Há um filme antigo chamado “Teoria do Amor”, que narra a preocupação de Albert Einstein com o futuro e a vida amorosa da sua sobrinha, Catherine Boyd. O famoso cientista faz de tudo para que ela fique com quem ela amava, um mecânico de nome Edward. Uma das cenas que mais me chamou atenção foi quando Einstein, já doente, na cama, pede ao jovem que lhe pegue um objeto em seu paletó. Edward percebe que é uma bússola.

Einstein, então, diz ao jovem mecânico:

– Quero te dar de presente. Para mim, é muito valiosa, pois essa bússola ganhei de meu pai quando tinha apenas 6 anos e ela sempre me intrigou porque tinha aquela seta que apontava na mesma direção.

E continua sua fala:

– Fique com essa bussola, ela é um símbolo, pois você é uma pessoa boa, de princípios sólidos, para que sempre se lembre de mantê-los firmes e os utilize com consciência para tomar as suas decisões. A seta da bússola pode te ajudar, como me ajudou em toda a minha vida a manter a direção certa, das escolhas usando como base os seus valores.

A ideia de uma bússola, como analogia, me fascina, por indicar sempre a mesma direção, a dos nossos valores e, em outra instância, dos valores adotados pelas organizações.

No cenário dinâmico e complexo no mundo dos negócios, ou por necessidade ou por consciência, as empresas estão cada vez mais cientes da importância de terem uma marca forte, uma identidade robusta, uma marca que preza por sua reputação, definindo padrões de conduta a ser seguida por todos os seus colaboradores e apoiadores.

Dentro desse contexto, a definição de valores empresariais, alinhados à cultura organizacional emerge como um dos principais fatores para o sucesso a longo prazo, impulsionando não só o crescimento, mas também a estabilidade de uma organização.

Qual a importância dos valores empresariais? Para que servem?

Os valores de uma organização definem padrões de conduta e atitudes dos envolvidos na empresa e desempenham um papel importante na definição estratégica e formação de sua identidade. Portanto, precisam estar em sintonia com a cultura interna das empresas. A cultura extrapola meras práticas; ela é uma expressão dos valores compartilhados, comportamentos e crenças que constituem a essência da organização. Podemos sintetizar dizendo que é sua identidade.

A harmonização dos valores, que praticamente definem a cultura, não só aumenta a motivação e o envolvimento dos colaboradores, mas também cria um ambiente no qual todos se sentem valorizados, pois contribui para um ambiente de trabalho positivo e produtivo, além de gerar uma equipe mais comprometida e resiliente.

Outro benefício é que as empresas que fundamentam seus valores na cultura, não apenas atraem e mantém talentos, desde que também haja o alinhamento dos valores da empresa com os valores dos colaboradores que se identificam com os valores da organização e demonstram um compromisso genuíno com uma cultura sólida, gerando uma vantagem competitiva no cenário também competitivo do mercado de talentos.

A equiparação de uma cultura organizacional sólida e bem-estruturada é com uma constituição para uma nação, a carta magna que se transforma em uma bússola ética, influenciando escolhas estratégicas, ações diárias e interações com clientes e parceiros, e quanto mais forte for essa consistência no convívio com esses valores, cria-se um ambiente de confiança e integridade, aspectos essenciais para a construção de relacionamentos sólidos no mundo corporativo.

São muitos os desafios para se rever ou implementar uma nova visão de cultura. Tudo pode ser iniciado com uma declaração dos principais líderes do propósito cultural, desde que possa inspirar os colaboradores a desafiarem os próprios limites e gerarem um desempenho excelente e consistente.

Conforme Matt Maybery, em seu livro “Cultura é o Caminho”, renovar a cultura corporativa requer preparação e planejamento. Definir uma visão de sucesso requer não apenas comunicar a visão da sua cultura, mas também pintar continuamente uma imagem clara de onde a empresa está, para onde está indo e como irá chegar lá.

Afirma ainda que uma nova cultura deve abordar seis pontos problemáticos que podem prejudicar a produtividade, que são:

1 – Má preparação e planejamento;

2 – Falta de entendimento;

3 – Deturpação de velhas mentalidades e comportamentos;

4 – Estratégia de comunicação ineficiente;

5 – Ausência de mudanças comportamentais compartilhadas;

6 – Não destacar exemplos positivos.

Renato Klein, em uma das sua magníficas palestras, disse que “a cultura organizacional é a base que traz a herança, valores e crenças que estabelecem a direção e o rumo de uma organização”. Continua dizendo: “Perderam o sentido da alma da empresa quando se perde o núcleo e o propósito, e é justamente aí que muitas empresas começam a minguar”. Acrescenta ainda que uma empresa que não tem cultura, não consegue formar sucessores que mantenham o nível e a credibilidade construída por muitos anos de esforço e empenho de seus fundadores, que emprestaram seus valores. Ele finaliza dizendo que “não se resolve problemas de conflitos internos se não for na raiz, na alma da empresa. Este é o segredo do trabalho”, conclui.

A definição de valores empresariais pela cultura organizacional vai muito além de uma estratégia de branding; ela representa a espinha dorsal que sustenta o sucesso a longo prazo. Empresas que compreendem e abraçam essa interconexão entre valores e cultura estão mais bem posicionadas para enfrentar desafios, atrair talentos e prosperar em um ambiente empresarial em constante evolução. Investir na construção de uma cultura sólida é, sem dúvida, investir no próprio futuro empresarial.

Reinaldo Passadori, Professor de Oratória e Escritor, Mentor, fundador e CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação. Adaptação do seu livro ‘Quem Não Comunica Não Lidera’ – Ed. Passadori. É um dos colunista do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.