As pessoas são o ativo mais valioso da empresa. Não tem organização que não esteja utilizando deste discurso hoje. O que é bom, muito bom!
Mas, se por um lado a ficha caiu e os executivos sabem que as pessoas são um fator competitivo estratégico, pois vemos até mesmo o mercado de capitais tentando precificar o capital humano das empresas, por que na maioria dos negócios o discurso não vira prática?
O que geralmente acontece no dia a dia, na disputa por atenção e recursos, é imperar o foco nos ativos tangíveis. Na rotina hiper acelerada, cheia de desafios, precisando tomar decisões rápidas e assertivas, o board é facilmente envolto e direcionado pelos fatores pragmáticos, ou seja, as tradicionais métricas econômicas e financeiras das questões.
A razão dessa realidade está fortemente associada à alta carga de idealismo com que o tema humano é pré-conhecido, abordado e muitas vezes reforçado, ainda mais nesse contexto, pelo próprio RH.
A realidade é que normalmente cria-se uma grande confusão. Por ser um ativo intangível, no geral, trata-se o tema humano com idealismo e não com o realismo necessário, para que de fato ganhe força e relevância na agenda organizacional.
E aqui está uma provocante reflexão: sim, o humano é fator intangível, mas não, não precisa ser uma questão idealista.
É preciso criar conexões. Integrar o intangível ao tangível. Não se trata de metrificar todas as ações e resultados do RH. Vai muito além do people analytics.
O ponto em questão é o mindset do RH, que precisa ser mais realista aos mecanismos factuais de competitividade e perenidade de uma organização.
Fazendo uma analogia, suponha que você tenha sido convidado para uma reunião com outras nove pessoas. Reunião para tomada de decisões. Todas as nove são nativas ou fluentes no idioma Italiano. Você não fala italiano e o mais próximo que chega desse idioma é com o português ou espanhol. O que você acha? Qual será a sua capacidade de ter atenção durante suas colocações? Por mais que as outras pessoas se esforcem para capitar alguns dos seus argumentos a conversa não flui. Se da sua parte a frustação o abate, nos demais a falta de compreensão os paralisa diante do tema, os deixa inseguros.
A habilidade mais poderosa de um RH é conseguir racionalizar os porquês das ações. Seja por meio de dados estatísticos, mas também por intermédio da lógica relacional que existe entre causas e efeitos, colecionando exemplos, fatos e referências.
Sabe o que nos torna humanos?
Você acha que é o afeto? A inteligência? Não. O que nos torna humanos é a consciência. Ser consciente é uma característica exclusivamente humana.
Então, racionalizar, ou seja, dar consciência para a gestão de pessoas, entendendo os porquês de fazer algo e integrando ações aos resultados tangíveis por meio de uma relação causa e efeito, jamais significará que estamos descaracterizando a intangibilidade do humano. Pelo contrário, estaremos verdadeiramente tomando posse de uma habilidade exclusiva (a de ter consciência) e usando inteligentemente para ganharmos comunicabilidade, influência e por consequência impacto.
Não tenha receio RH. É uma missão complexa, porém possível e muito satisfatória.
Mergulhe profundamente nas doces, porém turvas águas do rio, mas aprenda a navegar na superfície do mar, com águas transparentes e turbulentas. Pois assim será.
Se para liderar a Nova Gestão de Pessoas precisará conhecer o lado emocional e misterioso do humano, para fazer parte efetivamente da estratégia terá que saber também ir para a superfície do mar das organizações, onde exige-se clareza, compreensão e confiança para sobreviver nas turbulentas águas da competividade e evolução.
“Se está numa organização, deixe o idealismo submerso dentro de você, na prática, nas interações, foque no realismo para ganhar impacto e influência”
Aline Sueth é palestrante, mentora e diretora de gente e gestão do Grupo Elfa. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião da colunista. Foto: Divulgação.