As questões relacionadas à saúde mental e emocional durante a pandemia de COVID-19 têm sido abordadas em inúmeras publicações, “lives” e posts nas redes sociais. Infelizmente, um olhar mais atento sobre as propostas e conteúdo nos permite vislumbrar que muitas vão pouco além de dicas de autoajuda e aulas online que sobrecarregam ainda mais os profissionais.

Neste mês, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou uma publicação com o título “Managing Work-related psychosocial risks during the COVID-19 pandemic”. Ela ressalta que esses riscos psicossociais, se não forem corretamente avaliados e gerenciados, podem levar a problemas físicos e mentais, como alterações de humor, baixa motivação, irritabilidade, ansiedade, depressão, problemas digestivos, reações na pele, distúrbios musculares, cefaleias e dores inexplicadas.

A OIT ressalta que há algumas áreas importantes que devem ser avaliadas e abordadas pelas empresas:

  • Equipamentos e ambiente
  • Carga de trabalho, ritmo de trabalho e gerenciamento do tempo
  • Violência e assédio
  • Equilíbrio vida pessoal e profissional
  • Segurança no trabalho
  • Gestão e liderança
  • Comunicação, informação e treinamento
  • Promoção da saúde e prevenção de comportamentos negativos
  • Suporte social
  • Suporte psicológico

Em seguida, destaco algumas ações sugeridas pela OIT para que as empresas possam melhorar o ambiente psicossocial.

A OIT considera importante realizar uma avaliação cuidadosa da carga de trabalho, identificando eventuais sobrecargas e promovendo a redistribuição das tarefas. Rever as responsabilidades, considerando-se metas realistas e levando em conta as restrições circunstanciais.  Reconhecer os esforços dos trabalhadores na busca de adaptação e discutir com eles as possibilidades de mudanças e novas opções, inclusive com relação a pausas, horário de trabalho e evitar longas horas de atividade ininterrupta.

A empresa deve prestar uma atenção especial para as políticas de prevenção de violência e assédio no ambiente de trabalho, inclusive para evitar situações de estigma e discriminação. Os trabalhadores devem ter conhecimento destas políticas e divulgar os canais para que possam ser reportadas situações hostis envolvendo clientes, consumidores, colegas e chefias. Estabelecer normas proibindo discriminação com pessoas que tiveram infecção por COVID-19.

Finalmente, em relação ao equilíbrio vida pessoal-profissional e promoção da saúde, é importante combinar a flexibilidade com regras em que o trabalhador não fica acessível, deixando um tempo para repouso e vida pessoal. Focar principalmente na qualidade do trabalho em relação à quantidade, comunicando claramente as expectativas, evitando premiar as respostas mais rápidas em detrimento das melhores.

Sugerir aos trabalhadores que tenham um espaço de trabalho livre de interrupções e estabelecendo limites entre a atividade profissional e o contato com as pessoas de casa. Finalmente, orientar os trabalhadores sobre a importância da adoção de uma rotina com um sono saudável, atividade física, alimentação regular com boas escolhas (e sem pular refeições). Orientar as chefias para identificar potenciais mudanças de comportamento dos trabalhadores relacionadas ao uso abusivo do álcool e drogas para que sejam encaminhados para acompanhamento especializado.

Através destas orientações, podemos constatar que as lideranças possuem papel fundamental na manutenção da saúde psicossocial dos trabalhadores, evitando adoecimento e queda na produtividade do capital humano.

O documento completo pode ser obtido neste link.

Por Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.