“As paixões são todas boas por natureza e nós apenas temos de evitar o seu mau uso e os seus excessos” (René Descartes, filósofo francês, 1596-1650)

Somos fruto da miscigenação de uma enorme diversidade de origens e culturas, e mesmo quando conservamos aspectos específicos da descendência, adquirimos o senso de neutralidade próprio da brasilidade.

Todavia, os chocantes eventos político sociais destes tempos causam impactos emocionas importantes que, mesmo quando não nos afetam diretamente, perturbam o nosso estado de espírito.

Apesar de estarmos longe dos conflitos da Europa e do Oriente Médio, acredito que os gestores de pessoas precisam estar preparados para prevenir, e eventualmente sanar problemas de relacionamento decorrentes de estados emocionais exacerbados.

Mesmo pessoas muito inteligentes, com elevada autoestima e em pleno uso de sua capacidade mental, correm o risco de ver suas ações corrompidas por deslizes comportamentais fora de seu controle, quando sob o jugo das emoções.

“Perdi a cabeça”! “Estava fora de mim”! Quantas vezes usamos e ouvimos essas justificativas? Isso não é figura de retórica! Realmente, sob um forte impacto emocional, sofremos uma verdadeira inundação de humores que esmagam nossa racionalidade! Assim, as emoções influenciam muito mais as atividades dos indivíduos do que a inteligência.

Sob as emoções experimentamos um complexo estado de excitação mental, acompanhado habitualmente de alterações viscerais e musculares, associado a ações de caráter impulsivo no comportamento pessoal.  São as emoções que comandam nossas ações, e quando, em estado de tensão emocional, tomamos atitudes impensadas que podem nos prejudicar para sempre.

Hoje sabemos que essas atitudes “impensadas” são respostas automáticas a estímulos que impactam nossos sentidos, conforme predisposições construídas por nossas experiências ou pela imaginação. Na realidade, foram pensadas e gravadas em nosso inconsciente antes.

Confirma Daniel Goleman, PhD, autor do livro “Inteligência Emocional”, que “ninguém está a salvo dessa errática maré de descontrole e de posterior arrependimento; ela invade nossas vidas de um jeito ou de outro”! “Os que estão à mercê dos impulsos – os que não têm autocontrole – sofrem de uma deficiência moral”.

O poder das emoções é normalmente ignorado, embora seja a força que leva as pessoas a agir conforme “hábitos emocionais adquiridos, solapando suas melhores intenções”, explica Goleman.

As emoções se manifestam automaticamente, acionando o sistema nervoso como resposta a estímulos deflagrados por fatos externos reais ou mesmo vivamente imaginados e, conforme conotações previamente estabelecidas no subconsciente de cada sujeito, podem causar efeitos importantes nas atitudes das pessoas.

Segundo Wilson Lopes, no livro “Evangelho e Saúde” (Editora Mercuryo), raiva, medo, tristeza, e outros sentimentos do mesmo teor, fazem com que o córtex cerebral emita ordem de alarme e desencadeie a liberação de substâncias como adrenalina, noradrenalina, dopamina e acetilcolina, aumentando em até cinquenta vezes a respectiva taxa normal, resultando em reações cardiovasculares, respiratórias e metabólicas nocivas à saúde.

Já a alegria, afeto, autoestima e outros sentimentos semelhantes, fazem com que o sistema nervoso libere a quantidade ideal de endorfina, meta endorfina, serotonina e encefalina, responsáveis pela sensação de bem-estar e que auxiliam o movimento vascular cerebral. Atuam também sobre a glândula pineal que alimenta a produção de melatonina e neuro-hormônios, fortalecendo as defesas imunológicas.

 “Todas as emoções são, em essência, impulsos legados pela evolução para uma ação imediata e ordenamentos instantâneos que visam lidar com a vida. Em qualquer emoção está implícita uma propensão para um agir imediato”. (Daniel Goleman)

Presentes em todas as relações humanas, as emoções podem ser barreiras instransponíveis para o bom entendimento entre as pessoas, ou ser uma ponte para torná-lo possível. Na realidade, cada atitude que tomamos é influenciada por uma ou mais emoções. E nossas atitudes também exercerão influências importantes sobre as reações emocionais de outras pessoas.

Os seres humanos adultos e civilizados podem moldar seus impulsos para agir de acordo com suas conveniências, levando inteligência às emoções. Pela empatia podemos “interpretar os sentimentos mais íntimos de outrem e lidar tranquilamente com relacionamentos”, afirma Daniel Goleman.

É, portanto, importante que os gestores de pessoas saibam controlar as próprias emoções para atender as demandas emocionais de seus subordinados.

Manter calma e neutralidade contagiante é o nome do jogo. Essa é a demanda mais importante dos gestores de RH nos dias em curso.

Vicente Graceffi, consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.