Considerada um dos principais problemas de saúde pública do mundo, a depressão atingia, em 2017, mais de 300 milhões de pessoas, segundo estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Com a chegada da pandemia da Covid-19, diversos relatórios apontam que a estatística da enfermidade, que é a terceira maior causa de afastamentos do trabalho, aumentou consideravelmente.
Lidar com a doença, caracterizada, entre outros sintomas, por longos períodos de tristeza, ideias suicidas e falta de vitalidade, é um desafio tanto para quem sofre do problema como também para as empresas. Isso porque a depressão avança aos poucos e, muitas vezes, passa despercebida inicialmente até mesmo para quem está com o problema, e ainda pode ser confundida com outros distúrbios mentais.
Atenção aos sinais
De acordo com Karina Servi, terapeuta da Naomm, plataforma que reúne terapeutas qualificados e licenciados em PICs – Práticas Integrativas e Complementares, há alguns sinais aos quais os gestores devem se atentar, pois podem indicar que a saúde mental de seu funcionário não vai bem e podendo ser um potencial caso de depressão. São eles:
1) Insônia
É o ponto mais importante: se não há um sono de qualidade é impossível que o corpo recupere as energias para seguir um novo dia. E quando se acumula, não há recuperação. O sono é um dos principais fatores que afetam a saúde mental, emocional e física.
Quando há insônia, dificuldade para dormir, acorda-se várias vezes à noite, ou ainda até se dorme, mas se acorda com cansaço, é um grande sinal a ser reconhecido. Por isso, antes de mais nada, é preciso entender o que o corpo está sinalizando, afinal, dormir é uma ferramenta natural.
E muito cuidado ao recorrer à medicamentos para sanar o problema. Às vezes, o uso de remédios será necessário, porém, precisa ser indicado por um médico.
Veja mais: Por que o trabalho remoto está tirando o sono (literalmente) dos profissionais?
2) Irritabilidade e estresse
Durante nossa rotina, muitas vezes temos que lidar com situações que nos levam à irritabilidade e ao estresse. O importante aqui é identificar quando o problema é algo isolado ou constante.
Quando a irritação vira algo constante e nos leva a ter reações aumentadas frente a pequenos acontecimentos, é um sinal vermelho. Se o estresse vier acompanhado também de problemas para dormir, é hora de buscar ajuda.
3) Mudança repentina de humor
Estar bem e, de repente, sentir raiva intensa ou sentimentos depressivos pode indicar um problema. Claro que é normal reagir de formas diferentes a situações diferentes, porém, a persistência na inconstância pode ser um sinal do corpo de que algo não está bem e deve ser investigado.
Se tiver dúvidas em relação a essa questão, pergunte aos seus colegas de trabalho e familiares se eles têm sentido oscilações de humor constantes em você. Se a resposta for positiva, está na hora de mudar de hábitos!
Veja mais: Burnout passa a ser doença ocupacional. O que muda para o mercado?
4) Lapsos de memória
Quando uma pessoa começa a perceber que a memória dela começa a falhar no dia a dia com coisas muito simples, como esquecer o que ia fazer na cozinha ou o que ia pegar no armário, na maioria das vezes pode ser um indício de um esgotamento mental e que não deve ser ignorado.
Isso porque o problema pode acarretar uma série de problemas e pode levar até à depressão, uma doença cada vez mais comum e de difícil resolução.
Na dúvida, a velha máxima ainda pode ser bem eficaz: “é melhor prevenir do que remediar”. Se as empresas querem o melhor para os seus colaboradores, saúde é a base, para que o ambiente corporativo seja um lugar de criatividade e de relacionamentos harmoniosos.
Gestão de acolhimento
“Acima de tudo, é preciso quebrar o preconceito e aceitar que a depressão é uma doença”, afirma João Dantas, especialista em Gestão de Pessoas. Para o executivo, a batalha contra a depressão deve ser travada em conjunto, envolvendo a pessoa diagnosticada e uma rede de apoio formada por familiares e empresa. Para os gestores e colaboradores da equipe, João Dantas destaca algumas orientações:
– Evite julgamentos: vale lembrar que nem sempre os sintomas da depressão são iguais para todos. Portanto, evite julgar e fazer comparações dos colegas e subordinados desmotivados ou que estão sofrendo com a enfermidade.
– Empatia: ofereça apoio se perceber algum sintoma suspeito no colega. Ouça o que ele tem a dizer e tente compreender, sem forçar e/ou entrar em detalhes que causem constrangimento. Caso ele não queira falar sobre o assunto, procure ajuda junto aos superiores e no departamento de recursos humanos para ver como poderá ajudá-lo.
– Crie canais de apoio: as empresas podem criar estrutura de apoio para colaboradores que sofrem de depressão. O RH pode se colocar à disposição para localizar e fazer encaminhamento ao médico e psicólogo, além de providenciar licença médica e auxílios gerais, como apoio psicológico durante o tempo em que tiver que ficar afastado. A empresa também pode promover treinamentos e workshops para orientar os colaboradores a lidar com a depressão.
Vale lembrar que é muito difícil identificar uma pessoa sofrendo de depressão, e somente um psiquiatra pode dar o diagnóstico correto. Mas, além da melancolia e angústia, indisposição, pessimismo extremo, emoções descontroladas, a pessoa pode manifestar fadiga, prostração, comportamentos extremos (comer demais ou recusar a se alimentar, dormir demais ou insônia), dores pelo corpo, entre outros.
Veja mais: Saúde mental do colaborador precisa ser prioridade
“Quem tiver sintomas da doença, se sentindo debilitado, sem perspectivas e tristeza contínua, deve buscar apoio médico. Caso não tenha ânimo, peça apoio a um familiar ou amigo que possa te encaminhar”, afirma Dantas. Ele ainda oferece outras dicas:
– Leve o tratamento a sério: a medicação pode ser fundamental no primeiro momento para resolver o descontrole emocional. O processo de cura também deve incluir sessões de psicoterapia, para detectar a causa do problema e aprender a evitar recaídas
– Crie uma rede de apoio envolvendo familiares, amigos, colegas de trabalho e vizinhos: Eles podem te ajudar nos momentos de crise, cuidando da sua alimentação, lado financeiro, apoio psicológico, escuta e no encaminhamento médico.
– Adote estilo de vida saudável: o estresse é um dos fatores que podem desencadear a depressão. Portanto, adote um estilo de vida saudável, se permita relaxar e se desligar dos problemas, e dedique uma parte do dia às atividades que te motivem e deem prazer.
Por Bruno Piai