Você já tentou falar sobre suas emoções para seu líder? O que você sentiu quando demonstrou raiva, tristeza ou alegria na frente de seus colegas? E na frente da diretoria? Podemos receber respostas diversas a essas questões.

Isso porque, ao longo da história, as organizações foram moldadas por uma cultura que enfatiza a objetividade e a racionalidade, muitas vezes relegando as emoções a um segundo plano. A ênfase na eficiência operacional e na produtividade contribuiu para a criação de um ambiente em que as expressões emocionais são frequentemente desencorajadas ou consideradas irrelevantes para o desempenho profissional.

O que se observa é que a expressão aberta de emoções muitas vezes é estigmatizada, criando um ambiente no qual os profissionais hesitam em compartilhar suas verdadeiras experiências emocionais. O medo de serem mal interpretados, rotulados como fracos ou prejudicados profissionalmente é uma barreira significativa que impede a comunicação genuína no local de trabalho.

Quem são os responsáveis por essa dificuldade?

A tradição de separar a esfera pessoal da profissional remonta a décadas de práticas organizacionais. Taylor (1920) delineou princípios de eficiência industrial estabelecendo uma base para a ênfase na objetividade e na racionalidade. Essa tradição histórica contribui para a criação de ambientes nos quais as emoções são frequentemente relegadas a segundo plano. Assim, ao longo da história, as organizações foram moldadas por uma cultura que enfatizam objetividade e racionalidade, relegando as emoções para um segundo plano, desencorajando sua expressão e a própria aceitação e escuta por parte da liderança.

A partir desta constatação, pode-se afirmar que a influência da liderança na promoção de uma cultura emocionalmente aberta é bastante significativa. Empresas que contam com líderes que incentivam a expressão e compreensão das emoções criam um ambiente mais saudável e produtivo, alterando a cultura histórica da não expressão de emoções. No entanto, não é tão fácil tornar real esse ambiente, por conta de vários aspectos: um deles, e acredito ser o maior, é o despreparo que a liderança tem em falar dos próprios sentimentos e emoções. E, se os líderes apresentam essa dificuldade, pode-se imaginar o que significa ouvir e acolher a emoção de um colaborador. A expressão das emoções rouba tempo dos resultados, portanto, para a maior parte dos líderes, é pura perda de tempo dar vazão a “essas coisas”.

Por outro lado, há a dificuldade inerente ao colaborador em reconhecer e falar sobre o que sente. Parece estranho, mas o mundo mecanizado e impessoal trouxe para cada um de nós o amortecimento dos sentimentos e, por consequência, das emoções, que são difíceis de serem reconhecidas. Por exemplo: neste momento, sinto angústia ou ansiedade? Tristeza ou desengano? Frustração ou arrependimento? Alegria ou amor? Bem querer ou atração? Temos dificuldade em olhar para dentro de nós e identificar o que sentimos. Assim, como falar de algo que não se sabe exatamente o que é?

Então, a combinação do despreparo da liderança com a dificuldade pessoal, cria parte dessa dificuldade de falar sobre emoções e consequências desastrosas para a saúde mental, assim como para o clima, produtividade e inovação, tão importantes para a empresa.

Analisando ainda mais de perto o motivo desse sério problema que parece permear as relações interpessoais nas empresas, identificamos:

  1. Pressões e Expectativas Profissionais

Profissionais enfrentam uma série de pressões no ambiente de trabalho, desde a necessidade de cumprir metas rigorosas até o desejo de manter uma imagem profissional sólida. Essas pressões, combinadas com a expectativa de conformidade com normas culturais, contribuem para a relutância em compartilhar emoções, mesmo quando essas discussões podem ser benéficas.

  1. Estigma Cultural e Profissional: O Medo do Julgamento

O estigma cultural em torno da expressão emocional é uma barreira significativa. A pesquisa de Goffman (1963) sobre estigma social oferece insights sobre como as normas culturais podem influenciar a percepção das expressões emocionais no ambiente de trabalho, criando um receio generalizado de julgamento e estigmatização. O medo de ser interpretado mal, rotulados como despreparados(as) é barreira significativa que impede uma comunicação genuína no local de trabalho.

Mas, o que fazer para vencer essas barreiras?

Estratégias para Superar Barreiras

A superação das barreiras para falar sobre emoções no ambiente de trabalho requer um esforço colaborativo entre liderança e colaboradores. Abaixo estão estratégias detalhadas que contemplam ações tanto da liderança quanto dos colaboradores, visando criar um ambiente mais propício à expressão emocional.

Liderança:

Treinamento em Inteligência Emocional: Investir em programas de treinamento para líderes, focados na compreensão e gestão das emoções. Isso permite que os líderes estejam mais bem equipados para lidar com questões emocionais de suas equipes.

Demonstração de Vulnerabilidade: Líderes que compartilham suas próprias experiências emocionais criam um ambiente mais aberto. Isso encoraja os colaboradores a fazerem o mesmo, estabelecendo uma cultura de autenticidade.

Criação de Espaços de Diálogo: Líderes podem estabelecer fóruns regulares para discussões abertas sobre emoções, onde os colaboradores se sintam à vontade para compartilhar suas experiências e preocupações.

Políticas de Apoio Emocional: Implementar políticas organizacionais que incentivem o suporte emocional, como programas de aconselhamento ou flexibilidade no gerenciamento de horários em situações emocionalmente desafiadoras.

