Entre os dias 26 e 27 de janeiro, a Vittude realizou a 4ª edição do Mental Health Summit, evento que abordou diversos assuntos relacionados à saúde mental, um dos temas mais importantes nas discussões sociais e corporativas atualmente. Em 2023, o palco escolhido para o debate foi o Cubo Itaú, espaço localizado na Vila Olímpia, em São Paulo. Quem não pôde ou não quis acompanhar o evento presencialmente não ficou de fora. Pelo YouTube, a Vittude transmitiu na íntegra e ao vivo todas as palestras realizadas.
A atual edição trouxe o tema “Saúde Mental e o Futuro do Trabalho”. Ao todo, foram 16 horas de conteúdo divididas em 19 palestras e painéis principais, além de diversos momentos de networking. Diante da importância dos assuntos trazidos pelo evento, o RH Pra Você acompanhou algumas das palestras para trazer os principais insights compartilhados pelos speakers convidados. Confira:
Panorama da saúde mental nas organizações
A apresentação do evento não poderia ter sido feita por outra pessoa senão Tatiana Pimenta (capa), CEO e Fundadora da Vittude. A empreendedora, uma das grandes lideranças femininas do país, levantou a importância das empresas não perderem o foco no cuidado com as pessoas. Segundo a executiva, mais do que levantar a discussão em torno de doenças e síndromes emocionais que preocupam cada vez mais o mundo, o momento é do mercado agir.
“Temos o papel de mudar isso. Não conseguimos fazer nada se não estivermos bem. Se cuidem, invistam em autocuidado. Se a gente não se cuidar, não vamos dar conta de tudo. Coloquem as máscaras primeiro em vocês”, alertou.
Após a abertura, a primeira palestra temática foi conduzida por Fábio Camilo, Psicólogo Responsável Técnico da Vittude, e por Renato Navas, Head of People Success da Pulses. Camilo apresentou, de início, uma pesquisa feita com 25.596 respondentes, com início em 2019 e com 22 empresas, que avalia estresse, ansiedade e depressão. Os resultados trouxeram números que exigem atenção.
“Quando falamos dessas quase 26 mil pessoas, temos 14% com ansiedade severa, pessoas que responderam sim para praticamente todos os sintomas que a envolvem. Quando a gente fala de estresse, temos 10%, assim como depressão. É muita coisa”, ressaltou.
Algo observado ao longo do estudo foi o elemento geracional, sendo que os resultados foram mais negativos na população abaixo de 25 anos. “Quando pensamos que são eles que vão trabalhar mais tempo, a geração que está construindo o futuro do trabalho, é ainda mais preocupante”, disse.
Para o psicólogo, “quando a gente fala em saúde mental, não adianta fazer uma ação pontual, é um processo. As relações têm mudado, as pessoas não querem ficar onde não se sentem bem”.
Navas, por sua vez, trouxe outro levantamento, mas com índices igualmente preocupantes referentes à saúde emocional das pessoas. A pesquisa, realizada entre janeiro e dezembro de 2022 com 14,78 mil respondentes de empresas de vários portes e segmentos, avaliou o medo, a preocupação e a exaustão emocional.
“Será que estamos normalizando o estar mais ou menos bem? Como as empresas estão se planejando na prática? Se em relação aos sintomas não olhamos, como estamos olhando para as causas? Estamos escutando com a qualidade e frequência necessárias nossos colaboradores?”, provocou Navas.
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O que não te contaram sobre o Burnout
Ao iniciar a sua palestra, Marcos Mendanha, médico, advogado e autor do livro “O que não te contaram sobre o Burnout”, questionou os participantes sobre a síndrome ser um fenômeno da modernidade. E logo falou sobre a neurastenia, que surgiu como categoria médica em meados de 1869, a partir das primeiras publicações do neurologista nova-iorquino George Miller Beard.
“Antes víamos uma sociedade disciplinar, dominada pelo não, hoje estamos na sociedade do desempenho, dominado pelo sim. Há um excesso de estímulos. Nessa busca pela perfeição, o equilíbrio não tem lugar. Há mais individualismo, solidão, cansaço e fadiga.”
Segundo o especialista, muitos gestores ainda temem falar sobre saúde mental, com o argumento que irão estimular a população a ficar doente. “Não precisamos de mais nenhum estímulo. Há uma pandemia de transtorno mental no mundo. A empresa assume um lugar de recepcionar melhor o assunto, de forma clara, de dividir a responsabilidade”.
Especificamente sobre o Burnout, que atualmente é tão discutido – mesmo com algumas organizações, segundo o próprio, tentando se esquivar sobre o assunto -, o palestrante explicou que a definição mais aceita hoje é a da Organizacional Mundial da Saúde (OMS) que, em janeiro de 2022, classificou a síndrome dentro da CID-11. “A fadiga exclusivamente relacionada ao trabalho se chama Burnout. Todo Burnout é uma fadiga, mas nem toda fadiga é um Burnout”.
E como evitar a síndrome? De acordo com Mendanha, há seis áreas de possíveis discordância entre pessoa e trabalho (conforme teoria de Maslach & Leiter), sendo elas: sobrecarga de trabalho; falta de controle; recompensa insuficiente; perda de comunidade; ausência de equidade e conflito de valores.
“Quando falo dos seis pontos, não falo apenas do olhar para os colaboradores, mas para a empresa. Quando você investe em saúde mental há menos absentismo, turnover e presenteísmo”, salientou.
