“O Progresso moral não é um privilégio natural das elites nem é adquirido por acaso ou por sorte, mas através do trabalho de si mesmo – diariamente.” – Epcteto, filósofo grego, 18 a 50 d.C.

Vamos conversar sobre soluções à superação da “Diversidade, equidade, inclusão e a sensação de estagnação”, tema que trouxemos na edição do mês de Julho de 2022.

Considerando a sabedoria dos mais antigos, um dos caminhos que sugiro é: Encarar, de frente, a identificação de nossos Privilégios, sem medo de críticas, sem culpa, mas com responsabilidade para assumir nossas oportunidades de melhorias.

Por que? Ouçamos o mestre: “Todos os problemas que estamos vivendo possuem origem antrópica. O desequilíbrio de nossa condição física, psíquica, moral e espiritual é criado por nós mesmos…” Gilberto Gil.

Nossos valores foram transmitidos pelos nossos ancestrais e, em muitas culturas, pela oralidade. Hoje, aprendemos via internet e decidimos o que, como, e quando, acessar o saber, demonstrando nossa capacidade de escolha.

Mas, como conceituar Privilégios?

“Na antropologia e na sociologia, o privilégio social (ou simplesmente privilégio) é um direito especial, vantagem ou imunidade concedida ou disponível (ou suposta como disponível) somente a uma pessoa ou grupo específico. O termo é comumente usado no contexto da desigualdade social, em relação à idade, deficiência, categoria étnica ou racial, gênero, identidade de gênero, orientação sexual, religião e classe social”

Desigualdade social pode ser considerada um projeto permanente para a manutenção de poder e privilégios, se analisarmos a realidade colocada para determinados grupos sociais levados à extrema pobreza para, depois, receberem as benesses da assistência social.

E o que nós profissionais que atuamos com as pessoas nas empresas temos a ver com isso? O que as empresas têm a ver com isso?

Citarei apenas um argumento que é conclusivo hoje: “Quem não entrar no ESG não tem mais valor no mercado”. Luiza Helena Trajano.

Entrar no ESG significa, entre outras coisas, ter performance na dimensão social equilibrada as demais dimensões : ambiental e a governança e é na Dimensão Social que temos a Diversidade Equidade e Inclusão e as questões sociais, tais como a Desigualdade Social. E todas as dimensões são intercambiáveis, inseparáveis e complementares.

Quem são os Privilegiados?

Se o privilégio é entendido como direito a uma pessoa ou grupo específico, quais foram os critérios para a escolha daqueles que seriam privilegiados e dos não privilegiados?

Um exemplo é o da escravização do povo africano.

Para justificar o injustificável, a negação do direito aos Direitos Humanos, os privilegiados foram posicionados como os “normais”, a referência para julgamento dos demais seres humanos e com isto, assegurar o poder, a dominação. Foi preciso desqualificar aqueles eleitos para a dominação. Desqualificando-os, apagando suas histórias e posicionando-os como seres sem alma, irracionais, sem capacidade de desenvolvimento de um potencial existente, mas negado. Leia mais sobre.

Esta estratégia não foi usada apenas para os negros, mas também para as etnias, identidade de gênero, deficiência, idade, neurodiversidade, orientação sexual =, enfim, todas as demais características diversas do padrão eurocêntrico.

Hoje, mudanças disruptivas no campo da informação estão permitindo amplo acesso ao saber e formando um verdadeiro bloqueio à trajetória da dominação.

E as respostas ao medo de perda do poder estão vindo com a sofisticação das estratégias e táticas de desqualificação, como uma avalanche de ódio e crimes bárbaros.

E o ciclo continua, pois vivemos a cultura de privilégios apoiada em pilares tais como:

1.      Corrupção,

2.      Espertezas generalizadas e

3.      Impunidade.

Há a ganância por mais e mais acumulação de bens materiais e as pessoas se perguntam:  Vale a pena ser honesto, ético?

Sim, vale a pena porque os privilégios serão mantidos se não houverem barreiras ao Negacionismo, Supremacismo e Polarização (entre outros ismos).

Supremacismo

Determinado grupo de pessoas é superior a todos os outros.

Domínio natural de uma categoria de seres sobre outras, simplesmente porque alguém pertence ou se supõe pertencer a esta categoria,

Imposição de uma elite na frente de outras comunidades discriminadas.

Polarização

É uma característica social de:

Resistência e incapacidade de entender as opiniões alheias – quando estas são contrárias.

Negação ao debate, promovendo um cenário de intolerância na vida “real” ou no ambiente virtual.

Negação instantânea, simplesmente a partir do que alguém acredita que o outro representa.

O que os “não privilegiados” representam para os “privilegiados”?

Os fatos mostram:

• Negros (pretos e pardos) representam 56% da população brasileira de 213,3 milhões. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
• Apenas 30% dos cargos de lideranças nas empresas.
• Apenas 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas.
• Apenas 0,4% das posições de gerência, ocupados por negras. BID e do Instituto Ethos
• Perfil do CFO no Brasil 2021: Negros ocupam 8% dos cargos de diretor financeiro. Insper e Assetz Expert Recruitment
• Nenhuma das cerca de 90 empresas do Ibovespa, o principal índice de referência em ações da B3, a Bolsa de Valores brasileira, têm CEO negro.
• Entre os cerca de 30 milhões de brasileiros que recebem apenas um salário mínimo por mês, cerca de 20 milhões são negros. Consultoria IDados a partir de informações do IBGE
• Hoje, 43,1% dos negros ocupados recebem um salário mínimo. A massa de trabalhadores sem recorte racial, o percentual cai para 34,4%.
• Se a renda média do negro (R$ 1.856) fosse equiparada à média de uma pessoa não negra (R$ 3.059), a economia receberia uma injeção de R$ 921 bilhões. O equivalente a quase 12,5% do produto interno bruto (PIB) em 2020. Instituto Locomotiva

Um Exemplo de Superação de Privilégio Pelo Poder da Argumentação

Mary Winston Jackson nasceu em Hampton – USA , em 09.04.1921. Matemática, foi a primeira engenheira aeroespacial do National Advisory Committee for Aeronautica (NACA), atual NASA.

Para ser engenheira aeroespacial, precisaria frequentar o curso no Colégio Hampton.

Ao colocar sua necessidade ao diretor do Colégio ouviu essa justificativa: ”O Colégio Hampton é para brancos”.

Estratégia adotada: Mary desafiou o Diretor, indagando-lhe: por que não ser o primeiro, mais uma vez?

O diretor havia sido o primeiro em diversas ocasiões em sua vida militar, profissional e por que não, ser o 1º a autorizar a frequência de uma estudante negra em um colégio racista? (Esse assunto é tratado no livro “Estrelas Além do Tempo”, que foi adaptado em 2016 para um filme com o mesmo nome).

Enfim, Mary foi autorizada pelo diretor a frequentar o Colégio Hampton, mas “somente as aulas noturnas”.

Mary analisou muito bem o seu interlocutor e demonstrou ser uma boa estrategista. Alcançou o seu objetivo.

Temos muito a caminhar, juntos.

Estamos em um momento de inflexão e o sucesso será de toda a sociedade, do país… Mas, se o seu ambiente for reativo, por que não ser o 1º, a 1ª?

Por Jorgete Lemos, sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.