Uma grande parte dos profissionais hoje ativos tinha no máximo vinte anos na virada do milênio e, talvez nem lembrem que havia muita expectativa sobre o que seria o novo século.
A profecia “Até 1000 irá; de 2000 não passará” preocupava os místicos. Os usuários de Informática estavam preocupados com o fato de que os sistemas atualizavam automaticamente a data para o ano novo, sempre começando com 19XX. Como seria 2.xxx?
Muitos consultores de TI ofereciam serviços técnicos especialmente para atender às necessidades de adaptação dos aplicativos ao novo século. O mundo não acabou e, não houve colapso dos sistemas de processamento de dados.
Ao entrarmos na terceira década deste milênio temos razões muito mais importantes para nos preocuparmos. Mudanças aceleradas estão em curso e o impacto dos modernos recursos da tecnologia da informação nunca foram tão profundos. Os dispositivos eletrônicos adquiriram inteligência e integram todos os indivíduos numa imensa rede mundial, de baixo custo e alta velocidade.
A sociedade nunca mais será a mesma! Uma grande mudança nos costumes está em plena evolução, e promoverá importantes mudanças no modus vivendi da humanidade. O relacionamento entre as pessoas será, cada vez mais virtual, realizado através das redes sociais em vez de pessoalmente.
A Inteligência Artificial possibilitará a tomada de decisões através de análises sistêmicas, agregando conhecimentos produzidos ao redor do mundo e, processando enormes volumes de informações, criando sinapses em segundos, à disposição de quem quiser (souber) consultar.
As atividades sociais, sejam econômicas, financeiras, jurídicas, médicas, escolas e, outras terão que se adaptar ao novo modelo de interação. As agências bancárias, o comércio de produtos padronizados para uso doméstico ou pessoal, os negócios entre empresas e, até a prestação de alguns serviços serão, na próxima década, digitalizados, reduzindo a intervenção humana.
As possibilidades de produzir alimentos em áreas hoje inférteis e, aumento de produtividade nas áreas cultivadas trará mais oferta, a menor preço. As novas matrizes energéticas (eólica, solar, hidroelétricas de superfície e, de aproveitamento das ondas) levarão progresso a um enorme contingente economicamente inativo, aumentando o consumo, promovendo uma espiral econômica positiva, aumentando a geração de riqueza no mundo.
Haverá, com certeza, redução de demanda por mão de obra de média e baixa qualificação, mas como já afirmei, a criação do conhecimento é privilégio da mente humana e a demanda de especialistas será crescente. Nesse cenário haverá mais demanda por serviços pessoais e expansão do mercado de entretenimento como viagens, hotelaria, restaurantes entre outros, compensando a redução da demanda de mão de obra de outras áreas.
Em termos sociais se observa um movimento lento, mas constante, do nível de relacionamento interpessoal, sem fronteiras nacionais, sem barreiras de gênero, cor e, até de idioma viabilizado pelo acesso aos recursos de dispositivos eletrônicos accessível a todos. Teremos, naturalmente, o fim do analfabetismo, a difusão dos conhecimentos através das redes sociais e, a irreversível inserção social a nível mundial. A sociedade, em função dos crescentes movimentos será levada aos poucos, a uma participação mais igualitária em termos de gênero e raça.
Mas, o que tem o RH a ver com isso tudo?
A meu juízo, tem tudo a ver, uma vez que todas as empresas deverão se adaptar às novas tecnologias e condições de mercado, o que obrigará profundas mudanças organizacionais, novos planos de cargos e salários e, uma participação muito mais proativa da Diretoria de RH.
Uma boa parte da gestão dos negócios será ainda mais dispersa na rede, reduzindo ocupação e aglomerados de pessoas nos grandes centros. As sedes sociais (head quarters) serão reduzidas e movidas para áreas menos congestionadas.
Na produção industrial e na agroindústria, a automação robotizada e operada à distância reduzirá ainda mais a necessidade de intervenção humana. Como já está ocorrendo, haverá uma grande redução de mão de obra no chão das fábricas e no campo da agroindústria, aumentando a produtividade e, reduzindo os custos.
A distribuição será, cada vez mais, planejada em função do mercado consumidor, criando-se redes de transporte e de armazenamento através de prestadores de serviços de logística terceirizados, reduzindo os custos e a distância entre o produtor e o consumidor. O uso de drones será adotado no trajeto dos domicílios próximos, o que cria uma nova indústria e, insere uma nova especialidade a ser capacitada.
O nó górdio dessa equação econômica está no tempo necessário a recuperação do mercado consumidor afetado pelo desemprego decorrente da redução da demanda por mão de obra de baixo ou médio nível, apesar da redução de custos. Visando desatar esse nó e acelerar o processo de recuperação econômica, profundas modificações na legislação trabalhista foram introduzidas recentemente no Brasil.
As limitações de uma CLT ultrapassada foram removidas A Lei 13.467/2017 introduziu a flexibilização e adequação das condições segundo os interesses das partes contratantes e, a nova lei de Liberdade Econômica (13.874 de 20/09/19), abre novas perspectivas no relacionamento empregado/empregador viabilizando acordos e contratos de trabalho individuais sob medida para as novas situações de trabalho em casa, em horários flexíveis, nos fins de semana, em tempo parcial e, assim por diante.
A Medida Provisória nº 905/19, lançada há dias (Programa Verde Amarelo) tem o objetivo de estimular a criação de 4 milhões de vagas de emprego entre 2020 e 2022 para os jovens de 18 a 29 anos que ainda não conseguiram emprego registrado em carteira. O programa já está valendo, embora dependa do aval do Congresso. A empresa ganha desoneração na folha e a redução no custo da mão de obra fica entre 30% e 34%, conforme apresentação do Ministério da Economia, que prevê a criação de 1,8 milhão de vagas até 2022.
Vale lembrar que a reforma da previdência e, as privatizações em curso mudam o cenário econômico, dando maior segurança aos investimentos no Brasil, o que também deve contribuir para reduzir o desemprego.
Cabe, portanto, aos gestores de RH avaliar junto aos demais gestores, as estratégias viáveis e necessários para a empresa aproveitar as oportunidades crescimento, ajustando suas operações à nova era.
Por Vicente Graceffi, consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.