2021 Negros e brancos juntos - IMG I

Negros e brancos, juntos. Eu também quero!

Por que? Porque é tudo pra ontem. O futuro é agora, com a tomada de consciência sobre a “luta histórica dos negros pelos seus direitos”. Agora é a hora da ação pelos direitos e para isto, vamos nos perguntar: estamos informando, orientando na medida adequada à tomada de consciência pelas pessoas não-negras?

Estamos em um contexto no qual questionamentos e interesses sobre racismo, antirracismo, tomaram conta da pauta de comunicação, nos principais meios de busca da internet.

De acordo com a empresa de análise de dados de eletrônicos a StatCounter, o termo “racismo” atingia, em média, 23 pontos, mas em agosto de 2020, chegou ao limite máximo dos 100 pontos. O interesse está evidenciado; falta saber se há desejo e ação para a mudança.

2020

Ano de muita ação com inovação, aprendizagem e oportunidade de finalizações. Não há como continuar errando quando o assunto é Inclusão da Diversidade Racial e em particular, no mundo corporativo, pois é o trabalho que propicia a vida com a dignidade, devida aos seres humanos.

Tivemos aprendizagem às custas de muito sofrimento, nosso e de outros, infelizmente, o que trouxe à tona a palavra –  Empatia.

Empatia materializada na letra desta obra prima do Emicida, o Leandro Roque de Oliveira, em parceria com Antonio Carlos Belchior , Felipe Adorno Vassao  e Eduardo dos Santos Balbino, denominada: AmarElo.

Negros e brancos, juntos - IMG II

Começo esta matéria com otimismo, pois considero este verso: “Tenho sangrado demais /Tenho chorado pra cachorro / Ano Passado eu morri/ Mas esse ano eu não morro…”  Uma anunciação do que virá. E virá se estivermos, juntos.

Em 2020, minha missão foi realimentada pelo reconhecimento recebido de vários leitores, que curtiram e opinaram sobre as matérias que escrevi, com agradecimentos por tê-los ajudado nessa trajetória de compreensão sobre a responsabilidade, dos não-negros, na Inclusão da Diversidade Racial. É a cada um de vocês que dedico a continuidade do meu trabalho. 

Se percebemos interesse por Inclusão da Diversidade Racial, acreditamos que deveremos investir em diálogos mais aprofundados sobre a verdadeira história da raça negra e começar a falar sobre a raça branca.

Para tanto, indico Lia Vainer Schucman, doutora pelo Instituto de Psicologia da USP e autora da tese: “Entre o ‘encardido’, o ‘branco’ e o ‘branquíssimo’: raça, hierarquia e poder na construção da branquitude paulistana”

Lia fala que  “a branquitude é entendida como uma construção sócio-histórica produzida pela ideia falaciosa de superioridade racial branca, e que resulta, nas sociedades estruturadas pelo racismo, em uma posição em que os sujeitos identificados como brancos adquirem privilégios simbólicos e materiais em relação aos não-brancos. Uma das características mais marcantes da branquitude é que o sujeito branco tem uma ideia de que ele é o normal e o outro, diferente”.

Este tema precisa ser pauta para conversa nas empresas.

Privilégios

Cito acima privilégios simbólicos e materiais e vou informar sua origem.

O primeiro ato oficial para a implantação da escravização no Brasil foi a “Bula Dum Diversas”, de 16.06.1452, onde o Papa Nicolau declara ao Rei de Portugal Afonso V:

  • …nós lhes concedemos, por estes presentes documentos, com nossa Autoridade Apostólica, plena e livre permissão de invadir, buscar, capturar e subjugar os sarracenos e pagãos e quaisquer outros incrédulos e inimigos de Cristo, onde quer que estejam, como também seus reinos, ducados, condados , principados e outras propriedades…
  • … e reduzir suas pessoas à perpétua escravidão e apropriar e coverter em seu uso e proveito e de seus sucessores, os reis de Portugal, em perpetuo os supramencionados reinos…. (o negrito é nosso).

Em 8 de janeiro de 1554 estes poderes foram estendidos aos reis da Espanha.

Esta informação foi apresentada, na escola? A quantas reflexões nos remete?

Fica claro o sentimento de posse dos não-negros quanto aos negros. Os europeus agregaram mais um elemento para a escravização do homem: a cor da sua pele. Estava criada a escravização racial.

