Sem estudo, sem emprego. É essa a realidade de 35,9% dos jovens brasileiros entre 18 e 24 anos, segundo o relatório Education at a Glance 2022, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para os integrantes de tal estatística, há até uma nomenclatura curiosa: geração “nem-nem”.
Ainda de acordo com o documento, a média brasileira de jovens sem qualquer tipo de ocupação representa mais do que o dobro da média dos países que integram a OCDE, cujo índice é de 16,6%. Enquanto o Brasil ocupa uma das últimas posições do ranking de 38 nações, ao lado da Grécia, da Itália e da África do Sul, os Países Baixos ocupam a liderança, com apenas 4,6% de jovens sem estudo e trabalho.
No relatório, que constata também que 18% dos estudantes brasileiros desistem da graduação e 49% só a concluem cerca de três anos após o programado, é dito que “esse grupo, dos que não trabalham nem estudam, deveria ser uma grande preocupação para os governos, já que alertam para uma situação de desemprego e desigualdades sociais”.
Carlos Henrique Mencaci, presidente da Associação Brasileira de Estágios, corrobora que a evasão escolar, seja ela nos colégios ou nas universidades, deve ser olhada com maior atenção, uma vez que a questão não apenas impacta socialmente, como também economicamente.
Recordado por Mencaci, o estudo “Consequências da Violação do Direito à Educação”, da Fundação Roberto Marinho e do Insper, elucida que a evasão dos estudos gera, por aluno, perda de R$ 372 mil para o país, uma vez que o custo da educação básica por aluno é de cerca de R$ 90 mil. “Essa é uma perspectiva crítica tanto para a economia, quanto para a educação. Afinal, a mudança da nação é potencializada pelo ensino e pela juventude”, pontua.
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A culpa é dos jovens?
A busca por emprego pela parcela da população com idade entre 19 a 24 anos é a mais expressiva, pois ocorrem muitas frustrações oriundas de vários motivos, sobretudo com empresas que pedem experiência e não oferecem oportunidade. Uma vez que muitos jovens que terminam o ensino médio dependem de uma ocupação para migrar para o ensino superior, a ausência de um gera, por consequência, a falta do outro.
Ainda assim, embora a capacitação seja extremamente importante para abrir as portas do mercado de trabalho às novas gerações, uma graduação não significa garantia de emprego. Um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) identificou que, entre Julho e Setembro de 2021, 16% dos jovens que tiveram a oportunidade de concluir o ensino superior não estavam trabalhando e tampouco seguiam estudando.
Para Joana Costa, pesquisadora do Centro Brasileiro de Cursos (Cebrac), é fundamental que haja a compreensão de que a base do problema não está relacionado à falta de vontade e de esforço da população jovem, que muitas vezes é estigmatizada por não ser uma geração que mira ‘criar raízes’ dentro das organizações. “São jovens que têm acesso a educação de baixa qualidade e que, por isso, encontram dificuldade no mercado de trabalho”, diz.
Com base nos dados, Joana deixa claro que é cada vez mais importante que não apenas o poder público, mas também as empresa invistam em treinamento e educação para que os nem-nem consigam acessar melhores oportunidades de emprego e possam fazer a transição entre os momentos da vida de estudos para o mercado de trabalho com mais precisão.
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Formação universitária é um desafio
O estudo “Síntese”, realizado pelo Instituto da Oportunidade Social (IOS), destaca que apenas 18% dos jovens com até 25 anos buscam graduação e destes 74% estudam em universidades particulares. Outro dado importante, desta vez do IBGE, retrata que a atual população entre 15 e 29 anos do Brasil é a maior de sua história – 47 milhões de pessoas -, o que reflete para que ela seja a mais afetada pelo desemprego.
Gestora de Operações do IOS, Alecsandra Neri, em artigo, pontua que “os programas de primeiro emprego destinados às juventudes são cobrados das empresas e devem ser encarados por elas como ação social de fato, pois trabalho é tudo o que o jovem precisa. Primeiro é preciso dar a oportunidade de emprego, depois exigir a formação”.
A especialista salienta que outro fator prejudicial aos jovens é o excesso de exigências curriculares, que muitas vezes não condizem com a realidade dos novos profissionais e estão incluídas até mesmo em vagas de estágio.
“Injustamente, os jovens mais distantes das oportunidades ainda são acusados de não promoverem seu próprio desenvolvimento. De acordo com dados do IBGE, em 2019, o país registrou 9,3 milhões de estudantes no ensino médio, dos quais 7,1% frequentavam algum tipo de curso técnico. A pandemia acelerou esse processo e a procura por qualificação profissionalizante tem aumentado. Eles já entenderam que os cursos complementares ajudam no aumento das oportunidades de trabalho”, compartilha a gestora.
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O papel das empresas
Alecsandra ressalta que muitas ONGs oferecem importante auxílio ao mercado de trabalho para desenvolver não apenas habilidades técnicas dos profissionais da nova geração, como também soft skills.
“Esse é o caminho que as empresas, em especial as do setor de Tecnologia, tem percorrido para formar em tempo hábil, novos talentos para ocupar inúmeras vagas que não param de surgir. Até 2025, segundo a Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação), serão 800 mil vagas a serem preenchidas e não haverá profissionais o suficiente para ocupá-las. Isso já está ocorrendo”, acentua.
Além disso, à medida que as companhias abrem oportunidades e promovem capacitação, tais práticas contribuem para a maturação de suas agendas ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança), que tendem a ser importantes diferenciais competitivos para os próximos anos. Prova disso é a estimativa da Bloomberg que aponta que a agenda deve atrair cerca de US$ 53 trilhões em investimento até 2025.
“Um estudo do IOS indica que um jovem que está formado em seus cursos, quando inicia no primeiro emprego consegue incrementar a sua renda familiar em 54%. Isso é impacto social positivo. Ainda com relação às demandas ESG, esses jovens, que no geral, são oriundos de escola públicas, de bairros periféricos e ligados aos marcadores sociais, contribuem para aumentar a diversidade dentro das empresas”, escreve Alecsandra.
Por Bruno Piai