De forma geral, ainda, que nem sempre conscientes, estamos condicionados a acreditar que a guerra é a solução para vários problemas, principalmente os que consideramos grandes (embora a utilizamos para resolver os pequenos também). E o mesmo comportamento pode ser observado em algumas equipes de RH.

Explicando de forma resumida, fazer com que o outro faça o que queremos pela força, pressão e/ou penalização é, quase sempre, um comportamento belicoso. E, para isso, nos juntamos em grupos opostos para termos mais força e sucesso na guerra. Assim criamos uma narrativa poderosa e perigosa: somos nós contra eles.

Para acabar com a guerra precisamos acabar com o “nós e eles”

Entretanto, para acabar com a guerra precisamos acabar com “nós e eles”, com esta narrativa que justifica que somos diferentes, que nos desumaniza, e que é um campo fértil para justificar a violência, a indiferença e o desamor.

Por exemplo, dizemos: Os russos estão atacando os ucranianos. Esta frase não é verdadeira e gera mais guerra. Não podemos cair neste julgamento, que alimenta acusações, generalizações e violência. Os russos não podem ser reduzidos a cópias do Putin; os norte-americanos não podem ser reduzidos a cópias do Biden; os brasileiros não podem ser reduzidos a cópias do Bolsonaro. Os muçulmanos já sofreram dessa injustiça alguns anos atrás.

Não são os russos que estão atacando os ucranianos. É o governo da Rússia, que neste momento tem o Putin como o seu principal comandante, que, juntamente com parte dos seus militares, invadiu a Ucrânia. Não devemos fazer generalizações e “castigar” (ou se vingar de) todos os russos. Não estou aqui criticando as ações de pressão ao Putin, mas o mindset que está por detrás de parte delas. As ações e sanções, que muitas vezes são necessárias, precisam nascer de critérios claros e justos, sem exageros e desrespeitos. Definitivamente não é algo fácil e simples, pois, como já apontei, estamos condicionados.

Como isso se aplica ao RH?

Alguns RHs, às vezes, adotam o mesmo mindset. É a empresa ou o RH versus os colaboradores, versus o sindicato, versus os líderes. Embora as ações busquem sempre levar uma imagem de humanizadas, algumas discussões que presencio/ei trazem este condicionamento do “nós e eles”. Lógico que na guerra atual estamos falando de níveis muito maiores de violência, mas o meu foco é na base do problema (o pensamento/crença “nós e eles”) e como o RH deve estar atento para evita-la e promover a quebra desta negativa lógica, quando existente.

Então, como ir além? O primeiro passo, como sempre, é admitindo a sua existência. E isso se faz tanto com a auto-observação de cada um (com atenção nos pensamentos e narrativas internas) como durante as conversas, reuniões e tomadas de decisões, percebendo os discursos e lógica que dão sustentação a cada postura e escolha. O simples foco nestes aspectos já produz o início da transformação, tirando força da sua influência e gerando um ambiente com mais paz e menos guerra. Obviamente que isso exige humildade e força de vontade, que tem na liderança o seu primeiro referencial.

Você percebe esta lógica em você? E na sua equipe de RH? Se quiser, comentários e exemplos são bem vindos no [email protected]

Eduardo Farah é sócio da Invok e professor na FGV. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.