Casamentos dependem de confiança. Sem confiança, naufragam. Com a economia é igual. Sem confiança, a economia de qualquer país está fadada ao fracasso. Empresários que desconfiam do futuro da economia de um país não investem e não geram empregos lá. Consumidores preocupados com o futuro não gastam, impedindo empresas de venderem, o que causa mais preocupação e desemprego, em um círculo vicioso. Bancos preocupados em não serem pagos não emprestam….
Em toda a economia, talvez o elo mais sensível ao desaparecimento da confiança seja o dos depósitos bancários. Pessoas e empresas deixam seu dinheiro no banco porque confiam que, quando quiserem ou necessitarem, seu dinheiro estará disponível para elas. E, quase sempre, isso é o que acontece.
O problema surge quando, de uma hora para outra, a confiança em uma determinada instituição financeira desaparece. Nesta hora, quem tem dinheiro depositado nesse banco corre para sacar os seus depósitos. Essa corrida para sacar depósitos, quando executada por muita gente ao mesmo tempo causa exatamente o que essas pessoas temiam: faz com que o banco não tenha, naquele momento, recursos suficientes para todos sacarem porque nenhuma instituição financeira deixa todos os recursos disponíveis para saques ao mesmo tempo.
A falta de disponibilidade para saque imediato alimenta a o medo de que as pessoas não conseguirão sacar seu dinheiro, estimulando-as a tentar sacá-los o mais rapidamente possível, o que acaba quebrando aquela instituição. Às vezes, a quebra de uma instituição financeira levanta preocupações sobre outras, o que acaba causando uma crise bancária. Recentemente, os dois maiores sistemas financeiros mundiais, o americano e o europeu, têm sido abalados por uma situação assim.
Nos EUA, o Silicon Valley Bank – que era o principal banco das startups globais – quebrou em função de perdas bilionárias em sua carteira de renda fixa – causadas pela forte alta de juros recente – que foram o gatilho para uma corrida para saques de depósitos.
Para impedir um efeito bola de neve sobre o resto do setor financeiro americano e, em particular, sobre os bancos regionais, o governo americano garantiu todos os depósitos no banco. Sem isso, provavelmente, teria acontecido uma corrida bancária generalizada, que levaria à quebra de bancos menores e, talvez até maiores, causando uma crise financeira com impactos na economia e no mercado de trabalho de todo o mundo, parecida com a que aconteceu após a quebra da Lehman Brothers, em 2008.
Além disso, sem essa garantia do governo americano, a quebra do SVB poderia levar a uma onda de demissão ainda maior do que a que já vem acontecendo no setor de tecnologia mundial. Muitas startups, inclusive várias brasileiras, tinham seus depósitos lá. Sem poder sacar seus recursos para pagar funcionários e fornecedores, muitas delas quebrariam.
Da mesma forma, reguladores e o governo suíço tiveram de orquestrar uma operação de resgate ao Credit Suisse, um dos maiores bancos do mundo, que acabou culminando na sua venda para o também suíço UBS por um valor simbólico, considerando sua carteira de ativos de quase US$ 1 trilhão.
Infelizmente, a preocupação com relação à solidez de determinados bancos americanos e europeus persiste. Aqui no Brasil, devemos estar atentos aos seus desdobramentos tanto financeiros quanto psicológicos. Perdas significativas no setor financeiro reduzem a disponibilidade e aumentam o custo do crédito para todos. No Brasil, as perdas causadas pela fraude contábil nas Americanas já tinham causado esse efeito.
Isso tudo aumentou muito o desafio para os Bancos Centrais, principalmente na Europa e EUA. Por um lado, ainda têm que controlar a inflação, o que exige mais altas de juros, no caso da Europa e EUA. Por outro, quanto mais altos estiverem os juros, maiores os riscos de uma crise financeira. Em resumo, os desafios para uma boa condução da política monetária cresceram e, por consequência, os riscos de erro e de uma eventual recessão global também. Mais do que nunca, se queremos estar menos expostos a eventuais tsunamis externos, precisamos fazer a nossa parte aqui no Brasil, em particular reforçando a credibilidade na solvência das nossas contas públicas.
Ricardo Amorim, economista mais influente do Brasil segundo a Forbes e Influenciador nº 1 no LinkedIn. Indicado para os Prêmios iBest de Melhor Conteúdo de Economia e Negócios, Maior Influenciador do LinkedIn e Maior Influenciador de Opinião e Cidadania. Vote aqui. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.