Na última semana, publicamos aqui no RH Pra Você uma matéria que destaca a importância do etarismo ser combatido dentro das organizações. Para muitos profissionais, a idade acaba sendo um empecilho para que eles se recoloquem no mercado de trabalho, uma vez, principalmente, que nem todas as empresas estão abertas a dar oportunidade para o público 50+.

Todavia, a preocupação com os rumos da carreira não se limita aos trabalhadores mais velhos. No outro extremo, profissionais mais jovens também enfrentam dificuldades para conquistar o seu espaço no mercado de trabalho. De acordo com dados da consultoria IDados, além do público 50+, os profissionais que mais sofrem para conseguir emprego são os de 14 a 29 anos.

Totalizando ambos os grupos, estamos falando de 7,6 milhões de desempregados no Brasil. No recorte dos 18 aos 24 anos, praticamente 25% dos jovens não têm trabalho, enquanto na faixa dos 14 aos 17 – sempre lembrando que a partir dos 14 anos já é possível a contratação como Jovem Aprendiz -, a taxa de desocupação, segundo o IBGE, é de 39%. Mas o que explica tal cenário em relação às novas gerações? Por que tantos profissionais mais novos estão fora do mercado de trabalho?

É necessário mudar a cultura

Um dos grandes desafios atuais de grande parte das empresas é encontrar bons talentos. No nosso último GiroRH, trouxemos um dado do ManpowerGroup que ilustra bem o tamanho de tal dificuldade. No Brasil, a escassez de bons talentos chegou a 81%, índice um pouco superior à média global, que está em 75%. Algumas áreas, como a tecnologia, estão na linha de frente dos setores que mais têm problemas para encontrar profissionais qualificados para determinadas posições.

“Segundo dados da Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) e de Tecnologias Digitais – Brasscom, teremos um apagão de talentos no Brasil nos próximos anos, fato que já é sentido de forma bem latente pelas empresas – o que ficou ainda mais acentuado após a pandemia, com os processos acelerados de transformação digital nas organizações. Considerando que as taxas de desemprego crescem de forma expressiva, ano após ano, fica claro que não há mão de obra especializada para atender a demanda de mercado”, analisa Alini Dal’Magro, CEO do Instituto PROA, que, por meio de cursos preparatórios para o primeiro emprego e parcerias com empresas empregadoras, já inseriu milhares de jovens no mercado de trabalho.

Para Tatiana Ferreira, que já atuou em departamento pessoal, treinamento e hoje coordena o recrutamento de uma startup em Portugal, tanto para lidar com a falta de profissionais qualificados quanto para diminuir índices de desemprego, as empresas precisam ter um papel ativo na capacitação das pessoas.

“Nós estamos, infelizmente, muito habituados com uma vaga júnior que pede que o profissional domine diversas ferramentas ou com a oportunidade de estágio que exige experiência. Muitas empresas não investem em treinamento, deixam a capacitação de lado e se limitam a procurar profissionais, na visão delas, completos e prontos para qualquer demanda. Primeiramente, isso torna, de fato, mais difícil que elas tenham sucesso para preencher determinadas vagas. E em segundo lugar, isso só limita o mercado de quem está começando”, pontua.

Na visão da especialista, estigmas trabalhistas não se limitam aos profissionais 50+. Enquanto eles sofrem com os estereótipos de não serem tecnológicos ou de não serem capazes de lidar com o ritmo e as mudanças do mercado atual, aos jovens a falta de experiência é o peso em seus ombros. O famoso “como vou ter experiência se não me dão oportunidade?”.

“O desenvolvimento das empresas passa, também, por elas assumirem um papel social. Muitos jovens têm grande talento e potencial para serem lapidados, mas nem sempre têm condições de investir em suas formações. Por mais que existam vários programas sociais que contribuam, a educação ainda é restrita. O gestor olha para um jovem de 17, 18 anos e o descarta se ele não tiver um currículo já recheado de cursos. Algo semelhante é enfrentado pelo público 50+, já que algumas empresas acreditam que não vale a pena investir em seu desenvolvimento, o que é um erro e só reforça o quanto a desinformação impacta negativamente o mercado”, salienta.


