De uma forma simplista, dentre os fatores da produção ou serviços que geram a riqueza, o Trabalho Humano é o mais imprevisível e de delicada administração.

Se faltar capital, recorre-se a financiamentos ou abertura de capital, se faltarem comodities de uma fonte, pode-se comprar de outra, se faltar volume hídrico para gerar energia, usam-se geradores termoelétricos, eólicos ou outros, e assim por diante, mas, se a mão de obra capacitada escassear, a economia estará seriamente comprometida. Mão de obra não se encontra em prateleiras; requer planejamento, investimento e tempo para treinar!

A capacidade produtiva da força de trabalho é, portanto, essencial para a estabilidade econômico-financeira das empresas e dos países; isso explica por que Recursos Humanos tem sido a área administrativa que mais ganhou importância nos últimos tempos, sendo protagonista na gestão estratégica das empresas.

Dentre as funções implícitas do RH, a que cuida da saúde biopsicossocial e espiritual dos trabalhadores tem merecido atenção especial devido ao aumento dos índices de doenças física, mental e social em todo o mundo devido a pandemia de Covid 19 e suas variáveis.

A plena capacidade produtiva exige saúde igualmente plena, e estar saudável não significa apenas estar livre de enfermidades físicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que estar saudável é “estar em completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de enfermidades”.

A tradicional “Medicina do Trabalho” precisa ir além da saúde biológica, passando a cuidar também dos aspectos psicológico, social e espiritual dos trabalhadores, em contraposição ao modelo biomédico, focado apenas nas comorbidades biológicas.

Poderíamos chamar essa atividade de “Saúde Holística”, abarcando a prevenção das doenças e acidentes do trabalho, a saúde física, mental e espiritual, visando excelente disposição, e bem-estar dos trabalhadores.

Saúde Biológica

A saúde biológica ou física cuida da prevenção e tratamento de eventuais enfermidades decorrentes ou não das atividades do trabalho, bem como a promoção de hábitos alimentares saudáveis e atividades físicas adequadas orientadas por médicos e profissionais da área.

Dispensamos maiores detalhes por serem bastante conhecidas e praticadas por muitas entidades públicas e privadas.

Saúde Psicológica ou Mental

A saúde psicológica ou mental cuida do cognitivo, e do emocional das pessoas. As doenças se manifestam em forma de desequilíbrio comportamental, regularmente provocadas por necessidades humanas não satisfeitas, como elencou Maslow: Necessidades Fisiológicas; Necessidades de Segurança; Necessidades de Amor e Relacionamentos; Necessidades de Estima; e Necessidades de Realização Pessoal.

O Ministério da Saúde denominou os distúrbios mentais da vida profissional como Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional, cujos sintomas são: depressão, exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastantes e que demandam muita competitividade ou responsabilidade, mas também pode acontecer quando o profissional é pautado para objetivos muito difíceis e cobranças constantes, situações em que a pessoa possa achar, por algum motivo, não ter capacidades suficientes para os cumprir.

Ressalte-se o fato de que o Burnout não é uma coisa nova, mas cuja incidência aumentou muito após os impactos da pandemia de Covid 19, passando a merecer especial atenção. Para reduzir sua incidência é fundamental manter o equilíbrio entre o trabalho, lazer, família, vida social e atividades físicas.

São recomendados cuidados especiais na definição de objetivos desafiadores, mas exequíveis, intercalar nas jornadas de trabalho lapsos de alguns minutos para refazimento antiestresse, e pelo menos uma hora para refeição.

Igualmente, não levar problemas de trabalho para casa, participar de atividades sociais, exercícios físicos, descansar nos dias de folga, e dormir pelo menos 8 horas por dia, são recomendações igualmente importantes.

Para evitar complicações da doença, é fundamental buscar apoio de Psiquiatra ou Psicólogo assim que se notar qualquer sinal. No âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) está apta a oferecer, de forma integral e gratuita, todo tratamento, desde o diagnóstico até o medicamentoso.

Saúde Social

A saúde ou bem-estar social decorre da maneira como o indivíduo se relaciona com outras pessoas, isto é, se mantem uma relação amistosa com familiares, amigos, colegas de trabalho e a comunidade em geral. “Pertencer” e ser aceito no meio em que vive é uma das necessidades fundamentais dos serem humanos, como ensina Maslow.

Em geral, a saúde social depende da “Educação Comportamental”, isto é, possuir qualidades essenciais ao convívio, como: Simpatia, Empatia, Atenção, Relação (Rapport), e Autoestima, uma vez que é afetada pelas reações que as atitudes individuais provocam nas outras pessoas.

A pessoa bem-educada socialmente saberá lidar com diferentes personalidades e com as características socioculturais das comunidades com as quais convive, sendo aceito como participante e estimado pelos demais.

Essa capacidade é sumamente importante para o “Clima Organizacional”, e deve ser cultivada em todos os ambientes coletivos através eventos, workshops, e reuniões multifuncionais festivas e ou informativas.

Saúde Espiritual

A saúde espiritual consiste na harmonia da consciência com o transcendental. O princípio inteligente (alma ou espírito) inerente a todos os seres humanos busca compulsoriamente a harmonia com o todo universal (consciência coletiva de Jung), independente de sua vontade e religião. Podemos chamar essa harmonia de Paz de Espírito.

O ser saudável espiritualmente cultiva essa harmonia num contexto amplo de princípios e valores filosóficos, fundamentado no sentimento de compaixão em relação a todas as expressões da natureza.

Esse conceito é confirmado por Danah Zohar e o Dr. Ian Marshall no livro “SQ – Connecting with our Spiritual Intelligence”, editado no ano 2000 para divulgar o importante tipo de inteligência peculiar aos seres humanos, medido pelo quociente de inteligência espiritual (QS).

Usamos a Inteligência Espiritual para desenvolver valores éticos e crenças que vão nortear nossas ações, gerando a saúde espiritual necessária para aplicar eficazmente o QI e o QE, que não são suficientes para explicar toda a complexidade da inteligência, nem a vasta riqueza da alma humana e sua capacidade de imaginação, particularidades exclusivas dos seres humanos, não encontradas nos animais irracionais, nem na Inteligência Artificial dos computadores.

Quanto aos aspectos neurológicos, o QS opera, literalmente, fora do cérebro (é função extracorpórea), sendo o cérebro mero interface entre o espírito, ou princípio inteligente, e o sistema nervoso do corpo humano. A dualidade humana, corpo e alma, é a única explicação amplamente aceita para esse fenômeno.

O desenvolvimento da Inteligência Espiritual (QS) se faz através do autoconhecimento através de reflexão e autoconsciência, estando atento ao motivo de suas ações, fazendo autoanálise e eliminando os maus hábitos e pensamentos negativos ou deletérios.

Cultivar a Inteligência Espiritual torna o trabalhador motivado pelo êxito pessoal e de todo o grupo, transmitindo sua visão e valores mais altos aos demais colegas de trabalho.

Para melhor entender o funcionamento da mente humana, recomendo o e-book de autoestudo: “A Personalidade Vencedora”.

Vicente Graceffi, consultor em desenvolvimento pessoal e organizacional. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.