Desde março de 2020, quando o vírus da Covid-19 passou a ser uma realidade no Brasil, além de ter que se acostumar com uma rotina na qual máscara e álcool em gel são itens indispensáveis, o brasileiro – conhecido mundo afora pela sua alegria contagiante, riso fácil e abraço acolhedor – precisou aprender a viver em um cenário no qual o distanciamento social passou a ser recomendado como uma das medidas para evitar o contágio da doença. 

A ordem passou a ser evitar reuniões, festas e qualquer forma de aglomeração, o que fez com que muitos brasileiros sentissem falta da acolhida que somente estar com aqueles que amam pode oferecer. Mas quem disse que esse contato não pode ser feito também a distância?

Com a campanha O Toque que Transforma e Inspira Conexões, a Nivea quer mostrar que tão importante quanto o toque físico está o que o diretor de RH, Juan Pablo Leymarie, descreve como “toque emocional”, que está relacionado à importância das pessoas se manterem conectadas, mesmo que estejam geograficamente distantes. 

Além disso, a empresa tem o objetivo de beneficiar mais de cinco mil pessoas, até 2025, por meio de ações que tragam o toque como agente de cuidado e transformação. Por meio de campanhas, redes sociais e produtos, a Nivea pretende conscientizar e alcançar a sociedade como um todo contando, entre outras medidas, com a colaboração de um time de influenciadores que inclui Paolla Oliveira, Preta Gil, Teresa Cristina, Ana Carolina Apocalypse e Alcione. 

E foi para falar sobre essa iniciativa, o modelo de gestão adotado antes e durante a pandemia da Covid-19 e, principalmente, sobre o propósito da empresa que o RH Premium Melhores Soluções para RH conversou com Leymarie. O argentino que trabalha há 17 anos na multinacional alemã Beiersdorf – que tem como carro-chefe de sua linha de produtos a marca Nivea – está em sua segunda passagem pelo Brasil. 

RH Premium: Para a grande maioria das empresas foi um desafio essa mudança abrupta que a pandemia trouxe. Quais foram as principais adaptações que a Nivea fez nesse novo cenário?

Juan Pablo Leymarie: Na pandemia nossa principal prioridade sempre foram as pessoas. Falamos assim: primeiro a segurança e a saúde das pessoas, que todo mundo se sinta seguro. Aderimos ao home office por conta da crise sanitária e até hoje trabalhamos de forma remota.  Foi um processo de adaptação, com a gestão preocupada em relação ao trabalhador, pois não queríamos colocar ninguém em risco, todos, cuja presença não fosse estritamente necessária presencialmente, estão trabalhando de casa – e o resultado foi muito bom, fomos melhorando e revisando o processo.

Na verdade, nós já vínhamos trabalhando com um modelo de, no mínimo, um dia por semana em home office. A Nivea foi uma das empresas que estava preparada para a pandemia, porque nossa organização já trabalhava nesse esquema. Foi um movimento muito bom do RH de forçar a organização a atuar dessa forma quando mudamos as políticas.

Pensamos em voltar em algum momento porque muitos funcionários pedem para que retornemos para estarem dentro do escritório e se reencontrarem com os colegas, porém, cada vez que falávamos nisso, a pandemia se agravava novamente. Dessa forma, sempre estamos avaliando a reabertura do escritório.

Mas, falando em geral, sobre o futuro do trabalho, vamos caminhar em um modelo híbrido. Não vamos falar “trabalhar de casa”, porque o colaborador terá a possibilidade de definir de onde ele vai trabalhar: pode ser de sua casa, de um coworking ou de algum outro lugar. Para isso, pretendemos definir quantos dias e como trabalhar, revisar as políticas e tudo o que requer ajustes para que isso ocorra, o que inclui preparar as pessoas para esse futuro do trabalho, essa relação, essa conexão tecnológica entre trabalho e como vamos assegurar para manter a essência de nossa companhia: o cuidado. Essas conexões são valores que fazem parte da cultura de nossa empresa. 

Como se deu a construção da campanha “O Toque que Transforma e Inspira Conexões” que traz a importância do toque humano para as relações sociais em um momento de pandemia em que vivemos a realidade do distanciamento social e que, por consequência, nos leva a evitar o contato físico?

“O Toque que Transforma e Inspira Conexões” foi uma ideia que pensamos em 2018, quando nem achávamos que existiria uma pandemia. Naquele momento começamos a nos posicionar sobre o que era importante para nós como empresa, a partir do toque. Começamos fazendo várias pesquisas com grupos de consumidores em vários países. 

