Dados e informações confiáveis são fundamentais para o planejamento de um programa, notadamente os de saúde populacional.

Muitas vezes observamos projetos e relatórios de programas nos quais constam informações obtidas na internet ou nas redes sociais, o que pode gerar confusão ou dúvida nos tomadores de decisão.

Os gestores de programas de saúde nas empresas precisam ter uma atenção especial para os estudos populacionais. De acordo com o epidemiologista Cesar Victora, na última edição da revista Cadernos de Saúde Pública, estes inquéritos acrescentam pelo menos mais quatro vantagens sobre a coleta rotineira de dados:

  1. Permitem medir comportamentos que influenciam hábitos de saúde, como tabagismo, sedentarismo, alimentação e consumo de álcool;
  2. Auxiliam a entender os padrões de serviços assistenciais para doenças importantes como hipertensão arterial e diabetes;
  3. O uso de questionários padronizados permitem medir problemas de saúde que não ficam evidentes nos sistemas de registros em saúde, como as condições musculoesqueléticas e a saúde mental;
  4. Por meio da coleta direta de informações sobre posição socioeconômica, escolaridade, sexo e etnia, os inquéritos permitem estratificar todos os indicadores, oferecendo subsídios importantes para os planejadores dos programas.

Por isso, merece destaque a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) que representa um grande investimento humano e financeiro, trazendo informações importantes sobre a saúde e os estilos de vida da população, assim como o acesso e uso dos serviços e aos serviços preventivos.

Esta pesquisa foi realizado pelo Ministério da Saúde, em parceria com o IBGE. A primeira edição foi realizada em 2013 e a segunda em 2019 incluindo entrevistas domiciliares, coleta da medida da pressão arterial e material biológico (sangue e urina).

Os dados estão disponíveis para pesquisa em diferentes formatos e em um Painel de Indicadores (www.pns.icict.fiocruz.br) de fácil acesso e pesquisa bem amigável.

Além disso, vários estudos já foram publicados com base na PNS e podem ser acessados nas bases de dados como Scielo (www.scielo.br).

Por exemplo, tem-se constatado um aumento na prevalência de obesidade e diabetes na população adulta brasileira. Certamente, constataremos um aumento consequente na prevalência de condições crônicas como doenças cardiovasculares, por exemplo. Provavelmente, os gestores dos programas de saúde corporativa necessitarão rever suas estratégias e buscar ações mais abrangentes que incluam novas parcerias, buscando enfrentar os fatores de risco, como sedentarismo, alimentação inadequada e stress.

Os empregadores necessitarão exigir maior participação dos planos de saúde nas ações de monitoramento das condições crônicas e deixarem a postura reativa de apenas terem contato com os participantes por ocasião do uso do hospital ou de um serviço de saúde. Na verdade, os planos de saúde, antes de falarem em prevenção ou promoção devem contribuir para que os portadores de condições crônicas como diabetes e hipertensão realizem seus acompanhamento e tenham uma adesão adequada aos tratamentos.

No mundo todo, as organizações estão mais atentas aos determinantes sociais de saúde, pois não podemos deixar de lado como os colaboradores se deslocam, se alimentam e moram.

Neste contexto, é fundamental que o planejamento envolva o conhecimento de dados de pesquisas populacionais como a PNS que, muitas vezes trazem informações mais valiosas do que os produtos comerciais que são oferecidos no mercado.

Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.