A desigualdade nos salários das mulheres em relação aos homens nos cargos de
liderança evidencia a discriminação de gênero no mercado de trabalho.

Pesquisa realizada recentemente pela Catho mostra que ocupando os mesmos cargos e mesmas funções, as mulheres chegam a ganhar até 34% menos que os homens. Na comparação em cargos de gestão, por exemplo, como gerentes e diretoras, as mulheres chegam a ganhar 24% menos que os homens, aparecendo também uma significativa diferença em cargos de menor nível hierárquico, sendo que a formação das pessoas abordadas pelo estudo aponta que as mulheres têm maior qualificação e nível de escolaridade.

Além disso, há ainda questões de segurança e bem-estar no ambiente corporativo, considerando casos de assédio sexual e moral, pela maternidade vinculada à responsabilidade em cuidar dos filhos, impondo às mulheres um esforço adicional em cargos de liderança, realizando mais atividades do que o previsto para suprir esta discrepância.

Para enfrentar este cenário de discrepância e desigualdades, um dos recursos de empoderamento da mulher é a sua habilidade de se comunicar com as outras pessoas e, no meu entendimento, quanto mais desenvolve suas competências nessa área, maior passa a ser o seu posicionamento e seu papel diante de uma cultura de liderança predominantemente masculina.

É natural a preocupação das organizações em ter pessoas devidamente qualificadas para
ocuparem papéis importantes na organização, notadamente os de liderança, e, por isso, processos seletivos escolhem pessoas devidamente capacitadas para suas vagas, tanto tecnicamente quanto em relação aos seus comportamentos e vida social.

Sabemos que o processo de isonomia salarial e representatividade não se modificará sozinho, daí todo movimento nessa direção é salutar, iniciando com a tomada de consciência de nós homens sobre a importância do papel da mulher no contexto das organizações, em especial pelas características comportamentais e atitudinais nas mulheres podendo variar em diferentes contextos que são:

  • Empatia: refletida na percepção e expressividade emocional em relação às outras pessoas.
  • Atenção e cuidado: tanto em relação às crianças, como em adultos, sendo mais
    cuidadoras e propensas a demonstrar compaixão e solidariedade.
  • Intuição: uma forma de conhecimento inconsciente, conhecido como sexto sentido, uma acuidade sensorial perceptiva muito requintada.
  • Resiliência: a capacidade de lidar com desafios emocionais em situações difíceis, nas quais exigem ponderação, equilíbrio emocional e bom senso.

Deixei, propositalmente por último, a comunicação, pois é uma característica bastante acentuada geneticamente e de maior importância, considerando o poder para resolução de situações do dia a dia das organizações, quer seja em papéis de liderança, atividades de vendas, negociações, participação em reuniões, lidar com conflitos, criação de um bom clima organizacional, atendimento a clientes, realização de palestras, participação em eventos, congressos e seminários, além de representar a empresa junto à mídia e à sociedade.

Muito embora já exista em seu DNA com uma grande tendência e facilidade, ninguém nasceu sabendo falar, nem utilizar habilidades técnicas sem o conhecimento e o desenvolvimento advindo da prática.

Tais recursos podem ser direcionados em camadas, sendo que a primeira é a
comunicação intrapessoal, refletindo o autoconhecimento, a percepção das habilidades já existentes, a autoestima elevada e o conhecimento das oportunidades de aprimoramento pessoal que expressam a consciência do propósito, das crenças em si mesma, dos seus valores e seus compromissos materializados pelas suas ações.

Outro nível é o da comunicação interpessoal, expresso nas diferenças de cada pessoa, nas tipologias comportamentais dos vários processos de assessment, na compreensão das mudanças de humor e de temperamento, dos estímulos e reações de cada pessoa e da sua habilidade de exercer sua profunda capacidade de empatia nas diversas situações.

Outra habilidade a ser aprimorada é sua voz, considerando a expressão das emoções, a beleza e a sutileza de ajustá-la aos diversos contextos e pessoas, ora falando com firmeza e determinação, ora com docilidade e amorosidade, ora levantando uma bandeira e defendendo uma causa com entusiasmo e vigor e ora apaziguando um conflito com calma e equilíbrio emocional.

O corpo representa outra dimensão, nas suas mais variadas nuances de expressão, tais como: os gestos, o olhar, a postura, a elegância, o estilo, a aparência, a expressividade facial, o sorriso, a simpatia, o bom humor e a harmonia em sintonia com o contexto.

A dimensão técnica do processo da comunicação representada pela estrutura física, dos recursos audiovisuais, do ambiente, da iluminação, do som, do clima, da disposição da sala ou do ambiente, estando propício a cada tipo de evento.

Outra camada é a estrutura intelectual, representada pela gramática, pelo idioma, pelo vocabulário, pela fluência verbal, planejamento e estruturação dos pensamentos, das formas para iniciar, desenvolver e concluir uma apresentação, sua preparação para a utilização de histórias, metáforas e exemplos para facilitar a compreensão dos assuntos trabalhados de maneira organizada.

Por último, a comunicação na dimensão espiritual, refletindo os valores individuais e coletivos da cultura organizacional, representados pelo código de honra, pelas escolhas, pela preocupação com as pessoas, com o meio ambiente, com a fauna e flora, com o clima da organização pautada sempre em princípios sólidos geradores da confiança em cada participante da estrutura da empresa, ritmados pelo mesmo objetivo.

Nas organizações sadias, coerentes, humanizadas é missão de todos criar condições para a equidade de gênero. É dever e responsabilidade de todos os níveis hierárquicos integrar os colaboradores à governança ambiental e social, valores de éticos disseminados e congruentes com os novos tempos.

Ressalto, ainda, a responsabilidade das empresas em propiciar treinamentos para todos, em especial às mulheres que, no meu entender, necessitam desenvolver continuamente a habilidade de se comunicar e serem reconhecidas por seus potenciais e talentos. A comunicação é a base para aumentar o poder de influência, persuasão, motivação, inspiração para fazer valer seus direitos e posicionamento no mundo corporativo.

Reinaldo Passadori, Professor de Oratória e Escritor, Mentor, fundador e CEO da Passadori Comunicação, Liderança e Negociação. Adaptação do seu livro ‘Quem Não Comunica Não Lidera’ – Ed. Passadori. É um dos colunista do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.