Promoção de Ambientes Inclusivos: Implementar rodas de conversa com pessoas de diferentes marcadores sociais.

Educação sobre Inteligência Emocional: Estimular e oferecer possibilidades de trocas sobre o tema, seja em reuniões programadas, seja em ações de desenvolvimento.

Treinamento Contínuo: Investir em programas de treinamento contínuo em inteligência emocional para toda a equipe, promovendo uma cultura organizacional que valoriza a compreensão e gestão das emoções.

Mentoria em Inteligência Emocional: Líderes podem oferecer mentorias específicas em inteligência emocional, compartilhando suas habilidades e conhecimentos com outros membros da equipe.

Reconhecimento e Celebração: Reconhecimento de Contribuições Emocionais: Reconhecer publicamente as contribuições emocionais positivas dos colaboradores para reforçar a importância da expressão emocional no ambiente de trabalho.

Celebração de Diversidade Emocional: Celebrar a diversidade emocional, reconhecendo que diferentes perspectivas e experiências emocionais contribuem para a riqueza do ambiente de trabalho. 

Colaboradores:

Comunicação Transparente: Colaboradores podem incentivar a liderança a adotar uma comunicação mais transparente sobre as emoções, promovendo uma atmosfera de confiança mútua.

Feedback Construtivo: Oferecer feedback construtivo aos líderes sobre a eficácia de suas abordagens emocionais. Isso incentiva uma liderança mais alinhada às necessidades emocionais da equipe.

Iniciativas de Apoio entre Pares: Os colaboradores podem organizar iniciativas, como grupos de apoio emocional entre pares, para criar redes de suporte informais no ambiente de trabalho.

Participação Ativa: Engajar-se ativamente nos espaços proporcionados pela liderança para discussões emocionais, demonstrando a importância da expressão aberta de sentimentos.

Autoeducação: Incentivar a autoeducação em inteligência emocional. Colaboradores podem buscar recursos, livros e cursos que os ajudem a compreender e gerenciar suas emoções.

Compartilhamento de Conhecimento: Colaboradores que desenvolvem habilidades em inteligência emocional podem compartilhar esse conhecimento com colegas, promovendo uma cultura de aprendizado mútuo.

Reconhecimento Recíproco: Colaboradores podem praticar o reconhecimento recíproco, destacando as contribuições emocionais uns dos outros, incentivando uma cultura de apreciação.

Celebração de Conquistas Pessoais: Compartilhar conquistas pessoais, incluindo as emocionais, dentro da equipe, para criar um ambiente que valorize o crescimento individual.

Essas estratégias integradas, que envolvem tanto a liderança quanto os colaboradores, podem transformar significativamente a cultura organizacional, tornando-a mais receptiva e compreensiva em relação às emoções no trabalho. Essa abordagem colaborativa não apenas beneficia o bem-estar emocional dos colaboradores, mas também contribui para ambientes de trabalho mais inovadores, colaborativos e produtivos.

Benefícios da Expressão Emocional no Trabalho

Apesar das barreiras, há evidências substanciais que indicam que os benefícios da expressão emocional ultrapassam as possíveis dificuldades. Funcionários que se sentem livres para compartilhar suas emoções conseguem melhorias na saúde mental, aumento da satisfação no trabalho e fortalecimento das relações interpessoais, fatores que tornam o ambiente mais colaborativo e produtivo.

Empresas que adotaram práticas inovadoras para promover a discussão aberta de emoções no ambiente de trabalho demonstram que é possível superar as barreiras culturais. Experiências positivas de funcionários destacam como um ambiente emocionalmente saudável pode impactar positivamente a satisfação e o desempenho no trabalho.

Conclusão

Em suma, falar sobre emoções no contexto do trabalho não é apenas benéfico, mas é crucial para a criação de ambientes de trabalho saudáveis e produtivos. Essa abordagem não apenas fortalece as relações interpessoais e promove a saúde mental e a satisfação no trabalho, como também contribui para a inovação e resiliência organizacional, elementos fundamentais para o sucesso a longo prazo de qualquer empresa. O diálogo aberto sobre emoções no trabalho é, assim, uma ferramenta valiosa na construção de ambientes laborais mais humanizados e eficazes.

Referências:

  • Taylor, F. W. (1920). The Principles of Scientific Management.
  • Goffman, E. (1963). Stigma: Notes on the Management of Spoiled Identity.
  • Bass, B. M. (1985). Leadership and Performance Beyond Expectations.
  • Goleman, D. (em inglês) (em inglês (em inglês) (1995). Emocional em
  • Hochschild, A. R. (1983). The Managed Heart: Commercialization of Human Feeling.
  • Barsade, S. G. (2002). The Ripple Effect: Emotional Contagion and Its Influence on Group Behavior.

Profa. Dra. Fátima Motta, Sócia-Diretora da FM Consultores. É uma das colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.

Consciência Emocional é o maior desafio para os humanos seres que somos. É ela que nos diferencia dos animais e, pela dificuldade de construí-la, talvez seja o que gera maior problema nos relacionamentos, sejam eles profissionais ou pessoais.

As palestras, programas e mentorias que desenvolvemos têm sempre como objetivo fornecer ferramentas, metodologias e caminhos, para que você possa lidar com suas emoções de forma a gerenciá-las, criando e mantendo relacionamentos saudáveis, bem como tomando decisões acertadas.

Venha conhecê-las!

WhatsApp https://wa.me/qr/H6SVHFHUH2LFL1