“Eu tenho um sonho: Ter as pessoas não negras incomodadas com a desigualdade social imposta às pessoas negras, pretas e pardas, e agindo como antirracistas, genuínos.” Jorgete Lemos

Amigos, conversaremos sobre três faces de um ser humano que, secularmente, vem recebendo das sociedades ações de:

  • “Apagamento”,
  • Incompreensão premeditada para justificar o injustificável e
  • Reações negacionistas, supremacistas e crimes de ódio, em escala crescente, por estarem acessando espaços que lhes eram inacessíveis.

Conversaremos sobre a mulher negra brasileira.

  1. Mulheres Negras Cientistas
Mulheres Negras - IMG I

Fonte: https://www.jornaldaki.com.br/post/mulheres-negras-nas-ci%C3%AAncias-tornando-as-ausentes-presentes- por-lourdes-brazil .Mulheres negras nas ciências: tornando as ausentes presentes, por Lourdes Brazil

 

Mês de fevereiro, quando comemoramos o “Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência”, 11.02, poderia ser a ocasião para o reconhecimento do potencial humano valorizado e, aqui, poderíamos iniciar apresentando uma relação dessas mulheres das quais muito nos orgulhamos, por serem referências e porque foram pioneiras, gloriosas.

Ah, como deve ter-lhes custado o pioneirismo em posições ocupadas, predominantemente, por homens heteros, eurocêntricos, machistas, sexistas

Reverenciamos aqui, na sequência apresentada na foto:

1. Profª Drª Sônia Guimarães:

Professora no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial, São José dos Campos, São Paulo, Brasil; 1ª mulher negra, brasileira, doutora pela University of Manchester Institute of Science and Technology. Compõe, há 24 anos, o corpo docente do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA). Ela atua na área de física aplicada, com ênfase em Propriedade Eletróticas de Ligas Semicondutoras Crescidas Epitaxialmente, e já conduziu pesquisas sobre sensores de radiação infravermelha.

Em 2021, foi eleita Professora Emérita pelo CIEE Centro de Integração Empresa Escola, recebendo o Troféu Guerreiro da Educação Ruy Mesquita. É fundadora/CEO do movimento  “Avanço Brasil Negro”, entre outros títulos.

2.Enedina Alves Marques: Primeira mulher negra a se formar em engenharia no Brasil. Nascida em 1913, de família pobre, ela cursou engenharia e se graduou aos 30 anos no Instituto de Engenharia do Paraná (IEP).

3.Jacqueline Goes de Jesus: Biomédica, doutora em patologia humana e pesquisadora brasileira. Distinguiu-se por ser a biomédica que coordenou a equipe responsável pelo sequenciamento do genoma do vírus SARS-CoV-2 apenas 48 horas após a confirmação do primeiro caso de COVID-19 no Brasil.

 4.Viviane dos Santos Barbosa: Bacharel em engenharia química e bioquímica pela Delft University of Technology, na Holanda. Mestre em nanotecnologia na mesma instituição. Cursou química industrial por dois anos na Universidade Federal da Bahia, mas, nos anos 90, decidiu ir para Holanda. Lá desenvolveu uma pesquisa com catalisadores (que aceleram reações) através da mistura de Paladium e Platina. O projeto foi premiado em 2010, durante a conferência científica internacional, na cidade de Helsinki, na Finlândia, onde competiu com outros 800 trabalhos.

5. Anita Canavarro: Professora de química na Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em Ciências pela Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ). Fundou, em 2009, o grupo de Estudos sobre a Descolonização do Currículo de Ciências (CIATA) do Instituto de Química da Universidade Federal de Goiás (CIATA-LPEQI/UFG) com a proposta de “ descolonizar” o estudo de ciências.

É presidenta da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as (ABPN), que busca promover a superação do racismo por meio da educação, defendendo e zelando pela manutenção de pesquisas com financiamento público.

6. Simone Maia Evaristo: Bióloga e citotecnologista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Simone Maia é presidente da Associação Nacional de Citotecnologia (Anacito). É a única brasileira no quadro de membros ativo, como membro diretor da Academia Internacional de Citologia (IAC). Atualmente é supervisora na área de ensino técnico do Instituto Nacional do Câncer (INCA) e sua missão tem sido divulgar o papel do controle do câncer.

