Nos últimos anos, principalmente depois da pandemia de Covid-19, que fez com que o ambiente corporativo abrisse suas portas para o home office, modelo híbrido e outras possibilidades, o mercado de trabalho passou por muitas transformações. Uma das mais significativas e que tem apresentado resultados recentes é a mudança de pensamento dos colaboradores sobre a sua relação com o ofício e o que esperam dele.

Até relativamente pouco tempo atrás, esse não era um questionamento muito comum nas rotinas dos profissionais. Afinal de contas, todo mundo crescia aprendendo que o trabalho era uma das etapas mais importantes da vida e que deveria ser levado a sério e priorizado.

Não eram comuns as discussões sobre saúde mental e o entendimento de que a nossa energia não só poderia como deveria ser focada também em outros aspectos, como relacionamento com familiares e amigos, hobbies e diversas outras atividades voltadas ao enriquecimento pessoal.

Mas, de um tempo para cá, esse assunto passou a ser protagonista dos debates dentro e fora das companhias, e o resultado disso já pode ser percebido com as ondas de demissões espontâneas ao redor do mundo. De acordo com pesquisa da Mind Share Partners, organização sem fins lucrativos que ajuda empresas no apoio à saúde mental no trabalho, a saúde mental foi justamente o que motivou cerca de dois terços dos millenials a abandonarem seus empregos no ano passado, enquanto para a geração Z o valor foi ainda mais impressionante: 81%. 

Outro levantamento global realizado pela empresa de consultoria de gestão Korn Ferry em janeiro deste ano aponta que 38% dos entrevistados afirmaram que recentemente já deixaram ou planejam abandonar seus cargos sem ter outro emprego em vista. Os dados não mentem: as organizações precisam urgentemente se atentar a essa questão e encontrar formas de contorná-la.

A busca por melhores oportunidades, que se adequem às novas necessidades dos profissionais, é o principal motivo dos pedidos de demissão. Há uma procura maior por equilíbrio entre vida profissional e pessoal, assim como por modelos de trabalho mais flexíveis. 

E, ainda que esse movimento se dê ao fato de as pessoas terem percebido durante a pandemia que a vida vai muito além do trabalho e por isso elas não precisam continuar em empregos que não gostam, não as fazem bem ou deixam de desafiar suas habilidades, é importante ressaltar que parte desse problema poderia ser evitado se as companhias de fato se empenhassem em oferecer melhores condições de trabalho.

De agora em diante, as instituições que não se preocuparem em enfrentar esse obstáculo por meio da promoção de um ambiente corporativo mais condizente com as expectativas e desejos dos colaboradores começarão a ter cada vez mais problemas relacionados à perda de membros importantes. E, em um momento no qual já faltam profissionais qualificados no mercado, não podemos nos dar ao luxo de deixar isso acontecer. Pense nisso!

Gustavo Caetano é CEO da Samba Tech, embaixador da Reserva e autor do best seller “Pense Simples”. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.