Nós colaboradores, muitas vezes criticamos nosso papel nas empresas que atuamos e também na vida, sem entender que somos muito parecidos com as abelhas de uma colméia.

Não fez sentido? Eu vou me explicar. 

Você gosta de frutas e legumes? Se a resposta é sim, você gosta do que as abelhas fazem. Esses e muitos outros vegetais não existiriam ou seriam muito diferentes sem a polinização feita por esses insetos. O café por exemplo, bebida que é paixão nacional, teria uma redução de mais de 30% na produção. A laranja quase desapareceria. 

Nem todos sabem a extensão da importância das abelhas e muitos acreditam que sua principal função é produzir mel e produtos como própolis e cera, mas, na realidade, sua principal atividade reside na manutenção e no desenvolvimento da biodiversidade, além de serem essenciais para a produção de alimentos. 

Algumas plantas dependem exclusivamente de animais polinizadores para sua reprodução, enquanto outras se beneficiam, produzindo frutos de melhor qualidade. Estima-se que 35% da produção agrícola global e 85% das espécies de plantas nativas dependem, em algum grau, deste trabalho.

Como criar uma cultura de feedback na sua empresa?

As abelhas são amplamente reconhecidas como as mais importantes polinizadoras em escala global, o que é essencial para a produção de alimentos e a manutenção da biodiversidade. Estima-se que mais de 90% das plantas com flores dependem de polinizadores animais, e as abelhas desempenham um papel crucial nesse processo

Por isso, eu comparo a cultura das abelhas e a de uma organização. Cada abelha desempenha uma função específica, contribuindo para o funcionamento harmonioso da colmeia. Ao realizar sua tarefa designada, seja a polinização das plantas ou outras atividades, cada uma delas compreende que sua participação é fundamental para o benefício coletivo da comunidade. Dessa forma, ao desempenhar suas funções dentro do escopo determinado, a colmeia como um todo experimenta os benefícios resultantes.

Assim como as formigas, as abelhas são uns dos melhores exemplos dentro do reino animal de criaturas com excelente habilidade para desenvolver comunidades bem estruturadas entre si. As colmeias, vistas como lar para cada grupo de abelhas, operam ao redor de uma rainha enquanto o restante das abelhas voam em busca de pólen e néctar. 

E assim também são as empresas, muitas vezes ao fazer o que nos é designado, não vemos o todo, mas isso não diminui ou não deveria diminuir o esforço de nosso trabalho. Nem sempre conseguimos enxergar o todo, o que não significa que o nosso trabalho não seja importante. O foco, deve ser sempre no que precisa ser executado, naquilo que fomos contratados para fazer. Entender a estratégia e poder participar dela, levará tempo e confiança. 

RH TopTalks cobertura

Nas organizações, existem áreas diferentes que devem convergir em prol de um único objetivo. E aí, é onde muitas vezes os problemas aparecem. Cada área querendo puxar para si a responsabilidade da entrega, sem entender que o todo é o mais importante.

É nessa hora que o papel do líder é essencial, ao mostrar aos colaboradores que, o resultado do todo é mais importante, onde cada um contribui com a sua parte para polinizar, fazer o mel, a geléia real, e manter a colmeia viva. Deixar claro os papéis e responsabilidades e o que se espera de cada pessoa contratada é a essência de uma organização, que vem sendo deixada de lado por muitas organizações e RHs. 

Há décadas, os cientistas têm conhecimento que com o passar dos anos, as abelhas mudam de funções dentro de uma colmeia. Entretanto, pesquisas recentes têm mostrado que as “etiquetas químicas” existentes no DNA de cada espécie exercem papeis importantes na determinação do plano de carreira de uma abelha, ou seja, para conseguirmos evoluir na carreira, precisamos de tempo, aprender coisas novas, sem esquecer da “task at hand”. Muitos colaboradores estão querendo pular etapas de conhecimento, de aprendizagem e de criação de confiança, nas organizações e na gestão. 