 7. Luiza Bairros: Uma das vozes mais respeitadas no combate à discriminação racial no Brasil. Compôs o Movimento Negro Unificado (MNU). Ativista negra foi ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).

Mestre em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutora em Sociologia pela Michigan State University (EUA). Graduada em Administração Pública e de Empresas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFGS), especializou-se em Planejamento Regional pela Universidade Federal do Ceará (UFC).

 8. Joana D`Arc Felix de Souza: Professora e cientista brasileira, recebeu o Prêmio Kurt Politzer de Tecnologia, na categoria “Pesquisadora do Ano”, em 2014. É docente e pesquisadora na Escola Técnica Estadual Prof. Carmelino Corrêa Júnior, em Franca, cidade do interior de São Paulo.

Apagamento (Epistemicídio)

É o que a sociedade tem oferecido em retribuição a essas mulheres.

  1. Mulheres Negras “Nervosas”

Mulheres Negras - IMG II

Em recente episódio em um reality da tv brasileira, a analista de marketing Tina Calamba, miss no seu país, Angola, foi ofendida pela jogadora de vôlei Key Alves (outra participante do reality) que se aproximou de 3 participantes, homens, Gabriel, Cesar e Cristian, dizendo que “uma pessoa carente está querendo dar uns beijos”.

Eles não adivinham e ela revela que seria a Tina. “Quem quiser, ela falou que quer”, diz Key.

“Ah, não, está maluco?”, reage Cristian, o mesmo que disse ter um “topete invejável” e relatou um episódio em que todos o olhavam por estar sem camisa, ser alto, “branco, loiro, do olho claro”.

Tina vem de um país que passou por guerras civis e seus destroços. Teve seu pai morto em uma das guerras. Sobreviveu e está buscando seu espaço, como qualquer um dos demais participantes do tal programa.

“Mas, ela se posiciona de forma agressiva com as pessoas” e por isso foi indicada à eliminação e foi eliminada pelo público.

A dor da mulher negra que sente a rejeição de grupos em que faz parte, mas como parte dos minorizados, só pode ser contada pela mulher negra. Só ela tem o poder de fala.

As demais pessoas ficam como expectadoras e julgadoras baseadas em valores racistas, sem qualquer possibilidade de, por empatia, entender o porque da fala carregada de dor, ao posicionar-se em ambientes hostis.

Ambientes, mesmo que numericamente não sejam majoritariamente compostos por brancos, mas onde paira o supremacismo, a negação da existência de racismo e que expulsam os minorizados, porque praticam o “Pacto narcísico branco”.

“Incompreensão premeditada para justificar o injustificável”

  1. Mulheres Negras Continuam Sendo Assassinadas!

Direitos das mulheres retrocedem em todo o mundo, inclusive no Brasil, diz relatório. Fonte: Universa, por AFP 14/02/2023

Os direitos das mulheres registram um retrocesso em todo o mundo, dos Estados Unidos ao Brasil, passando por Afeganistão e Polônia, alertaram nesta segunda-feira (13/02/23) várias organizações, que publicaram um relatório que pede a inclusão do tema no topo da agenda diplomática. Fonte.

Reforçamos: o tema precisa estar na agenda das organizações empresariais, sendo ensinado pelos profissionais de Gestão de Pessoas e Lideranças.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 2022, “62% das vítimas de feminicídio no Brasil são negras. Quando se analisa as vítimas de outros tipos de assassinatos violentos, esse índice passa dos 70%”.

Por que a cor preta é o alvo?

Gerações perdidas podem deixar um legado de respeito à mulher negra?

Enquanto circularem informações representando a mulher negra em serviços subalternos quer seja no lar ou em atividades do mercado de trabalho externo; mulher negra sendo fotografada torturada sob os pés de um policial e nada tendo como resposta efetiva, permaneceremos clamando pela sua adesão, profissionais que atuam com pessoas nas organizações empresariais, à ação de resgate dos Direitos Humanos e exercício da cidadania para todos, todas, todes.

Às mulheres negras: Reações negacionistas, supremacistas e crimes de ódio, em escala crescente, por estarem acessando espaços que lhes eram inacessíveis

Por Jorgete Lemos, sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.