Um filme sempre facilita que nos projetemos a uma realidade e que vivamos na mente aquela situação. Isso pode ajudar muito em um processo reflexivo. O filme “Não olhe para cima”, que está na Netflix, é uma dessas oportunidades.

Ele traz uma história que ilustra o que o negacionismo faz. Mostra que quando negamos aquilo que está acontecendo, obviamente em algum momento pagamos o preço por essa negação. E isso pode ser usado em diversas situações ou realidades, inclusive a que estamos vivendo hoje no Brasil.

Como as pessoas de RH estão olhando a realidade?

Aqui eu quero abordar essa realidade em relação às pessoas que trabalham nas áreas de RH. A minha reflexão é: como as pessoas que são responsáveis por outras pessoas dentro das empresas estão vendo o que está acontecendo nesse momento?

Para ilustrar, um cliente meu, com bastante lucidez, uma vez me disse algo como: “Não adianta fazer um monte de ações dentro da empresa para melhorar a qualidade de vida, se as pessoas continuam trabalhando 11, 12 ou mais horas por dia.”

É muito importante ter consciência da realidade e endereçar soluções que abordem o ponto necessário. Podemos falar isso também sobre a natureza do trabalho, sobre o quanto que um trabalho está conectado com o propósito da pessoa. Ou como o trabalho vai além de algo mecânico, trazendo para a pessoa o papel que ela desempenha para uma empresa e um mundo melhor. Mas isso tem que ser de verdade.

São muitas as reflexões que advém quando eu encaro a realidade. Óbvio, nós não vivemos em um mundo perfeito, e eu não sou adepto de soluções fantasiosas, mas é preciso encarar a realidade, e entender, de verdade, o que está acontecendo. Essa é a base de uma boa decisão.

E aqui eu me inspiro no nome do filme traduzido em português, “Não olhe para cima”. Vamos olhar para cima, entendendo que “para cima” é o melhor lugar que a gente pode ir. Com ciência, com competência, com paciência, mas em direção “para cima”.

Como perceber a realidade?

Uma questão importante é sobre o que eu posso fazer para perceber a realidade. Lembro Einstein, que dizia: “não é possível resolver um problema com o mesmo nível de consciência que criou o problema”. Então, é fundamental que as pessoas invistam tempo e recursos para perceberem de maneira mais abrangente a realidade, para então encontrar as soluções possíveis.

Eu falei aqui das pessoas de RH, mas temos que trazer todas as pessoas da empresa para essa realidade, e principalmente a alta liderança, que é quem tem mais poder na tomada de decisão.

Nesse ponto eu vejo ainda uma certa incoerência, pois se fala muito, mas vejo que se faz pouco para ampliar a consciência das pessoas nas empresas. Esse não é um processo rápido, não é um processo indolor, porque muitas vezes é necessário romper padrões, crenças, formas pré-estabelecidas. Isso exige um certo grau de confiança, e de risco. Exige também um esforço para poder criar esse entendimento, para desenvolver habilidades que permitam ampliar a percepção e se enxergar melhor a realidade.

Uma reflexão que eu gosto sempre de fazer para mim mesmo é o quanto que eu, de verdade, estou comprometido em ampliar a minha consciência e ser capaz de olhar para cima? O que eu tenho feito de concreto para isso? Acho que esta reflexão também pode te ajudar.

Eduardo Farah é sócio da Invok e professor na FGV. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.