Desculpa não apaga a dor é uma frase autoexplicativa, Mas…

Pedidos de desculpas após ofensas às pessoas, normalmente aquelas que estão nos grupos minorizados, tornaram-se algo que, de tão corriqueiro, perdeu o seu significado, que seria o de atenuar a dor causada. Banalizou-se.

Pedir desculpas é uma boa atitude, mas se não vier acompanhada de um genuíno arrependimento e de ações para transição da atitude racista para a antirracista, não funciona. Não adianta mudar o comportamento. Precisa mudar a atitude.

A questão é mais profunda. Mudar atitude é um processo lento que requer a transição entre dois estágios, nos quais passamos por um processo interno e subjetivo, de reorientação psicológica; cada pessoa o vivencia de uma forma diferente.

Já a mudança é um evento, gerada por um fator externo e objetivo, ela atinge de forma relativamente rápida a um grupo de pessoas.

Alguns pedem desculpas depois de assassinar jovens negros, depois de estuprar, violentar mulheres ou cometer uma injúria racial. Mas, a dor para quem ama os atingidos e para quem sofreu as agressões, estas são para sempre. Eu sou protagonista dessas situações de dor.  É meu lugar de fala!

Racismo

Racismo não é : Distúrbio mental, brincadeira…

Racismo é uma ferramenta de dominação e organização da sociedade que precisa ser combatida diariamente, com letramento racial, políticas públicas e um esforço conjunto entre todos as partes da sociedade. Entre essas partes destacamos aquela que detém o poder de espaço e tempo da vida das pessoas: as nossas organizações empresariais e consequentemente,  seus líderes e profissionais de gestão de pessoas.

Racismo Mata

Estamos impactados com o assassinato em São Paulo, 27/03, de uma mulher, professora, 71 anos, que foi informada pelo assassino, de 13 anos, que se vingaria dela, após ela ter interferido numa briga em que o assassino havia ofendido um colega de escola, chamando-o de macaco.

Escolas são espaços que concentram parte da sociedade e tudo de bom ou mau que nela acontece e também, onde a inexistência de planos integrados focados no bem estar e cidadania não são priorizados.

As Desculpas dos Racistas

Racistas precisam atribuir culpa a alguém ou a alguma coisa, pois não reconhecem a sua responsabilidade. Então, atribuem culpa à:

Patologia:

Não vale usar o argumento da doença mental para justificar atitudes racistas, pois os doentes não são racistas e sim, pessoas que precisam de tratamento médico.

Brincadeira:

A culpa é atribuída a aquele que não aceita a “brincadeira”!

Ao justificar como “brincadeira” , a culpa passa a ser da vítima, que não sabe brincar… Mas, essa é uma das estratégias mais perversas das quais os racistas lançam mão. Isso é Racismo Recreativo.

“O humor racista opera como uma espécie de pedagogia racial …  é preciso dizer aos negros, que não podem demandar o mesmo nível de respeitabilidade social dos brancos… Piadas reforçam a ideia de que os não negros são superiores.  O humor racista é estratégico, reproduz estereótipos que servem para legitimar estruturas de poder”.

Dr. Adilson José Moreira . Racismo Recreativo. Humor  racista e a naturalização da violência racial no Brasil. 

Parentesco Negro:

Ao argumentar que – até tem um parente negro, o racista quer justificar que seria impossível ser racista. Mas, o afeto a este parente negro não impedirá o racismo com outras pessoas negras. Aqui a culpa é daqueles que o interpretam mal.

Desconhecimento:

A culpa é do sistema de ensinoMas, sabemos que o racismo não é só pela falta de conhecimento e sim, por uma estrutura de poder que organiza a sociedade e da qual o racista extrai privilégios.

Miscigenação:

Existem pessoas que ainda negam a existência do racismo no Brasil, dizendo que é um país miscigenado, comparando-o aos países onde houve segregação explícita e que aqui, não houve segregação.

