“Temos que reter nossos talentos. Temos que blindar nossos colaboradores.”

“Precisamos de gente comprometida com a empresa!” 

Essas foram frases usadas durante uma das reuniões de Conselho de uma empresa, quando chegou a nosso conhecimento o pedido de demissão de um jovem gerente de logística que recentemente tinha sido promovido ao cargo.

Entendo a indignação e o sentido das frases, mas sinceramente não há nada mais antiquado e fora de moda do que as expressões “retenção” ou “blindagem de pessoas”.

As novas gerações, tanto as que estão iniciando sua trajetória profissional como também aquelas que já estão no mercado de trabalho, ficam arrepiadas só de ouvir isso.

Em um mundo híbrido e globalizado, onde a liberdade é cada vez mais valorizada, falar em retenção soa algo do tipo “detenção” nos ouvidos dessas pessoas.

Há uma mudança profunda no ambiente de trabalho, uma verdadeira revolução que vem acontecendo diante dos nossos olhos.

Contudo, infelizmente, as empresas não têm conseguido atuar e atender as novas demandas com a agilidade e eficiência necessárias.

Pesquisas e estudos de diferentes fontes apontam que pelo menos 1/3 dos colaboradores empregados querem mudar de empresa nos próximos 12 meses. E o mais alarmante: muitos desses já realizaram alguma ação nesse sentido.

Foi-se o tempo em que as pessoas praticamente “tatuavam” a logomarca da empresa que trabalhavam em seus corpos, permanecendo por 10, 15, 20 anos no mesmo emprego.

Sabemos que salário e benefícios, obviamente, são muito relevantes, mas já não são os principais fatores. É comum vermos colaboradores optando por salários menores em prol de uma “vida melhor”. E vida melhor tem diferentes vertentes, o que deixa ainda mais complexa essa questão!

O fato é que tenho visto talentos brilhantes deixando empresas líderes de mercado e com excelente reputação para trilhar outros caminhos. Parece que já não existe mais aquele anseio pela “empresa dos sonhos”.

Vou tentar exemplificar

Um gerente executivo de uma determinada multinacional não pensou duas vezes em mudar de empresa quando se desiludiu com a conduta adotada durante a crise da Covid-19 em 2020. Ele pediu demissão em plena pandemia e dois meses depois já trabalhava em outra empresa, onde permanece até hoje liderando novos projetos e desafios.

Semana passada, estive conversando com uma outra pessoa que me confessou estar em busca de novos caminhos. Ia inclusive usar o período de Carnaval para mapear as possibilidades. E olha que essa pessoa acabou de fazer uma entrega significativa e ganhar um expressivo bônus. Foi sua melhor performance desde que iniciou nessa empresa, há 7 anos.

Outro dia foi um sócio, herdeiro de um negócio familiar muito bem-sucedido, que também preferiu seguir novos horizontes. Não queria mais fazer parte daquele ambiente que estava inserido.

Tenho absoluta certeza que se você parar e refletir um pouco, vai se lembrar de inúmeros outros casos.

Nos três casos citados, havia boas políticas e diretrizes para retenção de talentos, mas tais iniciativas não foram suficientes!

Para mim, a questão crucial é que temos que mudar nosso mindset, nosso modelo mental e como consequência nossas atitudes e a forma de passar certas mensagens.

Não temos que reter ou blindar talentos e colaboradores, mas sim FIDELIZÁ-LOS! Fazer com que diariamente escolham vir trabalhar em nossas empresas, que se comprometam e se engajem com nosso Propósito.

Temos que cuidar da jornada de nossos colaboradores. Mostrar que estamos comprometidos de verdade com cada um, que estamos engajados em criar uma experiência positiva, saudável e agradável para todos, pois acreditamos que as pessoas devem escolher diariamente trabalhar em nossas empresas!

E vale um disclaimer aqui: experiência agradável não é necessariamente criar um monte de penduricalhos no ambiente de trabalho, como um espaço com mesa de pebolim, bilhar e frigobar!

Tenho plena convicção que cuidar dessa jornada do colaborador, de forma genuína e transparente, trará maior produtividade e engajamento de todos.

Para isso as atitudes dos líderes são fundamentais nesse processo e podem de fato fazer a toda diferença na construção dessa cultura, desse jeito de ser. E para mim o ponto de partida é enterrar de vez essa ideia de “Reter Talentos” e começar a busca pela “Fidelização das Pessoas e dos Talentos”.

Tenho certeza de que essa pequena mudança, mas de enorme simbologia, vai permitir que nossas iniciativas impactem positivamente a experiência de nossos colaboradores com nossas empresas, afinal queremos pessoas livres e fidelizadas, que escolham estar conosco, sem a necessidade de usar algemas ou grades!

Até breve e sucesso!

Por Milton Camargo, sócio co-fundador do Grupo Empreenda, consultor & palestrante. É um dos colunistas do RH Pra Você. Foto: Divulgação. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.