Hoje

Nós negros (pretos e pardos), alcançamos o estágio do saber, estamos atingindo postos de comando nas organizações, pela competência, e na medida em que mais negros ascenderem social e economicamente, mais represálias poderão ocorrer, mas estejamos preparados. É o estágio do medo pela perda da posse daquilo que lhes conferiram em gerações passadas.

2020 e 3 aprendizagens para 2021

1. Comparação entre desiguais

Comparações entre o assassinato de “George Floyd” e “Assassinatos diários de negros no Brasil”

Não há como comparar. Nos EUA, a questão racial está profundamente arraigada à questão da cor da pele. Ser ligeiramente moreno, ou bronzeado, já exclui do grupo de caucasianos.

“O Movimento negro no sul segregacionista dos Estados Unidos era como o Davi confrontando-se com um monstruoso, mas vulnerável, Golias. O Movimento afro-brasileiro está frente a frente com um inimigo mutante, escorregadio e sobretudo invisível, que precisa ser antes revelado para poder ser derrotado”.  George Reid Andrews, Professor da Universidade de Pittsburgh e pesquisador visitante do CEDEC.

As comparações trazem à tona o comportamento autodepreciativo, de alguns brasileiros, que vivem se rebaixando, enquanto enaltecem os outros países. Pessoas que negam o valor do nosso Movimento Negro, suas conquistas históricas e atuais, mas se comovem, com as ações ocorridas nos Estados Unidos, que usam como a referência a ser seguida.

Aqui vale a recomendação

Olhemos mais para o que acontece ao nosso redor e não nos distraiamos com o que acontece em outras partes do mundo, pois a nossa água já ferveu. Estamos Sem Ar.

2. Impunidade

 João Alberto da Silveira, espancado até a morte em 19 de novembro 2020, em frente a uma loja de uma rede de hipermercados, multinacional, no Rio Grande do Sul. Estamos falando antes de qualquer julgamento, de um ser humano, que também era negro e de classe social não privilegiada.

João Alberto, o Beto: Negro, estava de boné e jaqueta…

Para a Doutora em psicologia social e institucional Fernanda Bassani: “Aquele sujeito negro, de boné, com aquele tipo de jaqueta, ele não é mais entendido como cliente. Ele é entendido como ameaça, ele é associado ao estereótipo de uma pessoa que ou vai roubar, ou vai causar algum tipo de transtorno no supermercado”.

De quem são as responsabilidades pelo ocorrido em frente a uma empresa de grande porte, multinacional? 

Onde estamos falhando? Empresas tem programa de D&I apoiado em política, mas na prática, quando chegamos na ponta do atendimento,a ação não representa o discurso.

Leiam: http://sitramico-rj.org.br/2020/11/23/racismo-e-morte-no-carrefour-sao-a-ponta-de-um-iceberg-envolvendo-multinacionais/

3. O Cliente nem sempre tem razão

Em 15.11.2020, Bruno Mendes, gerente de uma loja do Ponto Frio, no shopping de Governador Valadares (MG), estava em sua atividade habitual, quando “um casal de idosos entrou na loja e perguntou pelo gerente do estabelecimento. Ao saber que era o Bruno, a idosa falou com o marido que era “inadmissível que um negro gerenciasse uma loja tão grande”.

E a esperança continua

Vamos, juntos, fazer a mudança do jeito mais estratégico possível, afetivo, empático, porque estão surgindo mais e mais aliados: 

  • Em 01/12/2020 foi criada a Frente Nacional Antirracista que fará a interlocução com o setor público, organizações empresariais e sindicais e 100 das maiores empresas do Brasil, com reivindicações de combate à discriminação racial. A ideia é defender a criação de Comitês Antidiscriminatórios Externos e Independentes que possam debater, organizar, implementar e fiscalizar mudanças pertinentes a uma agenda antirracista.
  • Esperança também, porque temos mentes como a de Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de administração do Magazine Luiza, que diz: “ é o mercado financeiro quem tem mostrado que promover diversidade nas empresas é também sinônimo de lucro. Na outra ponta, afirma, os consumidores estão exigindo engajamento e postura cidadã antes de fechar acompra.
  • Tomada de consciência a cada dia mais, de CEOs que estão empunhando a bandeira ESG como diretriz para as suas ações e
  • Porque novos ventos hão de remover o ranço escravocrata, em países que são referência para o mundo, e repercutirão em outras partes desse nosso planeta.

Por Jorgete Lemos, sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.