Uma das maiores multinacionais de e-commerce do mundo, a Amazon tem seu trabalho fortemente consolidado em números. De acordo com ranking recente divulgado pela Bloomberg, a companhia é a quinta mais valiosa do planeta, com valor de mercado na faixa de US$ 1,6 trilhão.

Todavia, por mais que poucas organizações do segmento tenham a força da gigante norte-americana, ainda há lacunas que a Amazon busca preencher para que seja reconhecida não só como referência no e-commerce, mas também como uma das principais marcas empregadoras.

Após recentes polêmicas – como a criação de um sindicato organizado por colaboradores locais nos EUA – e críticas recebidas em relação às condições de trabalho dos funcionários, a empresa busca repensar sua estratégia para, de forma concreta, se tornar um empregador que inspire e fortaleça suas práticas de atração de manutenção de talentos.

Nas operações do Brasil, um dos pontos de atenção é criar vagas que valorizem a pluralidade de perfis e que não criem barreiras para que bons profissionais sejam integrados ao time. No país, a companhia global já gerou mais de 10 mil empregos diretos e indiretos por meio de doze centros de distribuição e quatro estações de energia. Além disso, a Amazon conta com a presença de ao menos 50% de mulheres nas estações de entrega e tem como uma das metas a serem atingidas levar esse número também aos centros de distribuição.

Outro ponto importante diz respeito às ambições do negócio para fomentar diversidade e melhores condições de trabalho. Os objetivos são ousados e, em entrevista ao portal mexicano Expansión Mujeres, a Head de Comunicação Corporativa das Operações da Amazon na América Latina, Marisa Vano, que está na companhia desde 2020, declarou que a marca tem a missão de ser a melhor empresa para se trabalhar e a melhor empregadora no e-commerce.

O objetivo é ousado e, para entendermos o que a Amazon planeja para alcançá-lo, conversamos com a executiva, que nos deixou a par das estratégias que a organização vem tomando para melhorar a sua imagem como empregadora e, de fato, virar a chave para que os índices de satisfação dos colaboradores sejam tão poderosos quanto os números da empresa. Confira:

Marisa Vano- Amazon MX F-254

RPV: Há pouco tempo você deu uma entrevista na qual falou a respeito da ambição da Amazon em se tornar a melhor empresa empregadora. O que está sendo feito para tal meta ser cumprida?

Marisa: É uma enorme responsabilidade, porque não se trata somente de oferecer experiências positivas aos colaboradores, mas de ser uma influência para a nossa indústria. Nosso trabalho envolve, entre outras coisas, nos tornarmos uma companhia mais diversa e equitativa. Já demos início em algumas ações e esperamos que elas só venham a crescer. No Brasil, por exemplo, temos o objetivo de ter 50% da nossa operação formada por mulheres, além de estarmos aumentando a presença feminina na liderança. Isso é motivo de orgulho para nós. Incluímos também a extensão da licença-maternidade tanto para nascimentos quanto para adoções.

Temos sessões de mentoria para auxiliar no desenvolvimento dos nossos líderes, o que inclui tópicos não somente relacionados a negócios, mas também à inteligência emocional – por exemplo, em ações para ajudar as mulheres a lidarem com a síndrome da impostora. Me orgulho em dizer que sou embaixadora desse projeto.

RPV: Cada vez mais empresas apostam em iniciativas voltadas à diversidade e a Amazon é uma delas. Mas e quanto à inclusão, como vocês atuam na promoção de um ambiente de trabalho que seja, de fato, inclusivo para acolher a diversidade?

Marisa: Nós queremos que todos os nossos colaboradores possam ser eles mesmos no trabalho. Temos o trabalho de educar os nossos funcionários sobre diversidade e inclusão. Um de nossos objetivos é treinar 100% das nossas lideranças e colaboradores a respeito, o que inclui atividades que realizamos nas operações de todo o mundo.

Nós convocamos colaboradores e lideranças ao redor das nossas operações para falarmos sobre quebras de vieses e levamos diferentes abordagens, além de exemplificarmos situações, para que seja desenvolvido um movimento que possa impactar os vieses existentes, especialmente em relação às mulheres. Um de meus mantras é que as mulheres devem ser guiadas por dois pontos: o que ela quer ser e o que ela quer fazer. Realmente acredito que o nosso propósito tende a ser um modelo neste sentido.

RPV: Marisa, você tem quase 20 anos de experiência em companhias internacionais, mas é difícil imaginar que tenha tido um desafio tão complexo quanto lidar com tudo o que a pandemia da Covid-19 trouxe de mudanças tanto sociais quanto profissionais. O quanto estes dois últimos anos impactaram seu estilo de liderança e também o trabalho de employee experience da Amazon?

Marisa: Foi uma jornada de muito aprendizado e posso dizer que nada do que foi construído teria sido capaz sem o apoio do meu time. Foi um período para se ter muita clareza a respeito de expectativas e de trabalhar com feedbacks e objetivos bem estabelecidos. É um momento que pede por simplificar o que traz tantas complexidades, no qual “menos é mais” e o foco se apresenta como algo muito importante. Tudo isso compreendendo diferentes culturas, times, estilos de liderança, estilos de vida.

Eu sempre tento alcançar a todos, entendendo as particularidades vividas por cada país. Ficamos atentos ao Burnout e ao quanto a saúde mental como um todo foi impactada, buscando proteger as pessoas e incentivando que elas não abrissem mãos de atividades que apoiam no fortalecimento da mente. O trabalho não é tudo.

RPV: O quanto foi e ainda é complexo desenvolver seu trabalho em uma escala global?

Marisa: Em primeiro momento, é necessário conhecer as lideranças, conhecer os países e sua cultura – o que inclui aspectos políticos e o cenário atual -, e até mesmo um pouco de sua língua. Você busca estar presente. Já fui ao Brasil, por exemplo, e acho importante saber quem são as pessoas que atuam com você, ter a oportunidade de falar com elas presencialmente.

Você precisa compreender o quão diferente cada lugar é. Seu estilo de liderança não se resume a ter um padrão para tudo, você deve respeitar cada individualidade.

RPV: O que a pandemia trouxe à cultura organizacional e ao modelo de trabalho da Amazon que chegou para ficar?

Marisa: Desde o início [da pandemia] a Amazon fez da segurança das pessoas uma prioridade. Focamos muito em construir um ambiente seguro de trabalho, o que inclui os aspectos da saúde mental, que são muito importantes para nós. Temos um programa de assistência aos colaboradores, o que dá a eles acesso 24 horas para falar com profissionais especializados em auxiliá-los com problemas que impactem sua saúde emocional, benefício que é estendido a seus familiares. Temos também consultoria para finanças.

Fizemos um investimento bilionário desde o início da pandemia até então para promover ambientes de trabalho seguros e nos prepararmos para o “novo normal”, seguindo à risca todos os protocolos de saúde globalmente estabelecidos. Quanto ao pós-pandemia, nós não vamos sacrificar ações e resultados que sempre deram tão certo.

Por Bruno Piai