Desvendando o People Centric: Estratégia e Humanização nos Negócios que impulsionam resultados.
Não é novidade que o sucesso das organizações está ligado ao equilíbrio entre três fatores essenciais:
- estratégias sólidas de negócio,
- eficiência operacional e
- bem-estar de sua força de trabalho.
Contudo, o bem-estar das pessoas é um elemento relativamente novo como tendência organizacional e, como toda nova tendência, vem se acertando aos poucos.
Pesquisas de instituições respeitadas como McKinsey, Gallup, Deloitte e World Health Organization já comprovaram: uma abordagem People Centric – ou centrada nas pessoas na tradução literal — não apenas promove a satisfação de profissionais, mas também impulsiona os resultados empresariais.
Contudo, falar de estratégia “centrada em pessoas” ainda parece ser polêmico. Provavelmente porque seja preciso entender o que é esta abordagem, na prática, e, talvez o mais importante… o que não é.
Já que contra fatos não há argumentos, iniciaremos com dados. Segundo a pesquisa da McKinsey, instituições com um foco central nos colaboradores têm um desempenho financeiro superior de até quatro vezes em comparação a outras organizações.
O relatório Gallup, por sua vez, revela que equipes engajadas apresentam 21% a mais de lucratividade para as empresas.
Outra gigante de estratégia e dados, a Deloitte, destaca que organizações com cultura inclusiva são três vezes mais propensas a ter um desempenho de referência em inovação e crescimento.
E o dado que toda empresa gosta de ouvir: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), ambientes de trabalho saudáveis resultam em economia de custos. Todas essas pesquisas têm em comum iniciativas de culturas centradas em pessoas — ou people centric se você prefere em inglês.
O conceito people centric não tem uma data de origem claramente documentada, mas o termo passa a ganhar destaque no final do século XX e início do XXI quando organizações passaram a reconhecer colaboradores como parte integrante e valiosa das organizações.
À medida que a economia global evoluiu, deixou de considerar as pessoas como “recurso” para chamá-las de “capital humano” (o que já traduz o novo espaço conquistado pelos funcionários no coração das empresas), fazendo com que conceitos como experiência de colaborador e “people centric” se tornassem centrais para discussões sobre gestão e liderança.
A gestão centrada em pessoas é hoje um imperativo para as organizações que buscam o lucro, sim, mas — como costumo dizer não apesar das pessoas, mas com as pessoas.
Em vez de se concentrar exclusivamente em lucros, eficiência ou outros objetivos corporativos, a visão people centric reconhece que o sucesso a longo prazo é mais facilmente e melhor alcançado quando as necessidades, bem-estar e aspirações das pessoas são consideradas. Desta forma, reconhecem que os colaboradores são um grande ativo da organização, investe-se em seu desenvolvimento, bem-estar e satisfação para impulsionar o engajamento, a produtividade e a retenção.
Lideranças se ocupam em entender e valorizar as perspectivas dos colaboradores, buscando feedback regularmente, ouvindo ativamente e tomando decisões que consideram o impacto humano.
Organizações priorizam a criação de ambientes de trabalho inclusivos, respeitosos e colaborativos, no qual as pessoas se sintam seguras e valorizadas. Oferecem genuinamente oportunidades de aprendizado e desenvolvimento, apoiando times a crescerem e avançarem em suas carreiras. Coletam e usam feedbacks para informar e refinar suas estratégias e operações.
Embora com méritos indiscutíveis, como qualquer abordagem, é possível ir ao extremo do pêndulo e comprometer outros aspectos cruciais dos negócios. Alguns riscos são comumente associados à ineficiência operacional (focar demais nas necessidades individuais pode levar a processos operacionais ineficientes), dificuldade de tomada de decisão (tentar atender a todas as solicitações ou feedbacks dos colaboradores pode resultar em indecisão; ou em uma estratégia empresarial confusa; ou ausente), conflitos de interesses (se cada decisão for baseada principalmente nas preferências dos colaboradores, pode resultar em falta de alinhamento com os objetivos da empresa) e custos elevados (investimentos excessivos em benefícios e programas podem levar a custos elevados, afetando a sustentabilidade financeira da organização).