A área da tecnologia não para de inovar e as oportunidades para trabalhar com ela crescem exponencialmente. Em contrapartida, tal inovação traz consigo seus desafios, uma vez que nem sempre há profissionais prontos para atender a demanda. Como, portanto, lidar com o problema? Para falar sobre, a diretora de Talent Acquisition da Nuvemshop, Juliana Gusmão, tem dicas importantes. Confira tudo no player abaixo ou clicando aqui.


De acordo com a agência de notícias da Câmara dos Deputados, as oportunidades para os profissionais menos experientes ainda se concentram em determinados setores, como o de serviços por telefone, que tem 63% de jovens entre os contratados. Essa taxa é bem previsível, já que mesmo o ensino regular incentiva as habilidades de comunicação desde cedo, e essas podem ser aperfeiçoadas em treinamentos oferecidos pelas empresas.

Os jovens que se identificam com outras áreas podem demorar mais na inserção ao mercado, buscando ensino técnico e graduação. No entanto, as parcerias entre ONGs e empresas podem agilizar esse processo de busca pela primeira experiência.

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Investimento em formação profissional ainda deixa a desejar

Com uma das maiores taxas de desemprego do mundo, o Brasil tem muitos desafios pela frente. No primeiro trimestre deste ano, o índice ficou em 11,1%, segundo a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

Na contramão, os dados mostram que pouco se investe na qualificação profissional e que este é um desafio para o Brasil. De acordo com o relatório Education at a Glance 2021, o Brasil tem a segunda pior taxa de formação técnica e profissional entre os formandos do ensino médio, 9%, ficando a frente apenas do Canadá, entre os 37 países membros e parceiros da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). 

Para Marcus Lemos, CEO e cofundador da Nubbi, hub de educação que tem por conceito o ensino sem distância, ainda há muito preconceito com o ensino técnico no país. “Em países desenvolvidos, o número de profissionais qualificados em nível técnico é muito superior ao Brasil. Muitos profissionais aqui ou fora ganham salários maiores em uma qualificação técnica do que em uma graduação, a depender da área. O avanço do investimento no ensino profissionalizante poderia ajudar a diminuir o desemprego no país”, comenta.

Recentemente, a Câmara dos Deputados se reuniu para analisar o Estatuto do Aprendiz, Projeto de Lei 6461/19, que estabelece condições sobre contratos de trabalho, cotas nas empresas, formação profissional e direitos do Jovem Aprendiz. Esse novo marco legal para trabalho e capacitação de jovens entre 14 e 24 anos pode aumentar a empregabilidade das pessoas nessa faixa, que historicamente estão entre as mais afetadas pelo desemprego no Brasil.

No entanto, alguns pontos da legislação ainda geram divergências, como é o caso da cota mínima de 5% para contratação de aprendizes. Enquanto algumas empresas demandam mão de obra altamente especializada ou trabalhos insalubres, inadequados para profissionais inexperientes, outras já ultrapassam essa cota por tradicionalmente empregarem os mais jovens, como acontece no setor de telemarketing.

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Outro fator importante é a remuneração, que em alguns casos pode ser mais atraente em vagas que não se enquadram no programa, mas que exigem maior qualificação dos candidatos. Com crise econômica e baixa oferta de novas colocações no mercado, os jovens ficam para trás quando precisam concorrer com candidatos mais experientes e com maior escolaridade.

Lemos comenta que investir em uma educação acessível, tanto em linguagem quanto em poder aquisitivo é o que pode ajudar o Brasil a virar o jogo. “Para muitas famílias, a qualificação ainda é uma barreira econômica. Para prender a atenção do jovem, de modo que ele inicie uma trilha de aprendizado e a conclua é preciso investir em novas plataformas tecnológicas que dialoguem com o seu universo. Este será o desafio da educação profissional para os próximos anos”.

Por Bruno Piai