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Estruturando um programa de saúde mental na prática
Sob o comando descontraído de Daniel Martins, professor colaborador do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, Carolina Guarçoni, Gerente de Soluções do Banco do Brasil, Michele Salles, Diretora de Diversidade e Inclusão e Saúde Mental América do Sul na AMBEV, e Flávia Ferreira, Especialista em Employer Branding e Comunicação Interna no Estadão, falaram sobre a promoção de programas de saúde mental nas empresas.
Segundo Carolina, para montar um programa, o primeiro e principal passo é conhecer a empresa. “Você precisa fazer um diagnóstico. Não adianta pegar o mesmo programa e implantar em outra empresa, porque cada uma tem sua realidade, cultura e diagnóstico. Além disso, deve-se medir. O que está sendo feito mudou o diagnóstico inicial?”, questionou.
Por sua vez, Flávia explicou que, no Estadão, os projetos de cuidado com a saúde mental se encorparam na pandemia. Sem tempo hábil para promover um diagnóstico preciso, a especialista em EB ressaltou que a principal missão foi buscar compreender as necessidades de cada um, especialmente porque o cenário da Covid-19 exigia ações assertivas, mas rápidas.
“Naquele momento de início da pandemia, sentimos que nossos colaboradores necessitavam de ajuda. o Estadão não tem apenas jornalistas, há pessoas de diversas áreas e de perfis diferentes. E elas precisavam de apoio”, disse ela. “Eu traduziria, também, que o que é preciso para um programa é empatia. O que foi visto [na pandemia] é sofrimento. Não foi possível antecipar um preparo tão técnico”, acrescentou Martins.
Flávia destacou, ainda, que ter o acesso a indicadores foi um fator determinante na tomada de decisões sobre o que poderia ser feito para melhorar a vida das pessoas, sendo eles importantes não apenas no contexto pandêmico como também após a crise do coronavírus.
“Fizemos a sensibilização das lideranças e das BPs (Business Partners). Elas são o canal de comunicação com o RH, portanto era muito importante sensibilizá-las. E falamos com todos os nossos públicos, em forma de rodas de conversa, podcasts, construção de e-mails, etc. As pessoas começaram a entender”, pontuou.
Ao ter a palavra, Michele ressaltou que também foi durante o auge da Covid-19 que a AMBEV precisou olhar com atenção ainda maior para o emocional dos mais de 32 mil colaboradores. A primeira medida adotada foi oferecer suporte, sendo ele psicológico e também psiquiátrico. Tudo isso de forma efetiva e rápida.
“Só que, também, você precisa prestar atenção em quem são os parceiros que vão realizar esse trabalho. Vão fazer da melhor ou da pior forma? Não, eles devem fazer da forma que é necessária para aquele determinado momento. Ao se desenhar uma estratégia é importante lembrar que todos estão em processo de aprendizagem e desenvolvimento. Se é a melhor ou a pior estratégia, depende do cenário, do tamanho da empresa, de como se fala com os stakeholders. Você faz por reputação ou por pensar, de fato, na dor e no sofrimento dos colaboradores? Essa medição também é muito efetiva”, orientou.
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ESG, D&I e Saúde Integral caminham juntas no futuro do trabalho
Vice-presidente de Capital Humano, Administrativo, Sustentabilidade e Marketing da SulAmérica, Patrícia Coimbra abriu a palestra trazendo uma palavra-chave para que qualquer iniciativa de saúde mental saia do papel: simplificação.
A especialista destacou que as empresas precisam ter a compreensão de que, hoje, elas têm o papel de não ser mais apenas um provedor de produtos e serviços, mas também um exemplo social, o que é reforçado pelo fortalecimento da agenda ESG no mercado, que aborda ações para o meio ambiente, para a sociedade e referentes à governança.
“Em vez de falar do futuro, temos que falar do presente. No presente do trabalho, quais são os temas? Um deles é o ESG, que as pessoas começam a não aguentar mais ouvir, mas é difícil de fazer. Ele sempre é olhado sob o aspecto do risco, como algo a ser evitado, mas ele também faz com que eu tenha oportunidades. Por exemplo, a forma como eu aumento o acesso das pessoas, como amplio o impacto social, como diminuo as emissões de carbono e como integro isso ao meu negócio.”
Dentro do pacote do ESG, que aos poucos começa a se tornar um diferencial competitivo para as organizações, entra também a diversidade, a inclusão e a equidade. Patrícia explica que há um foco muito grande no aspecto ambiental, por ser uma pauta crítica, mas o universo corporativo não pode ignorar o social.
Do mesmo modo, a saúde integral – física, mental e financeira, na ótica da palestrante -, precisa de atenção. A VP conta que a pandemia trouxe o aprendizado de se criar o hábito de escutar as pessoas, além de potencializar dinâmicas transparentes.
“A pandemia acelerou o acesso e temos o compromisso de ‘não deixar essa bola abaixar’. Temos que ter o cuidado de ter um ambiente saudável, o que, no nosso caso, é um ambiente no qual cultivamos a escuta, a construção e o aprendizado. E quando falamos de benchmarking, que é importante, falamos sobre como funciona o processo. E isso é o mais difícil, porque os programas nem sempre trazem o resultado necessário. Antes de olhar só para o programa, o processo por trás precisa sempre ser olhado”, elucidou.
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Fique por dentro de tudo
Para quem quiser saber mais sobre o evento ou acompanhar as palestras na íntegra, a Vittude disponibilizou todo o conteúdo em seu canal do YouTube. O primeiro dia pode ser acessado por aqui, enquanto tudo o que rolou no segundo dia de Mental Health Summit encontra-se neste link.
Por Redação