Para encontrar o equilíbrio recomendo ter uma visão integrada que combine as necessidades dos colaboradores com os objetivos da organização. A estratégia empresarial deve incluir o bem-estar dos colaboradores como um de seus pilares, mas não o único. Além disso, embora seja crucial ouvir os colaboradores, as decisões devem ser tomadas com base em um equilíbrio entre feedback, dados e objetivos empresariais.
Ao mesmo tempo que as empresas cuidam do bem-estar dos colaboradores, também devem comunicar claramente suas expectativas quanto ao desempenho, responsabilidade e contribuição para os objetivos da empresa. Isso também passa por formar líderes que compreendam o valor e os desafios de uma abordagem centrada nas pessoas e que equilibrem empatia com eficácia — essa pode ser a diferença entre sucesso e fracasso.
E por fim, mas não menos importante, assim como qualquer estratégia de negócios, a abordagem “people centric” deve ser revisada regularmente para garantir que esteja alinhada com os objetivos gerais e seja financeiramente sustentável.
Um exemplo notável de empresa que adotou a people centric é o Airbnb. Pioneira no conceito de experiência do colaborador (o employee experience — outro termo em inglês que a gente adora), a gigante da hospitalidade é reconhecida por sua cultura inovadora, que prioriza o bem-estar dos seus funcionários, incentivando a autonomia, a diversidade e a criatividade.
A empresa implementou práticas como horários flexíveis, oportunidades de aprendizado contínuo, entre outros, resultando em altos níveis de satisfação e retenção de talentos. Talvez o mais incrível do Airbnb não tenha sido apenas a cultura people centric, mas a capacidade genuína de construir uma cultura organizacional transversal — como costumo chamar — na qual a empresa se posiciona para dentro e para fora com os mesmos princípios, sendo altamente consistente e considerando tanto funcionários quanto parceiros (os hosts ou anfitriões no português) como essenciais em sua estratégia.
Por isso, para mim segue sendo uma das empresas que conheço que são mais coerentes do uso genuíno do conceito people centric, sem descuidar do negócio. Na prática, isso quer dizer que, decisões que priorizam o negócio são feitas com consideração humana necessária.
A gestão people centric não é apenas uma tendência ou um conceito moderno. É uma necessidade para empresas que buscam sucesso sustentável. Olhar para os colaboradores como seres humanos integrados e não apenas como números em uma planilha, faz toda a diferença.
No entanto, enquanto uma abordagem centrada nas pessoas é fundamental para o engajamento e a satisfação dos colaboradores, é essencial que ela seja equilibrada com os objetivos, estratégias e sustentabilidade da empresa.
Como sociedade, parece que estamos em um pêndulo, aplicando por tentativa e erro o uso do conceito na prática. Mas assim, gradualmente, vamos achando o equilíbrio e tendo um impacto positivo para o negócio com as pessoas, e não apesar das pessoas.
Por Milena Brentan, fundadora da MB People como mais um passo em seu objetivo de disseminar práticas de RH e desenvolvimento humano. Milena com mais de duas décadas de atuação, passando por Airbnb, onde atuou como Líder de RH para a América Latina, e a Venture Capital, Vox Capital, servindo como Diretora e Sócia Operadora.
Ouça o episódio 150 do RH Pra Você Cast, “Dar feedback ainda é um desafio para as empresas?“. “Preciso te dar um feedback”. Essa palavrinha, que já nos apropriamos há tempos do inglês, para muitos, ainda causa certo frio na barriga. Mas, em qualquer relação e, claro, incluindo o universo corporativo, o seu princípio é um só: o de evoluir. Segundo o nosso convidado de hoje do RH Pra Você Cast, Bernardo Leite Moreira, Consultor e Especialista em feedback, é necessário que ele seja protagonista. O que mudou nos processos de feedback? Há um momento certo para ele? Falamos sobre tudo isso no episódio de hoje. Acompanhe clicando no app abaixo:
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