Temos estudado o impacto das inovações nos ecossistemas de negócios há mais de duas décadas. Em todo esse tempo, um dos maiores aprendizados é que, apesar de importante, a Estratégia é apenas parte da questão.

A outra, maior e mais desafiadora, diz respeito às pessoas. Mais especificamente, como as lideranças podem inspirar as pessoas e mobilizá-las nas transformações necessárias às mudanças.

Foi por causa disso que começamos a estudar liderança. Para entender por que, de posse das mesmas ferramentas e conclusões estratégicas, algumas empresas faziam os movimentos necessários às transformações enquanto outras não.

Descobrimos muito rapidamente que isto tinha a ver com o papel das pessoas que exerciam a Liderança nessas organizações. Descobrimos também que um dos elementos mais importantes e negligenciados nesse processo é a emoção.

Costuma-se dizer que as pessoas resistem à mudança. Mas isso não é verdade. Se alguém te convidar para almoçar num restaurante novo, super bem avaliado e de ótimo preço, você provavelmente achará uma excelente ideia experimentar essa novidade. Isto porque as pessoas não resistem à mudança. Elas resistem à perda. E a resistência à perda é uma reação emocional. Como grande parte das nossas reações.

O marketing já descobriu há muito tempo que somos guiados pelas emoções. Compramos por razões emocionais (e depois buscamos racionalizar essa emoção). Apesar disso, menos de 5% dos artigos acadêmicos sobre mudanças organizacionais tratam da emoção. É como se os consumidores irracionais virassem executivos racionais ao atravessar as portas de suas empresas.

Isso sim seria irracional!

A abordagem das mudanças organizacionais evoluiu consideravelmente nas últimas décadas. Anteriormente, elas eram vistas como projetos técnicos. No entanto, à medida que as organizações reconheceram a importância das pessoas e da cultura na condução bem-sucedida das mudanças, uma nova perspectiva emergiu: a de que as emoções desempenham um papel crítico.

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A complexidade dessas mudanças muitas vezes gera ansiedade e incerteza entre os funcionários. A percepção de instabilidade e a necessidade de se ajustar a novos processos ou dinâmicas podem gerar uma ampla gama de emoções, que vão desde o medo até a empolgação.

Ignorar as reações emocionais em meio às transformações é um erro comum, pois as emoções influenciam significativamente a forma como os colaboradores abraçam ou rejeitam as mudanças.

Reconhecer e lidar com as emoções de maneira eficaz pode resultar em uma mudança mais suave e bem-sucedida. Em vez de reprimir as emoções, as organizações podem aproveitá-las como recursos valiosos para promover a mudança.

Mas como isso pode ser feito?

Em primeiro lugar, é crucial criar um ambiente onde as emoções possam ser expressas de forma aberta e honesta. Deve-se encorajar a comunicação franca, permitindo que as pessoas expressem seus medos, preocupações e expectativas em relação às mudanças. Isso não apenas valida as emoções dos indivíduos, mas também proporciona um entendimento mais claro das preocupações que precisam ser abordadas.

A emoção pode servir ainda como um catalisador para ação. Quando as pessoas se sentem fortemente conectadas emocionalmente a uma mudança, são mais propensas a adotar comportamentos que a apoiem. Comunicar uma visão clara do futuro desejado e enfatizar os benefícios da mudança pode gerar um senso de propósito compartilhado e ajudar a superar resistências. Neste sentido, narrativas convincentes que apelam às emoções geram entusiasmo e engajamento genuíno com a transformação proposta.

Além disso, as organizações podem capacitar as pessoas com habilidades emocionais. A inteligência emocional, que envolve o reconhecimento e a gestão das próprias emoções e das emoções dos outros, é uma competência valiosa durante as mudanças.

Pessoas emocionalmente inteligentes podem sintonizar as necessidades emocionais da equipe, oferecendo apoio e empatia quando necessário. Isso constrói confiança e fortalece o comprometimento com a mudança.

Da mesma forma, as emoções negativas podem ser transformadas em oportunidades. A frustração e a resistência às perdas podem ser canalizadas para gerar soluções inovadoras. Ao envolver os colaboradores na identificação de desafios e na criação conjunta de soluções, as organizações podem direcionar a energia emocional para promover a mudança positiva.

Um exemplo inspirador de como as emoções podem ser aproveitadas para impulsionar mudanças positivas é a abordagem de empresas que se concentram na sustentabilidade e responsabilidade social. Essas organizações muitas vezes apelam às emoções dos colaboradores ao destacar o impacto positivo que suas ações têm no meio ambiente e na sociedade. Essa conexão emocional pode levar a um senso mais profundo de propósito e motivação para adotar práticas mais sustentáveis e éticas.

Então, por mais desconfortável que seja, precisamos falar de emoção. Pois as transformações nos ambientes corporativos são inerentemente emocionais. Reconhecer, compreender e gerenciar as emoções que surgem durante as mudanças é essencial para o sucesso das iniciativas de transformação. Ao fazê-lo, as organizações podem criar uma cultura de mudança positiva, onde as emoções se tornam aliadas poderosas na jornada rumo ao futuro.

Provavelmente as pessoas que mais precisam ler este artigo fugiram ao ver o título. Então parabéns para você, que resistiu até o final e pode ser um agente positivo de transformação! Ajude aquela pessoa que ainda acha que a racionalidade resolve tudo. Boa sorte e muitas emoções positivas!

Vamos falar de Emoção?

Vamos falar de Emoção?Por Paula Chimenti, Professora e Coordenadora do Centro de Estudos em Estratégia e Inovação e Fernanda Souza, doutoranda e pesquisadora do centro de estudos em estratégia e inovação, ambas do COPPEAD/UFRJ.

 

Ouça o PodCast RHPraVocê Cast, episódio 109, “Habilidade-chave e queridinha do mercado: como se comunicar bem?” com Fabiana Teixeira, jornalista formada pela PUC-SP e tem experiência como repórter em emissoras como Record TV, TV Bandeirantes, Rede TV e TV Cultura. Também é especialista em Comunicação Empresarial, Branding e posicionamento de marcas pela ESPM, e Marketing Digital pela Universidade de Columbia, em Nova York.

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Capa: Depositphotos