Fala-se muito em empatia e, por ser um assunto complexo e, ao mesmo tempo responsável pela minimização da crueldade humana, faço aqui algumas reflexões que gostaria de compartilhar com você. Crueldade? Empatia? Isso mesmo!!! Leia o artigo para entender melhor!

Em primeiro lugar, para que falemos do mesmo conceito, uma distinção entre simpatia e empatia é muito importante:

Simpatia é quando eu reconheço a existência “do outro” e tenho uma afinidade com essa pessoa. Quando encontro alguma pessoa e tenho simpatia por ela, existe uma afinidade com esse alguém. O contrário de simpatia é antipatia, quando se tem uma certa repulsa por alguém, pois essa pessoa causa mal-estar não agrada, algumas vezes até nos expressamos como “essa pessoa me cheira mal” ou ainda, “não bate o santo”. E, ainda, nosso cérebro produz certas substâncias químicas que nos aproximam ou afastam das pessoas. Mas empatia, é muito mais do que ter simpatia….

O QUE É EMPATIA?

Empatia é quando se sente o que o outro está sentindo. Ou seja, sente-se tristeza quando a outra pessoa está triste, alegria, frio, sono, fome e assim por diante.

Se eu sou capaz de sentir o que o outro está sentindo, então não sou capaz de fazer mal a essa pessoa. Sou, pelo contrário, capaz de auxiliá-la em alguma medida.

Então, a falta de empatia é o que faz com que o mundo seja tão perverso… exatamente!!! Não sentir o que o outro sente, permite que esse outro seja desprezado, descartado, humilhado, açoitado, vendido, excluído e assim por diante.

Quanto mais empatia menos crueldade, quando menos empatia mais maldade.

No entanto, ser empático não é nada fácil, uma vez que temos nossos modelos mentais, nossas experiências, nossas crenças e valores que nos fazem ficar arraigados a pontos de vista específicos e subjetivos.

Isso explica a crueldade que vemos todos os dias nas ruas, mas não só nelas… nas empresas também. Falta de feedback, demissões em massa, ironias, cobranças por resultados que nunca parecem ter fim, não cumprimento do prometido, são comportamentos fáceis para quem não entra em contato com a emoção da outra pessoa e que não se conecta com a possível dor do outro.

Pesquisas demonstram que pessoas capazes de se emocionar mais, ou seja, ter um amplo espectro de emoções, mais empáticos são capazes de ser, mas, quanto menor for essa quantidade e variedade de emoções, menos empáticos somos.

UM MUNDO SEM EMOÇÕES

A que emoções estamos expostos? Há um tempo atrás, as conexões eram mais presenciais e a vida se fazia vista, de uma forma mais concreta e não virtual. Almoços de domingo, avós, mães, primos, pais, mães, conflitos, brigas, risadas, amores, desamores, contos e histórias tencionavam as emoções que tinham espaço para existir de forma plena. Amigos, vizinhos, fofocas. A morte fazia parte da vida, os casamentos, o Natal, a Páscoa, enfim, festas com os eternos encontros e desencontros, misturavam-se às festas das empresas, às comemorações, aos brindes, aos abraços e às perdas, choradas e lamentadas.

Algumas coisas mudaram hoje, com algumas restrições na nossa convivência. As crianças preferem os games, os presentes virtuais para usar no seu avatar, onde matar e deletar não geram qualquer emoção. Protegemos nossos filhos da dor e da frustração ao máximo. Nada de sofrer, nada de ver alguém morrendo, sofrendo. O choro é logo recompensado por doces ou afagos, tudo é compreendido e compreensível. Os professores não podem e nem devem ser ríspidos com as crianças. Câmeras protegem de possíveis problemas. O culto ao prazer se instaura e esconde a dor. E os adultos fogem da própria vulnerabilidade, buscam apoio em remédios para que a felicidade seja a anfitriã presente em todos os momentos, evitando o contato com qualquer aspecto mais profundo. Trabalho, academia, endorfina, mídias sociais, pacote perfeito para não contatar as emoções.

Nas empresas, metas, resultado, lucro, reuniões, agendas apertadas, pouco espaço para “ser”, fuga de si. Imagine, então, como fica a questão da empatia… se estamos fugindo de nós mesmos, o que dirá do outro?

Não temos repertório emocional para entender o outro e por isso é melhor nem escutar.

Problemas existem para serem solucionados e, se você tem algum, é porque tem falta de inteligência emocional, então, é melhor fazer de conta que está tudo certo.

Pela falta de repertório emocional, não percebo quando algum colaborador está enfrentando alguma dificuldade, se precisa de mais informações, se precisa de ajuda.

Em casa, por vezes existem estranhos que convivem em um mesmo local, dormem na mesma cama, mas não falam de si, não compartilham, não há conexão.

