“Complicado esse momento no qual estamos passando, você não acha?”

-Por que você me pergunta isso? Respondi à pergunta de um amigo em uma conversa informal,  refletindo diante de tantas alternativas geradoras de complicação, tais como: o avanço vertiginoso da tecnologia, a economia incerta, a educação no país com sérios problemas, a saída de times importantes e campeões da copa do mundo perdendo para países com futebol menos expressivo ou, ainda, quanto aos nossos filhos sendo estimulados excessivamente pelos games e programas de TV amorais ou imorais. Após a minha breve pausa de reflexão, a resposta de meu amigo foi:

– Ah! Refiro-me à política, à vitória de Lula nas eleições, os movimentos na frente dos quartéis em uma luta idealista para manter Bolsonaro na Presidência da República,  ao poder do STF, no entendimento de muitos, tendo rasgado a Constituição. É muito complicado esse momento, você não acha?

– Acho sim, respondi, pois diante de tantas informações a que somos bombardeados diariamente pelos noticiários, pelos jornais, revistas, blogs, lives, rádios… em especial as notícias e comentários compartilhados pela mídia digital. Essa pergunta e o cenário, realmente conturbados, me fizeram lembrar de um estudo realizado no curso de Pós-Graduação em Administração pela FMU, nos idos do final do século passado (me senti um pouco idoso agora…), chamado “A TEORIA DA DISSONÂNCIA COGNITIVA DE FESTINGER”.

O estudo cai bem nesse momento para avaliarmos a situação caótica e incerta vivida em nosso país. De um lado: um candidato eleito, mas em uma estrutura agitada com denúncias de ausência na transparência do processo eleitoral. E de outro: agindo como um xerife, ameaçando, multando e mandando prender quem o contradiz, também, conforme muitas denúncias, agindo à margem da constituição.

O conceito da dissonância cognitiva aborda a necessidade que todos nós temos de procurar a coerência entre os nossos conhecimentos, opiniões, crenças, emoções, enfim as nossas verdades. A dissonância ou o conflito existe quando há uma incoerência entre atitudes e comportamentos que julgamos corretos e aquilo que está sendo feito, efetivamente.

Essa teoria foi desenvolvida por Leon Festinger (1957), professor da New School for Social Research de Nova York, que sustenta que um indivíduo passa por um conflito no seu processo de tomada de decisão quando os elementos cognitivos estão em choque. Em outras palavras, quando uma pessoa possui uma opinião ou um comportamento que não condiz com suas crenças e valores, ocorre uma dissonância. Um detalhe importante é que nesse estudo o autor defende que a dissonância cognitiva inclui elementos, tanto cognitivos quanto emocionais, gerando um estado de desconforto, angústia ou ansiedade.

A teoria defende ainda que quando uma dissonância é disparada, o indivíduo irá, automaticamente, procurar mecanismos psicológicos diversos para reduzir ou eliminar esse conflito.

Nesse palco perturbado, desencadeiam incongruências nas decisões tomadas. Há pessoas com acesso às informações necessárias, que possuem o conhecimento suficiente e o discernimento entre escolher ou saber, de verdade o significado de uma linha de governo socialista/comunista, a exemplo de países que adotaram esse sistema e suas respectivas consequências.

O problema, na verdade, não é o candidato controverso em julgamentos, prisão, liberação, toda a influência da mídia e as denúncias acerca das urnas eleitorais, com os respectivos impedimentos para se aferir, a verdade, os fatos e apurações para se comprovar a lisura com a qual os responsáveis afirmam que o sistema eleitoral foi conduzido. Contudo, se não há problemas, por que não liberar o código fonte? Que urnas foram essas que contém a mesma numeração e não podem ser confiáveis? Por que, recentemente Hackers em uma feira em Las Vegas – EUA afirmaram e comprovaram que nenhum sistema é, por si só, inviolável?

Ainda, sobre isso, posturas avessas da mais alta instância do judiciário, que tem por objetivo principal salvaguardar a Constituição, ao que parece, tem agido em desacordo com sua missão, destacando-se:

– Censura de opinião, em especial a veículos de informação contrários às suas ideias, como a TV e Rádio Jovem Pan;

– Prisão de políticos contrários às suas ideias e ideologias e membros do congresso;

– Ações em que o STF se tornou defensor das ideias de um partido político e agindo de maneira parcial, como a “descondenação” do Lula.

