A pandemia do coronavírus desarranjou cadeias globais de produção – reduzindo a oferta – e, posteriormente, com estímulos fiscais e monetários recordes, aumentou a demanda por matérias primas de energia, minerais, metálicas e alimentares. Com menos oferta e mais demanda, os preços subiram.
Com esta forte alta de preços, em particular das matérias-primas, o custo de produção de inúmeros produtos subiu muito.
Na maioria dos países, este aumento de custos de produção não pôde ser repassado pelas empresas aos preços de venda dos produtos, ao menos não integralmente, porque com a forte alta do desemprego e queda de renda, os consumidores deixariam de consumir produtos que ficassem muito mais caros porque não teriam recursos para pagá-los.
Com os custos subindo mais rapidamente do que os preços de venda dos produtos, as margens das empresas caíram. À medida que os empregos voltem – o que começou a acontecer no segundo semestre do ano passado, a demanda crescerá e as empresas aproveitarão a oportunidade para recompor suas margens.
Isto deve pressionar a inflação ao consumidor neste ano e no ano que vem em todo o mundo. A inflação ao consumidor está grávida.
E, no Brasil, a gravidez é de gêmeos. Aqui, à enorme alta do preço internacional das matérias-primas, somou-se uma também forte alta do preço do dólar em relação ao real. Entre as principais moedas globais, a moeda brasileira foi a que mais se desvalorizou em todo o mundo.
Isto fez com que o preço das matérias-primas subisse ainda mais no Brasil, além de elevar o preço de outros componentes e produtos importados por aqui.
Com isso, o Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA-M) subiu 42,6%, nos 12 meses terminados em 15/3, sua segunda maior elevação em mais de 26 anos, desde que o Plano Real foi implementado.
Entre 71 países, apenas na Argentina – que vem convivendo com inflação descontrolada há anos – a alta do IPA foi ainda maior do que no Brasil.
Por tudo isso, há um grande risco que a inflação medida pelo IPCA em 2021 seja superior, talvez muito superior, aos 4,8% atualmente projetados pelo mercado. Para evitar que isso aconteça, o Banco Central terá de subir a taxa Selic além das taxas projetadas pelo mercado – de 5% em 2021 e 6% em 2022.
Quanto mais agressivo for e mais rapidamente acontecer o ajuste fiscal através da Reforma Administrativa, a Reforma do Pacto Federativo e as privatizações, menor será esta necessidade de altas mais agressivas dos juros.
Um forte ajuste fiscal colaboraria para aumentar a confiança no país e atrair capitais, reduzindo a cotação do dólar e, por consequência, a pressão dos custos de produtos importados sobre a inflação.
Se não avançarmos agressivamente neste fronte, um forte choque de juros será inevitável e o crescimento econômico no segundo semestre e, principalmente, em 2022 será bastante prejudicado.
Ricardo Amorim, autor do bestseller Depois da Tempestade, apresentador do Manhattan Connection, economista mais influente do Brasil segundo a Forbes e Influenciador nº 1 no LinkedIn. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.