Com a crescente conscientização sobre o “quiet quitting” ou “demissão silenciosa”, uma conotação negativa vem crescendo em torno desse conceito. Comumente descrito como funcionários que não querem ir além da descrição de seu trabalho, a compreensão geral do termo sugere que a demissão silenciosa é mais sobre os funcionários “não se importarem com seu trabalho” do que não abordar o bem-estar do funcionário.

Por meio de nossa pesquisa VisualGPS, descobrimos que a maioria dos consumidores brasileiros se sente ansiosa em relação ao futuro. Em meio à guerra, recessão, aumento do custo de vida e medo de uma nova pandemia, é compreensível por que a perspectiva das pessoas se inclina para o pessimismo.

Esse contexto “barulhento” certamente teve um impacto no que foi descrito como comportamento “silencioso”. No entanto, não há nada tranquilo sobre esse novo impulso para as pessoas recuperarem seu equilíbrio entre vida profissional e pessoal; pelo contrário, parece um alerta muito barulhento para os empregadores.

Esta saída da agitação da cultura do trabalho prova mais uma vez a necessidade de reconhecer o importante papel que a saúde mental desempenha no dia a dia das pessoas – especialmente quando se trata de seu trabalho.

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No Brasil, essa conversa parece cada vez mais necessária. De acordo com pesquisas publicadas, funcionários de serviço e de “colarinho azul” trabalham 10 ou mais horas por dia no país. Os dados indicam que cerca de 44% dos brasileiros da Geração Z e Millennials estão mais focados em ter um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal do que em obter segurança no emprego (22%).

A partir de dados do VisualGPS, aprendemos que os trabalhadores de serviço e de colarinho azul no Brasil estão particularmente preocupados em ter flexibilidade suficiente para cuidar de suas famílias. E, infelizmente, apesar de ter menos dias de descanso e provavelmente altos níveis de esgotamento, é muito provável que eles simplesmente não possam “se demitir silenciosamente”.

Esta pesquisa se alinha com o efeito de divisão geracional do “quiet quitting” demonstrado por uma pesquisa recente do YouGov. Isso revelou que 82% dos adultos respondentes, com 65 anos ou mais, acreditam que os funcionários devem sempre ir além no trabalho, mas apenas metade dos adultos mais jovens entre 18 e 29 anos concordaram.

Além disso, esse mesmo grupo de jovens adultos (65%) acredita que os funcionários devem fazer exatamente aquilo pelo que são pagos – nem mais, nem menos. A maioria dos idosos (72%) não concordou com essa mesma afirmação.

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É muito importante notar que, enquanto alguns “quiet quitters” procuram separar suas identidades de sua vida profissional, isso não significa que eles desejam se desvincular completamente de suas vidas profissionais. De acordo com nossa pesquisa, entre todas as gerações, a Geração Z e os Millennials são os mais ansiosos para alcançar o sucesso no trabalho/carreira (57%) e estão priorizando sua segurança financeira (61%) acima de tudo.

Esses dados sugerem que eles não desejam se desligar completamente de suas vidas profissionais. Além disso, 65% consideram que é importante para eles ter um trabalho/carreira pelo qual são apaixonados e 48% se sentem motivados a encontrar sucesso financeiro.

O que parece ideal é um mundo onde os indivíduos tenham um trabalho pelo qual sejam apaixonados, sejam recompensados de forma justa e suas necessidades físicas, mentais e emocionais sejam atendidas.

É certo que isso pode não ser verdade para todos, especialmente entre os trabalhadores braçais, que estão particularmente preocupados em ter flexibilidade suficiente para cuidar de suas famílias, mas a segurança no trabalho e financeira e a saúde física e mental parecem ser os fatores determinantes que os empregadores devem abordar para minar os piores cenários de demissão silenciosa: desengajamento total e esgotamento do funcionário.

A demanda atual de levar mais a sério o bem-estar dos funcionários representa uma pressão extra para líderes de comunicação interna, departamentos de RH e proprietários de pequenas empresas. É crucial que eles comecem combatendo equívocos comuns, como a única maneira de ter sucesso profissionalmente é empurrando os limites pessoais, ou que o valor de uma pessoa é medido por sua produtividade.

Reconhecer que o trabalho não deve ser uma parte fundamental da vida pessoal de seu funcionário é um ótimo ponto de partida para reconhecer sua demanda por um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal.

Descobrimos que, para incentivar práticas saudáveis no local de trabalho, imagens e vídeos que reflitam funcionários felizes e relaxados, mostrando a “vida no trabalho” como uma atividade diurna e mostrando os funcionários em ambientes fisicamente seguros são uma boa maneira de uma empresa mostrar que eles se preocupam com o bem-estar dos funcionários.

Além disso, represente a equipe fazendo pausas, relaxando sozinha ou entrando em contato com colegas por meio de bate-papo por vídeo (algo que não é frequentemente visto) em vez de se concentrar nos tropos tradicionais da equipe ocupada no trabalho.

A necessidade de um equilíbrio entre vida profissional e pessoal que vem se destacando desde a pandemia e se manifesta em fenômenos como a demissão silenciosa mudará a forma como as empresas visualizam o mundo do trabalho para o futuro.

Quiet Quitting: alerta barulhento para os empregadoresPor André Pantaleão, diretor de vendas da Getty Images Brasil.

 

 

 

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Capa: Depositphotos