão do desempenho.
  2. Privilegiar Fit Cultural na seleção das lideranças; trazer para a empresa pessoas que tenham valores convergentes com os da empresa sem desconsiderar adoção do desafio trazido pela Cultural add.
  3. Ser referência com atitude e comportamento antietaristas,top down.
  4. Ter representatividade e proporcionalidade da diversidade etária.
  5. Proporcionar liberdade para falar sobre preconceitos, sem medo ou culpa.
  6. Trazer os jovens para a conversa.
  7. Reposicionar a imagem do “idoso”, mostrando exemplos reais que desmistificam os estereótipos negativos.
  8. Eliminar a comunicação etarista.

Empresas Benchmarks 50+

Deloitte

  • Prepara o idoso para conviver com a tecnologia: todos podem alcançar um alto nível de
  • Uso de tecnologia é sempre um habilitador e poucas vezes uma barreira.

Pepsico Brasil

  • Ações de conscientização, direcionadas à equipe em geral.
  • Ações de fortalecimento do sentimento de pertencimentoentre as faixas etárias mais avançadas.
  • Plataformas de idiomas e mentoria.

Takeda Brasil

  • Todo colaborador se sente incluído e seguro para desenvolver o seu potencial máximo, independentemente, da idade, cor, orientação sexual, religião ou gênero.
  • Sentimento de pertencimento torna-se comum a todos os colaboradores.

Sanofi Brasil

  • 1ª empresa brasileira a receber a certificação internacional “Age-Friendly Employer”, que reconhece boas práticas de inclusão, gestão e integração dos 50+.
  • Dos 3.000 funcionários da Sanofi Brasil, 16% têm 50 anos ou mais, parcela essa que deve chegar a 20% em 2025.

O que não deve ser feito: Nem Descarte, Nem Queima de Arquivo 

Temos acompanhado pela mídia a informação de demissões imotivadas e como tais, injustificáveis, ocorrendo no meio artístico televisivo. E, só por isso, o fato se torna público, mas também acontece em outros segmentos, só que não são comentadas.

Alguns casos podemos caracterizá-los como:

Descarte

Quando há troca dos mais experientes por jovens, sem experiência e salários menores.

Outros casos, em que há a necessidade de autoafirmação; alguém ao chegar em um ambiente gera mudanças profundas para marcar o espaço de poder.  É o que eu chamo de:

Queima de arquivo

Caracteriza-se por  negar a contribuição passada, mas usá-la em um processo simples de “copiar/colar”.

Para ambos os casos, há um único remédio:

Respeito

Fugindo à regra, temos os Perennials!

Cada caso é um caso! Não podemos generalizar e partir do pressuposto preconceituoso  de que todos os 40+, 50+… são iguais. Temos os perennials ou perenes, que são  indivíduos que levam um estilo de vida que inclui gostos e hábitos de várias faixas etárias diferentes, construindo sua personalidade de acordo com isso.

Perennials são pessoas:

  1. Antenadas,
  2. Aprendem com amigos de todas as idades a usar as tecnologias e se conectam em grupos de interesse onde compartilham conhecimento e experiências,
  3. Não possuem preconceito com relação à raça, gênero, orientação sexual, religiões, etnias, culturas,
  4.  Alegres, trabalham em equipe,
  5. Mente aberta a novos conceitos em um estado de gratidão e não julgamento,
  6. Trocaram o julgamento pela curiosidade e isso faz deles pessoas extremamente agradáveis  de  se conviver,
  7. Querem mudar o mundo, mostrar que juntos somos mais fortes, que vale a pena incluir todos em um time e aprender com as diferenças e
  8.  Maior diferencial dos perennials é a inteligência emocional.

Esse é o perfil ideal considerando a expectativa de vida da população masculina, 72,2 anos, feminina, 79,3 anos, frente à longevidade estimada atualmente em 120 anos, o que está demandando pessoas mais ativas, trabalharão mais tempo para se aposentar e  após a aposentadoria,  precisarão trabalhar para garantir renda e assumir despesas com a manutenção da saúde.

E como será a representação dos 120+ anos?

Por Jorgete Lemos, sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.