Sim, temos o pior tipo de segregação – a implícita.

Ref.:adaptado de @beabafro

Racismo - Desculpa não Apaga a Dor - IMG II

Somente se começarmos agora, com as crianças, teremos resultados para as próximas gerações

Investimento na 1ª Infância, 0-6 anos.

Parece óbvio, mas não é. Hoje algumas empresas, de ponta, investem fortemente na educação corporativa, inserindo a aprendizagem sobre valores, cultura inclusiva, junto ao seu público interno cuja maioria está na idade adulta. Ótimo. Estão desenvolvendo ação corretiva e em alguns casos, ação promocional, no âmbito dos valores. O que as empresas podem fazer, paralelamente, é investir na educação da 1ª infância, 0-6 anos, demonstrando ação proativa focada na sustentabilidade.

James Heckman, Prêmio Nobel de Economia em 2000, reverenciado em sua área, a economia, e por seus estudos sobre educação na 1ª infância, concluiu que: o investimento na 1ª  infância é uma estratégia eficaz para o crescimento econômico.

Sabe-se que é nessa etapa entre o nascimento e os seis anos de idade que o cérebro se desenvolve mais rapidamente e é mais maleável. Assim, é mais fácil incentivar habilidades  cognitivas e de personalidade – atenção, motivação, autocontrole e sociabilidade, necessárias para o sucesso na escola, saúde, carreira e na vida.

Nessa etapa da vida as pessoas aprenderão a respeitar as características humanas e aplicarão esse conhecimento ao longo da vida mesmo que lhes digam o contrário”.

Fonte: https://rhpravoce.com.br/colunistas/diversidade-inclusao-equidade-o-importante-e-o-urgente/ 

Como Ter uma Educação Antirracista? 

  1. Convivência inter-racial:

Desde a 1ª infância, manter a convivência entre brancos e negros, desde que não seja, apenas, a relação de subalternidade na qual a criança é habituada a ver a pessoa negra como sua serviçal.

  1. Letramento racial:

Vivemos sob um intencional apagamento (epistemicídio) da história, da cultura, da contribuição do saber negro para o desenvolvimento da sociedade. Esse ocultamento deliberado mantém a percepção de menor valor sobre as pessoas negras.

  1. Mídia:

Apresente personagens que protagonizem exemplos positivos, de sucesso, bons valores e princípios. Cuide para não liberar imagens e conteúdos que ridicularizam a pessoa negra.

  1. Privilégio:

Aqui está um ponto crítico para o sucesso dessa educação antirracista:  preparar as crianças para o entendimento dos seus privilégios, enfatizando a inexistência da sua culpa, mas a responsabilidade pela ação transformadora que negue o racismo.

  1. Exemplo:

Nós somos o exemplo para as crianças. Que legado estamos deixando para as futuras gerações? Estamos reproduzindo os valores que nossos antepassados nos ensinaram como a única verdade, a mesma que lhes foi ensinada?

Racismo - Desculpa não Apaga a Dor - IMG III

Mudança de Modelo mental para algumas pessoas das gerações atuais não funciona, pois falta o querer.

Mas, Não temos tempo a Perder.

Vamos ter que conviver com os negacionistas, racistas, representados por percentual significativo da população brasileira. Aqueles que não querem se dar ao direito de experimentar pensar diferente do que aprenderam há décadas e que continuam negando a existência de seus privilégios e a realidade deste País: racista.

Mas, já avançamos graças à atuação daqueles que trocaram, trocam, suas vidas, seu tempo, recursos materiais e imateriais, por esse ideal realizável:

Ter as pessoas não negras incomodadas com a desigualdade social imposta às pessoas negras, pretas e pardas, agindo como antirracistas, genuínos.”

Por Jorgete Lemos, sócia fundadora da Jorgete Lemos Pesquisas e Serviços – Consultoria. É uma das Colunistas do RH Pra Você. O conteúdo desta coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.