Além da rainha e dos zangões, responsáveis pela reprodução da colmeia, as abelhas trabalhadoras operam em dois grupos: as forrageiras e as enfermeiras. Enquanto as primeiras são quem vai atrás de pólen, néctar e água para a comunidade, as últimas são a grande maioria na colmeia e trabalham para garantir a segurança da rainha e de suas crias.

Pesquisa Infojobs

Novamente aqui vemos, que, dentro de uma organização, por mais descentralizada que seja, sempre haverá uma hierarquia, mais participativa, menos participativa, isso depende muito da cultura que se é criada dentro da organização, mas cada um precisa primeiramente cumprir o seu papel.

A cultura de uma organização não se faz com turnover alto, com pessoas saindo e entrando o tempo inteiro. Nós, colaboradores, precisamos nos empregar por afinidade, por um grupo de trabalho colaborativo, por um gestor que é correto, que não delega para a BP de RH ou ao agilista a gestão de conflitos, ou a falta de entrega da equipe.

Ouvimos muito: “  Eu não sei fazer”, “Não quero aprender”, “Contrata alguém que faça porque o fulano é muito bom tecnicamente”. Ai ai ai, desespero de qualquer gestor de RH! E aí, eu trago para a pauta o trabalho comunitário. Afinal trabalhamos em equipes, em squads, em áreas e ninguém é uma ilha, certo?

Em média, uma colméia possui uma população de 10 a 50 mil abelhas trabalhadoras.

Proporcionalmente, as forrageiras representam 30% desse grupo, mas podem assumir uma fatia maior dependendo de alguns fatores ambientais. Na época de floração das plantas, por exemplo, mais abelhas se desenvolvem em forrageiras para aproveitar a oferta aumentada de alimento.

Ou seja, precisou sair do seu escopo para ajudar um colega, mas não está na descrição do cargo, faça! Ajudar faz bem ao ser humano, nos faz crescer, evoluir e no pior dos cenários, você terá aprendido algo novo. Ajude seu colega, dê ideias, seja empático! Ninguém está bem o tempo inteiro! Se puder ser gentil, e ajudar, que assim seja. 

Uma colmeia opera exclusivamente ao redor de sua abelha-rainha, responsável por ordenar todas as outras. Sem uma abelha rainha, uma colônia perde completamente seu ponto de referência e é possível notar um aumento de agressividade e agitação entre as abelhas. Imagina se todo mundo saísse dando ordem o tempo inteiro? Não seria o caos? Então sim, volto a falar que por mais “flat” que seja uma organização, ela precisa de hierarquia.

Precisa de métricas (que dêem lucro). Sim, vamos endereçar o elefante na sala: empresas precisam dar lucro, assim como colmeias dependem do mel para sobreviverem. Não estou dizendo que precisa ser “waterfall”, nem comando e controle (aliás isso não funciona e não engaja há tempos), mas também não podemos ir para o outro lado do espectro de que tudo isso, que é,  só querer estrategiar!

É preciso botar a mão na massa sim, fazer o trabalho operacional e tático. Afinal, a gente não ajudou a construir a estratégia?

Agora, quando uma rainha se torna muito velha ou adoece, as abelhas enfermeiras passam a secretar uma “geleia real” rica em ácidos graxos e proteínas, alimentando algumas larvas com esse produto. Essa dieta estimula o crescimento de uma nova abelha-rainha, que assumirá o controle da comunidade e restabelecerá a paz na colmeia.

O que quero mostrar com esta frase é que sim, muitas vezes, os líderes já não cabem mais dentro de uma organização, e, cabe ao RH, junto com as áreas parceiras que apoiam, identificar quando esta oxigenação se faz necessária. 

Cada vez mais, estamos colocando pessoas mais jovens em cadeiras de liderança. E sim, são pessoas super competentes tecnicamente, mas que ainda não tem gestão na sua caixa de ferramenta, como ajudamos estes líderes? Muitas vezes eles são crucificados pela própria equipe por isso que assim como as abelhas, acho que o talento tem que vir de dentro de casa. Sim, aqueles programas de sucessão que o RH promove e que muita gente acha chato.

