O tema do momento para os profissionais e empresas prestadoras de serviços de bem-estar na empresa é a saúde mental, mercado que tem movimentado milhões de reais nos diferentes segmentos, com a oferta de um número cada vez maior de serviços e uma adesão maciça das áreas de recursos humanos das empresas.
No início deste ano, houve uma matéria publicada no jornal New York Times com o título “Workplace Wellness Programs Have little Benefit, study finds” ou Os programas de bem-estar no ambiente de trabalho trazem pouco benefício, revela um estudo.
A autora do artigo se refere a um estudo realizado por um pesquisador inglês, William Fleming da Universidade de Oxford, publicada na revista Industrial Relations Journal que utilizou uma amostra do estudo Britain’s Healthiest Workplace envolvendo 46.336 trabalhadores e 233 organizações.
Apesar de ser um estudo transversal, com todos os seus vieses, o autor utilizou uma técnica estatística sofisticada para analisar a associação entre diferentes práticas (como aplicativos, coaching, aulas de relaxamento, mindfulness, gestão do tempo, finanças pessoais, dentre outras) e a percepção de bem-estar dos trabalhadores. Comparou participantes e não participantes desta atividade. O autor concluiu que nenhuma destas atividades teve efeito positivo, com exceção das atividades de voluntariado.
Apesar das limitações do estudo, constata-se que o tema deva ser estudado com maior profundidade e que não há soluções prontas ou mágicas que se apliquem a todas as organizações.
O autor enfatiza a importância de se distinguir saúde mental (que é um construto positivo e se manifesta como o bem-estar psicológico) de doença mental, que representa um grupo de condições (em geral negativas) com sintomas e classificado como doença (como depressão, por exemplo). Não é possível realizar somente ações individuais de bem-estar psicológico e esperar resultados relacionados à doença mental. Isso se aplica a indicadores como taxas de internação ou uso do pronto-socorro, faltas ao trabalho por CID-F ou custos de assistência médica.
Além disso, utilizando-se a teoria de esforço-demanda, alguns treinamentos poderiam capacitar os trabalhadores a lidar com as tarefas do trabalho, mas a percepção do trabalhador, muitas vezes, é de que a empresa se preocupa com isso, mas não muda nada na organização do trabalho.
Há cada vez mais a preocupação com o “wellness-washing”, ou a oferta de serviços individuais de bem-estar sem modificar as condições de trabalho que podem ser tóxicas e mascarar situações até de assédio moral.
Deste modo, os gestores dos programas de bem-estar nas organizações devem aliar as iniciativas individuais com a melhoria das condições de trabalho, sempre ouvindo a voz do trabalhador (suas necessidades e interesses) e realizar avaliações constantes do seu impacto.
Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.