A comunicação com informações falsas (“fake News”) não é um fenômeno novo, inclusive no campo da saúde como, por exemplo, fórmulas milagrosas para emagrecer, curar doenças, inclusive as incuráveis. Mas, com a chegada da pandemia de COVID-19 e a polarização política, houve uma explosão de fake News, particularmente através das redes sociais.

As pessoas que são antivacina (“anti-vaxxers”) passaram a ficar mais ativas, principalmente nas redes sociais e trouxeram prejuízos na cobertura vacinal em relação ao vírus COVID,19, inclusive no Brasil. Isso sem mencionarmos a estéril discussão sobre o uso de máscaras ou o uso de tratamentos comprovadamente ineficazes como o uso do antiparasitário ivermectina.   Neste contexto, o ambiente de trabalho não ficou imune. A revista científica American Journal of Health Promotion, na edição de março de 2022, trouxe uma seção especialmente sobre este tema.

Inicialmente, é útil tentar compreender o que pode contribuir para este tipo de comportamento, que pode envolver fatores psicológicos, demográficos, sociais, políticos e os canais envolvidos na comunicação (menor acesso à imprensa regular e “notícias” disseminadas pelo WhatsApp por colegas, familiares ou políticos).

Estudos psicológicos descrevem o chamado viés de conformidade, onde há uma tendência das pessoas seguirem a posição da maioria ou dos colegas, por um instinto de sobrevivência, ou seja, seguir a manada torna o indivíduo menos susceptível a ser atacado por predadores. Baseado neste instinto, muitas pessoas seguem o fluxo ao invés de suas convicções pessoais. Há também o viés de confirmação, onde as pessoas se engajam e aceitam informações que a maioria acredita e evita confrontá-la. Finalmente, há estudos que demonstram que as pessoas querem sempre demonstrar que “estão por dentro” das últimas informações, que elas apreciam um certo grau de sensacionalismo e que gostam de receber “boas novas” em relação aos seus maus hábitos (é mais fácil acreditar que uma informação é verdadeira SE você quiser que ela o seja).

Segundo o Dr. Dexter Shurney, da Blue Zones Well-Being Institute, há três táticas populares que são utilizadas comumente para disseminar as informações falsas: (1) Contamine a informação correta, ou seja, questione a integridade da pessoa ou organização que traz a informação científica (2) Crie incerteza. Inunde as redes sociais com pesquisas contraditórias que trazem confusão à cabeça das pessoas (3) Crie polarização, com uma mentalidade do “nós contra eles” colocando as pessoas em polos opostos.

Os empregadores, através de seus gestores (de recursos humanos, saúde ocupacional, qualidade de vida), apesar de não interferirem na vida pessoal dos empregados, podem ter uma posição ativa, divulgando as informações baseadas em evidências científicas, contribuindo para o bem-estar entre os colaboradores e evitando o comprometimento dos resultados em saúde da organização.

Empresas que possuem canais de comunicação bem estruturados, programas de saúde organizados gozam de credibilidade no conjunto dos trabalhadores, particularmente quando trazem informações claras, em linguagem que as pessoas possam compreender e apresentando as fontes e referências científicas. Muitas vezes, são convidados especialistas para ajudar nas recomendações em saúde, trazendo credibilidade e dados atuais e bem embasados. Realizam, sempre que possível, atividades em grupo para discutir os temas mais sensíveis e tirar as eventuais dúvidas.

Obviamente, é importante respeitar as crenças e valores de cada trabalhador, evitando posições paternalistas ou imposições, tentando ser o “dono da verdade”. Devemos ter paciência, pois precisamos ocupar o espaço das informações vindas, às vezes de familiares ou amigos, de várias fontes e isso leva tempo e persistência.

No entanto, acredito que os gestores de saúde e recursos não podem se omitir e enfrentar a desinformação, visando o bem-estar dos trabalhadores e a manutenção dos níveis de saúde da força de trabalho.

Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.