Segundo o Relatório sobre o Futuro dos Empregos de 2023, nos próximos quatro anos o mercado de trabalho deverá passar por uma significativa mudança. Isso porque a estimativa é que 23% dos empregos no mundo irão se transformar até 2027, o que significa, em números brutos, 69 milhões de novas vagas e 83 milhões de empregos eliminados no período.
A automatização também entra na conta da nova era dos trabalhos ao redor do globo. Economistas do Goldman Sachs acreditam que 300 milhões de empregos em tempo integral podem ser automatizados. Por outro lado, o uso da IA pode aumentar a produtividade e impulsionar o aumento do PIB global em 7% ao ano, durante os próximos 10 anos.
À medida que a transformação ocorre, as organizações se veem diante de desafios a serem superados, como a falta de qualificação e a consequente escassez de talentos para algumas das novas vagas. De acordo com a pesquisa Escassez de Talentos 2023, do ManpowerGroup, quase 4 em cada 5 empregadores (77%) relatam dificuldades para encontrar os profissionais de que precisam. No Brasil, a taxa sobe para 80%. Para efeito de comparação, por mais que a estatística brasileira tenha sido 1% menor do que em 2022, em 2018 era de apenas 34%.
O mesmo estudo revela que as empresas de grande e pequeno porte são as que mais têm dificuldades com a escassez de bons profissionais: 82% e 81%, respectivamente. Médias e microempresas vêm na sequência, com 79% e 77%.
Para Luiz Alberto Ferla (capa), fundador e CEO do DOT Digital Group, empresa de educação corporativa, mais do que nunca as companhias devem olhar com genuíno cuidado para a capacitação de seus colaboradores. O executivo salienta que a educação corporativa será o grande diferencial para que as empresas consigam encontrar os talentos que buscam.
“As empresas precisam investir na capacitação contínua das pessoas, independente da posição ocupada. Muitas delas ocupam, hoje, posições que podem ser extintas em um futuro não tão distante e precisam estar aptas a preencher as vagas que estão sendo criadas. A aceleração da tecnologia, o compartilhamento de informações e a conexão entre as pessoas têm mudado as relações de trabalho de várias maneiras: as habilidades técnicas precisam ser aprimoradas para lidar com as novas tecnologias, as pessoas têm se dado conta cada vez mais do impacto que o trabalho pode ter nas suas vidas e as empresas precisam estar preparadas para as necessidades e hábitos das novas gerações. Somente a educação corporativa digital consegue dar conta de tantas demandas”, explica.
Todavia, Ferla esclarece que o papel em torno dos processos educacionais vai muito além de disponibilizar algumas materiais como e-books. Ele salienta que é necessária a estruturação e o incentivo à cultura do aprendizado contínuo, horizontal e com resultados práticos na carreira de cada colaborador envolvido.
“Apesar de a trilha de educação corporativa ser, em certo ponto, individual, as empresas podem mapear as necessidades internas dependendo do setor, dos gaps de habilidades, da senioridade dos colaboradores e dos objetivos de negócio de curto e longo prazo. Além disso, é importante entender as ambições gerais e individuais dos colaboradores e disponibilizar um conjunto de cursos, workshops, trilhas de aprendizado, palestras, entre outros, que possam suprir a maioria de tais ambições, combinadas às necessidades internas – e isso tem muito a ver com o entendimento da empresa sobre sua cultura organizacional”, pontua.
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Responsabilidade das lideranças
De acordo com estudo divulgado este ano pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups), o Brasil terá um déficit de 530 mil profissionais da área de TI até 2025. O cruzamento de dados aponta para uma realidade que as empresas já vêm enfrentando há anos, mas o buraco entre as vagas disponíveis e a falta de pessoas qualificadas aumenta de forma cada vez mais acelerada – acompanhando as inovações tecnológicas.
O CEO do Dot Digital Group aponta que, diante dos novos desafios das empresas, é fundamental que as lideranças sejam capacitadas de forma permanente em desenvolver, preparar e motivar os demais colaboradores.
“O papel da liderança é fazer a gestão de pessoas e isso tem um impacto muito grande na vida de cada um dos liderados. Uma liderança ruim pode mudar para sempre a vida de alguém, assim como uma liderança inspiradora pode transformar para melhor e impulsionar a carreira de uma pessoa como talvez nenhum diploma faça. O ponto principal em relação às lideranças é a capacitação em relação à valorização das características individuais e em como estruturar feedbacks que realmente resultem em crescimento pessoal e profissional”, diz.
Para que a jornada educacional seja bem-sucedida, Ferla recomenda que as áreas de Gente e Gestão descartem a ideia de que para encontrar os melhores talentos é necessário olhar para fora ou monitorar concorrentes. Além da companhia correr o risco de perder um talento em potencial que ela já tem, a prática pode causar desconfiança e insatisfação, uma vez que o desenvolvimento e o plano de carreira estão entre alguns dos maiores desejos dos profissionais.
“A partir disso, a educação corporativa digital terá, de fato, um objetivo concreto: desenvolver as habilidades dos colaboradores internos em prol das necessidades do negócio. O foco deve ser sempre oferecer cursos que façam sentido para a realidade das pessoas que fazem parte da empresa, não só em conteúdo, mas também em formato e duração – e que possam ser conciliados com a rotina de trabalho. O planejamento deve contemplar a estratégia mais eficaz para engajar os colaboradores e desenvolver a cultura do aprendizado contínuo dentro da empresa – o que pode levar tempo, mas que se mostrará bastante benéfico em longo prazo, principalmente em relação à performance e a qualidade das entregas”, elucida o executivo.
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Habilidades em alta
De acordo com o Fórum Econômico Mundial, além das capacidades técnicas, as habilidades inter e intrapessoais serão imprescindíveis para que os profissionais consigam circular bem em qualquer setor econômico. Tais habilidades podem ser desenvolvidas por meio do incentivo à cultura do lifelong learning, que nada mais é do que a prática de aprendizado contínuo, por meio de ferramentas de e-learnings, workshops, vídeos, interações, mentorias e até WhatsApp. Entre as habilidades mais requisitadas pelo mercado de trabalho até 2027, listadas pelo FEM, estão:
- Pensamento criativo;
- Pensamento analítico e possibilidades;
- Alfabetização tecnológica;
- Resiliência, flexibilidade e agilidade;
- Pensamento de sistemas;
- Inteligência Artificial e Big Data;
- Motivação e autoconsciência;
- Gestão de talentos;
- Orientação de serviço e atendimento ao cliente;
- Curiosidade e aprendizagem contínua.
“As empresas que estão investindo hoje no desenvolvimento dos colaboradores, tanto em relação às capacidades técnicas quanto nas chamadas soft skills, ganham em competitividade dos seus concorrentes em dois aspectos: na construção de uma marca empregadora forte, que reflete diretamente no recrutamento e retenção de talentos, e na produtividade, já que as áreas estratégicas não ficarão estagnadas enquanto a empresa tenta recrutar do mercado colaboradores mais capacitados”, finaliza Ferla.
Por Bruno Piai