O Brasil é um mercado muito importante para a Beiersdorf e para qualquer indústria cosmética, porque é um dos cinco mercados mais importantes do mundo para o setor. Nas pesquisas feitas aqui entendemos que o poder do toque era muito importante para questões fisiológicas e hormonais – com pessoas mais felizes por meio do toque na pele – e começamos a fazer diferentes pesquisas e estudos nesse sentido. 

No meio disso chegou a pandemia e entendemos que ainda assim, com distanciamento, essa questão do toque não passava apenas pela questão física, mas também pelo emocional – e decidimos que deveríamos seguir com toda essa trajetória que estávamos construindo. Demos, portanto, continuidade ao projeto que vínhamos trabalhando há alguns anos e entendemos que esse momento vai passar e sairemos muito mais fortes da pandemia. Foi algo que começou e demos passos muito seguros, certos, por meio de pesquisas e escutar nosso consumidor. Foi assim que começou, era algo que estava sendo trabalhado há algum tempo. 

Segundo o estudo “Percepções dos Impactos da Covid-19″, do Instituto Ipsos, que ouviu participantes em 28 países, o Brasil é o local onde as pessoas mais se sentem solitárias: 50% das que responderam à pesquisa têm essa sensação, mostrando que a solidão se mostra um aspecto muito presente na vida dos brasileiros. Como as empresas podem e devem cuidar dessa questão? Como ouvir os colaboradores e seus sentimentos? Você acredita que esse seja um papel da organização?

Não temos que medir esforços para cuidar de nossos colaboradores. Nos alinhamos e concordamos que temos um compromisso muito grande de ir além de disponibilizar serviços. Quando falamos de cuidar, que somos uma empresa de cuidado e cuidamos de nossos colaboradores, acho que temos uma jornada muito grande.

Ano passado, a primeira coisa que fizemos quando as pessoas começaram a trabalhar de casa foi deixar claro que queríamos acompanhá-las. Fizemos sessões de comunicação a cada 21 dias e acho que foi algo muito bom, no qual as pessoas, além de estarem em casa, a cada três semanas tinham a oportunidade de conversar com todos. O presidente falava, dando transparência, dizendo o que estava caminhando bem e onde deveríamos ter cuidado.

Além disso, nós, como RH, criamos um projeto chamado “Nosso Convite”, com o objetivo de convidar todos a estarem mais conectados e integrados por meio de diferentes atividades e iniciativas, nas quais queríamos que as pessoas, por exemplo, participassem com a família. Como integrar? Por exemplo, vou cozinhar com minha família e mostrar aos meus colegas. Vamos ver como faremos um concurso de desenho para os filhos dos colaboradores e isso foi gerando uma atração enorme. Criamos um conselho de “ninjas”. Quem eram as pessoas que tinham talentos desconhecidos na empresa? 

Quando você olha o resultado de negócios da Nivea do ano passado, além das preocupações, os ajustes que tivemos que fazer devido a pandemia, em um cenário de incertezas, tivemos um resultado muito além do que esperávamos. Isso é Nivea! Poderíamos dar vários exemplos, como conversas com psicólogos, mas sabendo quem e como precisam, conhecemos nosso público-alvo. Por isso volto a repetir: o resultado da companhia é a entrega e o engajamento dos nossos colaboradores, que foi um diferencial.

Qual é o principal propósito da empresa nesse novo cenário, além da conexão com as pessoas. O que vocês esperam para o pós-pandemia?

Nós entendemos que justamente nesse momento de transformação teremos que nos adaptar e continuar buscando a conexão entre as pessoas, os consumidores, fornecedores e colaboradores. Nosso propósito é ser uma empresa de cuidado que quer cuidar além da pele. Não só fazemos produtos para a pele, mas temos um sentido muito amplo de cuidado, que inclui aprender, ajustar e transformar essa organização para um futuro sempre muito aberto a escutar nossos colaboradores, entendendo que, como companhia, precisamos nos adaptar para seguir com isso.

Estamos trabalhando muito o propósito individual das pessoas dentro dessa jornada e tem sido um chamado muito importante. Pensando nisso, temos feito “Círculos de Propósito” [projeto que propõe atividades em grupos, por meio de reuniões online, para conversas, trocas de experiências e reflexões sobre objetivos pessoais de transformação] para o qual convidamos grupos de cinco ou seis colaboradores para realmente estar perto. Isso ajuda na questão do engajamento e faz com que ele não se sinta sozinho, que se entenda bem com esse propósito individual, porque entendemos que as pessoas que conhecem seus propósitos são muito mais felizes. 

Por Elígia Aquino Cesar

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