Diante desse contexto, outros milhares de brasileiros clamando pela intervenção das forças militares para a liberação dos documentos para se comprovar a integridade das eleições, contestando o mesmo sistema cujo atual presidente foi eleito e gerando a todos nós, dúvidas e incertezas.

Estamos acompanhando as movimentações e impedimentos que também ferem a constituição brasileira no direito de ir e vir dos cidadãos, causando transtornos nas rodovias de todo o país, utilizando armas bélicas, destacando-se tanques, canhões e armamento pesado, como se estivéssemos nos preparando para uma guerra.

Independentemente das formas utilizadas para sobreviver, e até reduzir conflitos para se voltar à harmonia, comportamentos e atitudes resgatadoras do equilíbrio emocional, penso que esse é um momento muito importante para todos nós pensarmos com a cabeça, com o coração no futuro de toda a nação.

Seja de forma consciente ou inconscientemente podemos reduzir esse conflito e eliminá-lo de nossas crenças por meio do fortalecimento dos elementos contraditórios, geradores de novos pensamentos e novas ligações sinápticas, modificando as crenças e valores preexistentes e reduzindo com isso a grande massa de dissonância.

Outra forma de reduzir esse conflito é a capacidade de que algumas pessoas têm, em defesa do ego: de contrariar a lógica, criar falsas memórias, distorcer percepções, ignorar afirmações científicas ou desencadear uma perda de contato com a realidade criando eventuais surtos psicóticos.

Um exemplo clássico disso é a fábula “A Raposa e as Uvas” atribuída a Esopo (cerca de 620-564 a.C.). Na história, uma raposa vê algumas uvas dentro de um vaso e deseja comê-las. Após várias tentativas sem sucesso de alcançar as uvas com seu focinho, a raposa, então, decide que não vale a pena comê-las, com a justificativa de que as uvas, provavelmente não estão maduras ou que estão azedas, gerando a máxima de que “Qualquer tolo pode desprezar o que não pode ter”.

No contexto das relações de trabalho, sob o aspecto da cultura organizacional, quando há um desacordo dos valores e as crenças entre o colaborador e a empresa, o relacionamento fica prejudicado, podendo ser a causa de demissões ou a escolha da saída por parte do colaborador.

Perante o cenário exposto tão difuso e conturbado, nem todas as pessoas podem contar com um terapeuta ou um mentor para ajudar a ter clareza na melhor decisão a ser tomada ou o melhor caminho a ser seguido. Além disso, um bom profissional não te diz o que fazer ou o que não fazer, mas frequentemente faz perguntas inteligentes que levam o paciente ou o mentorado a refletir, guiando-o para conclusões mais saudáveis e congruentes com seus valores.

Escolhas erradas e decisões incongruentes, ao longo da vida, nos levam a arrependimentos, mesmo porque depois de decidido um caminho nem sempre há como voltar, por isso, a sugestão é ter muita calma nessa hora, pensar em si e na sua família, nos seus descendentes, verificar os principais cenários, fazer o que seu coração diz, nesse momento tão importante de desinformações, de manipulações, de fake news, de vários “donos da verdade”.

Como sugestão, relaxe e use seu poder de intuição e conexão com o seu eu mais sagrado para saber, profundamente, o que tem e o que não tem sentido para você. Afinal a vida é efêmera, nossa participação nesse planeta é ínfima, mas o que deixamos de legado, mesmo que seja uma pequena partícula, se perpetua na posteridade.

Avalie seus valores fundamentais, examine a seriedade das pessoas que se propuseram a conduzir a nação, analise a congruência de seu passado, das ações que já mostraram, o seu caráter e faça a sua opção. E, principalmente, cuide para que seus filhos tenham a melhor alternativa gerada pela sua escolha.

Reinaldo Passadori, Professor de Oratória e Escritor, Mentor, fundador e CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação. Adaptação do seu livro ‘Quem Não Comunica Não Lidera’ – Ed. Passadori. É um dos colunista do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.