Dar oportunidade para aqueles colaboradores que saíram da zona de conforto, que foram se preparando para atividades que não sabiam fazer. Que foram aprender mais do que técnica, mas a difícil arte de tocar o coração humano, de ouvir, de fazer o sangue pulsar, de ajudar a acender a fagulha da motivação.

De mostrar que aquele ser humano pelo qual você se tornou responsável, não precisa somente da ajuda para uma fórmula de excel ou ajuda com um código ou um texto. Mas que muitas vezes você líder, empreste seu ouvido, doe seu tempo. Não estou dizendo que é fácil. Estou dizendo que funciona!

Para chegar até a fase adulta, a abelha passa por diversas transformações, chamadas de metamorfose, seguindo a sequência de ovo, larva, pré-pupa, pupa e adulto. Ao todo, são 21 dias entre a postura e o nascimento de uma abelha operária, 16 dias para a rainha e 24 dias para o zangão. Mais uma vez a natureza nos mostra que precisamos passar por diferentes fases dentro de uma organização.

Que precisamos cimentar o nosso trabalho. Que não dá para sair de um estagiário para gerência, ou de um júnior para sênior em semanas, em um ano. Tudo precisa de tempo,  é isso que a natureza nos ensina, que a nossa geração não tolera: esperar pelo tempo certo. Ter paciência. 

Quando não proporcionamos uma visão clara de norte, métricas globais da empresa, métricas de área, métricas de indivíduo, como vamos comemorar as conquistas? Ou melhor, como saberemos se temos o que comemorar ou lamentar?

Eu sempre questionei os gestores que trabalharam comigo sobre cada contratação, sobre o que aquela  “cadeira” que estava sendo preenchida seria responsável por entregar e o que era esperado.

Quando o líder não sabe, ou não consegue mensurar isso, eu penso novamente sobre a abelha rainha que já está velha para sua função. Porque nós líderes temos que saber, e sim, é nossa obrigação. 

Quando a entrega do resultado não está alinhada com a cultura da empresa, pode ocorrer o que acontece no mundo das abelhas: um fenômeno conhecido como enxameação, que é causado por diversos motivos, tais como: falta de espaço para o desenvolvimento da colméia, favos velhos e defeituosos, rainhas velhas (neste caso, duas princesas sobreviverão: uma permanecerá na colmeia e a outra acompanhará metade do enxame para outro local), instinto “enxameatório”. Portanto, um enxame pode se dividir (enxameação). E isso, desestrutura a estabilidade de qualquer organização. 

Tudo começa pelo líder. E tudo passa pelo líder. Como está a liderança na sua empresa? 

O que as empresas podem aprender com as abelhas

Por Andreia Girardini, especialista em Pessoas e Cultura com mais de 15 anos de experiência na área, atuou em empresas como GetNinjas, Cargill, Energizer e Endurance International Group. É formada em Business Management pela Kingston University e pós graduada em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV, com MBA em Essencial Master Coaching pelo Ipog.

 

Ouça o episódio 163 do podcast RH Pra Você Cast, “O engajamento ainda é uma métrica valiosa?“. Uma pesquisa recente do O.C Tanner Institute trouxe um questionamento: o engajamento ainda é uma métrica eficiente para as empresas? Segundo o estudo, apesar dos bilhões de dólares que as organizações investiram para “impulsionar” o engajamento, as melhores avaliações desse conceito fundamental não mostraram muita melhora. Neste episódio, buscamos tentar trazer algumas reflexões para essa dúvida. A métrica ainda é valiosa? Se sim, de que forma? E qual a importância de entender o que se busca antes de aplicar tal medida? Quem nos ajudou a entender esse panorama foi Patricia Fechio, Diretora de Talent na EY. Acompanhe!

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