No dia a dia, o simples ceder uma cadeira para quem precisa, o sorriso amigo de quem compreende uma situação, o carregar as compras de alguém, o “deixar passar na frente” foram substituídos pelo olhar focado no celular, a pressa de chegar primeiro e mais rápido.

E assim, a crueldade se instala nos nossos pequenos atos, seguido da coisificação de tudo e de todos. Somos coisas, objetos utilitários que têm algum valor enquanto servem para algo.

A COISIFICAÇÃO ESTÁ NO AR

Na hora que não se enxerga uma pessoa como pessoa, ela se torna uma coisa que posso simplesmente jogar fora descartar. Seja no Tinder ou no Facebook, simplesmente, arrastamos o dedo e pessoas são eliminadas, até para que não sintamos a dor da perda.

Casas de repouso são depósitos de “coisas” velhas que também não nos interessam mais, mas que pagamos para nossa consciência ficar mais tranquila.

Líderes que coisificam seus colaboradores, mesmo que tenham um discurso interessante e politicamente correto também fazem parte dessa reflexão. Falta de tolerância, de reconhecimento, no fundo, falta de sentimentos, por vezes desconhecidos. Melhor não dar feedback, porque dá trabalho lidar com a emoção do outro. Melhor não levantar o conflito, porque vai gerar uma denúncia anônima. Pesquisa de clima? Melhor colocar o politicamente correto. O importante é fazer o que é esperado no Team Building da empresa e que seja, de preferência, um evento de jogos sem reflexões. Nada de profundo!

COMO SAIR DESSA SINUCA?

Coisificar é uma escolha que fazemos ao usar um filtro onde olho para a pessoa como coisa, e não olho para a pessoa como pessoa. Então, tudo começa por fazer outra escolha. Algumas sugestões, caso ainda esteja interessado no assunto e não tenha me descartado…

Trabalhe e desenvolva suas emoções, não fuja delas

Não é errado sentir medo, dor ou frustração, a tristeza é tão importante quanto a alegria. Dê a você, a oportunidade de ser gente e sentir como tal.

Escolha olhar e perceber as pessoas como pessoas e não como objetos de uso e descarte.

Dedique tempo a olhar para as pessoas que estão à sua volta. Repare na forma como falam, se movimentam, nos olhares. Interesse-se por essas pessoas. Pergunte se estão precisando de alguma coisa, de ajuda, de uma boa conversa.

Preste atenção aos comportamentos (seus e dos outros)

Observe se você se predispõe a fazer algo para os outros ou se só tem tempo para suas necessidades, se foge de qualquer outro que talvez esteja procurando apoio. Observe o comportamento das pessoas: às vezes um e-mail é um pedido de ajuda, um almoço é uma necessidade de troca, um sorriso é necessidade de uma conversa.

Escute o que as pessoas têm para falar

Dedique tempo a escutar verdadeiramente as pessoas. Nem sempre as pessoas falam diretamente o que pensam, sentem e querem. Falam pelos olhos, pelo sorriso, pelos gestos, ou até nas entrelinhas. Fique atento, não fale de você quando alguém conta algo. Escute interessadamente.

Dê valor para as dificuldades e vulnerabilidades

O que pode ser simples e fácil para você, pode ser muito difícil para a outra pessoa. Vulnerabilidades são parte da vida de todos nós. Assim, simplesmente aceite que não existe super homem ou super mulher e que a vulnerabilidade do outro, quando aceita, ajuda a que sua vulnerabilidade também seja acolhida.

Valorize as diferenças que se apresentam no outro

O sonho dourado de todos nós é que todos fôssemos iguais, mas, ainda bem, isso não passa de uma ilusão. É nas diferenças que desenvolvemos nossa qualidade humana de aceitação. Entendê-las, acolhê-las e valorizá-las são a porta que abrimos para a empatia.

Entenda e aceite a dor e as limitações, assim como as frustrações como caminhos de crescimento

Na medida que a dor e as limitações forem aceitas como um grande presente para que a maturidade do ser humano aconteça, ajudar alguém a passar por esses momentos é tão importante quanto comemorar um grande acontecimento.

Assim, finalizo essa reflexão deixando um convite para que você, leitor, trabalhe sua empatia com as pessoas que você mais ama, com as pessoas com quem precisa estar junto, com seus colegas de trabalho, com cada pessoa que encontrar e, mais do que isso, com cada ser vivo que aparecer no seu caminho (aqui deixo meu respeito aos animais, pelos quais nutro profunda empatia), porque a vida precisa ser coroada com tolerância e compaixão para que se possa cumprir a mínima missão de humano “ser”.

Profa. Dra. Fátima Motta, Sócia-Diretora da FM Consultores. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.