Considerando-se as manifestações e comentários em relação ao artigo anterior, voltamos ao tema com outras considerações.
As grandes mudanças ocorridas no setor privado da saúde com a pandemia do COVID-19 certamente trarão um grande impacto para todos os stakeholders.
Os contratantes dos serviços de saúde precisarão ter clareza do cenário, baseado em informações precisas que servirão de base para a tomada de decisão.
Todos os dias, recebemos publicações, entrevistas ou divulgação de webinares dos diferentes setores, sendo que, muitos trazem prognósticos catastróficos para a saúde suplementar, mas a verdade é que ainda temos poucos dados concretos após o mês de março deste ano.
De acordo com o Instituto de Estudos em Saúde Suplementar (IESS), em março houve um aumento de cerca de 70.000 beneficiários de planos de saúde entre dezembro de 2019 e março de 2020. Da mesma maneira, a sala de situação da ANS mostrou uma variação positiva de 0,24% no número de beneficiários de fevereiro a março de 2020 com uma taxa de sinistralidade de 84%.
A última edição da revista inglesa The Economist, de 9 de maio de 2020 traz um artigo intitulado “The business of health – Prognosis: mixed” em que traz um perfil do mercado norte-americano que pode ser extrapolado, de certa maneira e respeitando as proporções, para a nossa realidade.
Certamente o setor hospitalar será um dos mais impactados. Os procedimentos que trazem os maiores retornos financeiros, que são eletivos, como as cirurgias ortopédicas, neurológicas e cardiológicas, foram suspensos ou adiados e há grande ociosidade nas áreas de diagnóstico e atendimento ambulatorial. Também sofrerão grande impacto as clínicas médicas e os centros diagnósticos pela baixa demanda durante os períodos de confinamento.
Prevê-se algum impacto para a indústria farmacêutica e de equipamentos pela redução no consumo de medicamentos e dispositivos médicos. Até o varejo (farmácias) pode sofrer alguma redução de receita pela redução nas vendas de produtos de higiene e beleza.
Com relação aos planos de saúde, provavelmente, o impacto será heterogêneo. Os planos próprios de empresa (auto-gestões) que, em geral, já apresentavam baixa reserva financeira terão impacto negativo relevante. As cooperativas médicas (Unimeds) potencialmente podem repassar eventuais despesas adicionais para os cooperados.
Por outro lado, as empresas de medicina de grupo e as seguradoras deverão ter um impacto variável, de acordo com a composição de suas carteiras e as taxas de inadimplência. Provavelmente, muitas terão uma sinistralidade (despesas assistenciais) mais baixa durante o período de quarentena pela redução na utilização.
Neste contexto, os gestores de benefícios nas empresas que gerenciam os contratos com os planos de saúde devem ficar atentos para os dados efetivamente de utilização e as informações da sala de situação da ANS. A tomada de decisão deverá ser pautada pelos números da sua carteira e não pelas narrativas dos porta-vozes de cada stakeholder do setor. Caso contrário, a conta sobrará novamente para o contratante desavisado.
Por Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.
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