Quem nunca perdeu o sono, o ânimo e até o apetite devido às contas que se acumularam no final do mês? Uma pesquisa realizada pela Onze, com 1.535 trabalhadores de empregos formais, mostrou que 71% dos brasileiros apontam o dinheiro como principal fonte de preocupação, à frente de motivos como violência e saúde (mesmo em meio à pandemia). O fato é que a única coisa que conseguimos pensar quando estamos com um problema financeiro é o que faremos para resolvê-lo.

A preocupação excessiva com o dinheiro leva ao que chamamos de estresse financeiro, um mal silencioso, que prejudica a vida pessoal e profissional. As suas consequências estão, cada vez mais, recebendo a atenção de empresas pelo mundo e essa é uma importante tendência para o mercado brasileiro.

Outro estudo realizado pela Salary Finance (empresa de benefícios financeiros do Reino Unido), em 2019, identificou que os profissionais com algum tipo de aflição financeira têm cinco vezes mais chances de perder prazos no trabalho, quatro vezes mais probabilidades de apresentar baixa performance, além de terem chances triplicadas de vivenciarem crises de ansiedade ou sofrerem de depressão.

É aí que a questão financeira deixa de ser um problema exclusivamente pessoal para se tornar uma dor de toda a empresa, em especial, do setor de recursos humanos. Compreendendo esse impacto individual e coletivo começamos a entender porquê a saúde financeira deve ser uma prioridade para o RH.

A vida financeira desequilibrada prejudica a produtividade, aumenta os índices de presenteísmo e absenteísmo nas organizações, gera conflitos de relacionamento e causa inúmeros problemas de saúde (física e mental).

Traduzindo em números, segundo a mesma pesquisa da Onze, das 71% das pessoas que estavam preocupadas com dinheiro, 25% disseram que precisam resolver pendências ao longo do dia, 35% perdem o foco no trabalho por conta das preocupações, 14% ficam mal-humoradas e impacientes com colegas de trabalho e 45% perdem o sono pensando nas finanças. Além de influenciar o clima organizacional, tudo isso tende a aumentar o turnover e gerar mais custos com demissões, recrutamento de novos funcionários e treinamentos.

É importante destacar que o bem-estar financeiro não está necessariamente ligado ao quanto você ganha, mas a como você lida com o que ganha, ou seja, hábitos de consumo e planejamento do orçamento pessoal. Dessa forma, investir em saúde financeira não é simplesmente dar um aumento para um funcionário ou ensiná-lo os conceitos básicos sobre finanças. Na verdade, diz respeito a ajudá-lo na prática a solucionar problemas financeiros.

Como fazer isso? A empresa pode contribuir para a saúde financeira dos colaboradores de diversas maneiras. É possível ofertar ferramentas de gestão financeira, orientação em investimentos, planos de previdência, demonstrar estabilidade no emprego, além de promover eventos que estimulem o debate sobre poupar e se organizar em relação ao dinheiro.

Vale lembrar que falar de dinheiro ainda é um assunto que a maioria dos brasileiros prefere evitar e está cercado de tabus e dificuldades. Nesse sentido, os RHs podem exercer um importante papel ao abraçar a missão de trazer o tema à tona. Isso fica ainda mais evidente quando levamos em consideração que 77% dos brasileiros vêem no próprio empregador a instituição mais confiável para recomendações financeiras (segundo uma pesquisa da Edelman).

Um caminho para isso é, em primeiro lugar, compreender a situação de cada funcionário individualmente. Feito isso, o próximo passo é educá-los financeiramente. Por fim – e mais importante – é essencial apoiá-los durante essa trajetória, deixando o canal totalmente aberto para dúvidas e outros questionamentos.

Um colaborador bem remunerado, motivado, e que trabalhe em um ambiente adequado irá produzir muito melhor que outro profissional que esteja preocupado com o pagamento de dívidas ou com medo de a qualquer momento perder seu emprego. É crucial pensar nisso, afinal, todas as empresas estão buscando a melhor performance dos seus colaboradores e possuem um dever ético com o bem-estar de seus funcionários.

No mais, impulsionar a consciência financeira do time traz benefícios que vão muito além da performance profissional. É uma ação que gera impacto na vida das pessoas e transforma a realidade brasileira, tão impactada pelo endividamento das famílias. No fim do dia, todos ganham – e as empresas que compreendem esse propósito geram verdadeiras transformações estruturais.

Antonio Rocha, CEO e cofundador da Onze, fintech de saúde financeira e previdência privada. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.