Segundo um levantamento realizado pelo Fundação Tide Setubal em parceria com o Instituto Silvis, as companhias brasileiras têm cada vez mais consciência sobre a relevância do ESG (ambiental, social e governança) no universo corporativo. O estudo mostra que 74,2% dos empresários entendem que práticas relacionadas à temática são de alta importância às organizações, enquanto 62,3% entendem que o compliance e as ações de governança são os assuntos mais prioritários da agenda.

“Além da importância da sustentabilidade dos negócios em si, o ESG se tornou requisito indispensável para uma empresa se manter competitiva no mercado. Fundos de investimento e investidores em geral olham com bastante atenção esses critérios na hora de definir seus aportes”, destaca Marcos Untura, Head de Privacidade e Cibersegurança da keeggo.

Todavia, por mais que haja o reconhecimento em torno do potencial da agenda, colocá-la em prática se mostra um desafio complexo para muitas empresas, especialmente por conta do despreparo das lideranças, como aponta o relatório The ESG Imperative: turning words into action, do Project Management Institute (PMI). O relatório menciona que, apesar do compliance e da governança serem os tópicos mais visados do ESG pelos executivos, práticas inadequadas favorecem o descumprimento das metas traçadas.

A informação é corroborada por uma pesquisa conduzida pela Deloitte. Ela mostra que quase 60% dos entrevistados, líderes que avaliam ameaças e oportunidades de negócios, não abordam, por exemplo, o assunto mudanças climáticas durante as reuniões. Aproximadamente metade dos respondentes disse não ter conhecimento adequado para tomar decisões sobre os riscos relacionados ao clima e 70% ainda precisam definir como as mudanças climáticas afetarão as operações, a cadeia de suprimentos e os clientes da empresa.

“A maioria das empresas já identificou a necessidade de implantar ações de ESG em sua cultura interna, mas grande parte não sabe de fato por onde começar. As organizações que tiverem esse mindset bem estabelecido estarão à frente no mercado. Mensurar esses resultados é outro desafio, portanto, é preciso lidar com essa temática atuando de ponta a ponta e não somente em reuniões estratégicas da alta cúpula”, orienta Untura.

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Um artigo da Harvard Business Review indica que três erros comuns prejudicam a atuação dos líderes para alavancar o sucesso da agenda. O primeiro deles é medir os sinais sem deixar de lado os processos. Já a segunda falha envolve mensurar o que está aparente e ignorar o sistema, com a busca de resoluções para problemas sem que sua complexidade seja considerada.

O terceiro equívoco apontado, por sua vez, remete ao fato de que nem sempre o que pode ser mensurado tem mais valor. As emissões de CO2 são um exemplo, pois apesar de serem fáceis de medir e monetizar por meio de créditos de carbono, não costumam considerar os impactos na biodiversidade, cuja relação de causa e efeito é mais complexa.

De acordo com documento do PMI, dados extraídos da pesquisa ESG Strategy Survey, da GlobalData, revelam que 69% dos entrevistados planejam mudar as políticas de suas companhias para que possam cumprir metas relacionadas à sigla nos próximos cinco anos. 67% elucidam que a pandemia da Covid-19 foi o grande catalisador para o assunto chegar de vez à órbita dos negócios, pendendo a ser protagonista de ações corporativas nos próximos anos.

As práticas ESG são urgentes e precisam ser fortalecidas em todos os setores, enquanto a sustentabilidade deve ser uma diretriz em qualquer projeto. Também é fundamental destacar o papel importante do gerente de projetos, que nesse processo é quem fará as ideias se concretizarem em práticas contínuas, assertivas e sustentáveis a longo prazo”, afirma Ricardo Triana, diretor-geral do PMI no Brasil e América Latina.

ESG futuro do trabalho

Entre as principais ações do gerente de projetos na implementação de projetos de ESG está a habilidade de transformar ideias em realidade, integrar as metas em indicadores-chave de desempenho e alavancar os resultados para todos os stakeholders. 

Triana ainda ressalta a importância de toda a cadeia produtiva repensar o consumo de energia: “É importante entender os gargalos, às vezes com a substituição de um equipamento, ou aprimoramento de uma tecnologia. Até mesmo mudanças sutis no próprio processo de produção tornam possíveis economias significativas”, conta.

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Capacitação das lideranças

Para Patrícia Punder, advogada e CEO da Punder Advogados, ter uma liderança e também um RH capazes de tomar decisões assertivas para cumprir as metas de ESG não se constrói com “treinamentos soltos e pontuais”. A especialista defende que é necessário ter “estratégias completas para engajar pessoas, motivar times e criar grupos com gestores prontos para lidar com as diferentes adversidades”. Para tal, Patrícia elenca alguns pontos que não podem faltar no trabalho de desenvolvimento de quem terá a missão de apoiar na condução da agenda:

Identifique as prioridades para o desenvolvimento de profissionais: “independentemente do tamanho da empresa ou do segmento de atuação, um treinamento para o desenvolvimento de liderança deve considerar todas as características necessárias para as equipes. Saiba o que é essencial dentro de suas estruturas, entenda o que falta e trace objetivos pensando nessa necessidade.”

Tenha programas atualizados e personalizados: “não basta copiar treinamentos prontos e que fazem sucesso no mercado. É preciso olhar para seu cenário e personalizá-lo de acordo com a realidade da empresa. Ao entender as prioridades do seu cenário busque metodologias, tendências que vão de encontro com suas possibilidades e trace estratégias. É interessante ir além e criar conteúdo que converse com os líderes. Investir em gamificação, chatbots internos, eventos, trilhas de conhecimento, microlearning, e-learning e outras metodologias faz toda a diferença.”

Invista em ferramentas de conhecimento: “para sustentar uma estratégia de conhecimento e desenvolvimento de liderança é preciso ferramentas para suportar conteúdos, treinamentos, metodologias e diversas ações. Portanto, contar com uma boa ferramenta é entender que é preciso mais do que um local para disponibilizar treinamentos.”

Capa: Via Depositphotos

Por Bruno Piai