O pertencimento não pode acontecer a menos que você saiba quem é, sentindo-se absolutamente certo sobre o que o torna único e garantindo que você está trazendo essas características únicas para o trabalho todos os dias. É claro que você só poderá fazer isso se trabalhar em um ambiente onde seja reconhecido e celebrado pelo valor diferenciado que oferece.

Embora essa seja uma premissa muito clara, infelizmente nem todas as pessoas se sentem pertencentes ao local de trabalho devido à falta de segurança psicológica e de acolhimento por parte da própria gestão e colegas de trabalho.

Uma pesquisa feita pela consultoria EY aponta que 41% dos trabalhadores afirmam que o seu local de trabalho é onde sentem o maior sentimento de pertencimento, depois apenas de suas casas. No entanto, os dados são contrastantes: 75% relatam se sentirem excluídos no trabalho.

Os dados também mostram que 56% das pessoas entrevistadas sentem que não podem partilhar as dimensões da sua identidade enquanto estão no trabalho. Este número é ainda maior entre os trabalhadores LGBTI+, com 77% dizendo que se sentem desconfortáveis.

É notável a dicotomia entre o sentimento de pertencimento e o sentimento de exclusão. Embora, haja um percentual significativo sobre os progressos das organizações em promover ambientes mais plurais, a discrepância em relação ao sentimento de supressão ainda é latente e preocupante.

Um elemento fundamental para fomentar uma cultura de pertencimento envolve a
necessidade de que os gestores e líderes possuam o que a antropóloga médica Geri-Ann Galanti denominou como “competência cultural”.

Nessa perspectiva, a competência cultural concentra-se na ampliação da consciência dos líderes e gestores, capacitando-os a cuidar de suas equipes, valorizando as diferenças entre indivíduos e culturas, e reconhecendo os desafios e oportunidades únicos que cada um traz consigo. Além disso, a compreensão cultural requer um alto grau de autorreflexão e autoconsciência.

Gestores culturalmente competentes são capazes de identificar e valorizar as distintas características das pessoas sob sua supervisão. Como resultado, adotam uma abordagem personalizada, mas que ao mesmo tempo promove um senso coletivo de unidade, construindo assim um ambiente inclusivo, diverso e coeso.

Então, como construir uma Cultura de pertencimento? Alguns passos são primordiais nessa jornada, como:

  • Compreender vulnerabilidades: estimular que os funcionários se comuniquem de forma aberta e honesta, fomentando a compreensão, apoio mútuo e respeito às individualidades.
  • Feedbacks constantes: promover conversas francas e direcionamentos eficazes, encorajam as pessoas a fortalecer suas potencialidades e trabalhar nos seus pontos de melhoria com mais afinco. Diálogos bem conduzidos tem o poder de elevar o nível de engajamento no trabalho.
  • Inclusão intencional: imagine uma foto institucional da alta liderança somente com homens jovens e brancos. Instintivamente, os perfis que não se adequam aos fenótipos contidos na foto, sentirão que não será possível ascender naquele ambiente por não ter exemplos diversos no topo. Portanto, é fundamental a promoção de ambientes mais equânimes.

Kristina Kohl, em seu livro “Impulsionando Justiça, Equidade, Diversidade e Inclusão”, compartilha várias maneiras de atração e retenção de talentos diversos, fortalecendo senso de pertencimento, utilizando IA.

São elas:

  • Incentivar os líderes a tomar decisões baseadas em dados. Isso ajuda a reduzir o preconceito natural que envolve as decisões baseadas na intuição.
  • Capacitar os gerentes para cumprir as metas do DEI. Disponibilizar dados em tempo real aos gerentes em forma de painel pode ajudá-los a vincular a contratação e a promoção à estratégia geral e às metas em torno do DEI.
  • Aumentar a transparência da mobilidade interna. Um mercado interno de talentos apoiado por IA garante que todos os qualificados verão as posições internas. Também pode oferecer aos funcionários planos personalizados para se qualificarem para essas funções, sugerindo oportunidades relevantes de aprendizagem e desenvolvimento.
  • Compartilhe vídeos e histórias autênticas. A tecnologia de experiência de funcionário amigável em vídeo torna mais fácil para as organizações coletar e compartilhar vídeos gerados por funcionários, o que promove o pertencimento. “As pessoas precisam ver modelos, precisam ver reflexos de si mesmas na sua organização. A tecnologia pode ajudar nisso”.

Construir uma cultura de pertencimento não é um processo rápido, mas um compromisso a longo prazo. Requer esforço contínuo, conscientização e dedicação de toda a organização para criar um ambiente onde todos se sintam valorizados, respeitados e aceitos. Essa cultura não apenas melhora a satisfação dos colaboradores, mas também promove a inovação e o sucesso organizacional sustentável.

Aline Sousa, People Specialist do Angel Investor Club, Headhunter, Consultora de RH, Mentora de carreira, professora na Escola Conquer, colunista, eleita Linkedin Top Voices 2020 e Top 20 Influenciadores ibest. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.