Nos últimos anos, uma tendência intrigante tem vindo à tona, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo. Muitos profissionais que entram no mercado de trabalho parecem estar se afastando da tradicional busca por liderança dentro das carreiras empresariais. Multiplicam-se os relatos dos jovens que não gostariam de assumir as responsabilidades da função de liderança.

Esse movimento, chamado de quiet ambition, é liderado pela Geração Z e está se tornando mais evidente em todo o mundo. Por outro lado, uma pesquisa da Rethinkly descobriu que 39% dos britânicos dariam prioridade ao seu bem-estar em vez de um salário mais elevado ou progressão na carreira. 

Um estudo publicado no Journal of Personality and Social Psychology descobriu que as pessoas com ambição silenciosa são mais bem-sucedidas em suas carreiras do que aquelas com ambição aberta. Essa pesquisa também descobriu que as pessoas com ambição silenciosa são mais propensas a serem promovidas e receberem aumentos salariais.

Mas será que teremos um futuro sem líderes? 

É improvável que o quiet ambition leve a um futuro sem líderes. A ambição é uma força poderosa que pode ser usada para alcançar grandes objetivos. Mesmo que as pessoas com ambição silenciosa sejam mais inclinadas a cumprir suas metas de forma discreta e reservada, elas ainda poderão se tornar líderes.

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No entanto, o quiet ambition pode levar a um futuro com um tipo diferente de liderança. Outro estudo, dessa vez do Journal of Business Ethics, apurou que esses profissionais têm maior tendência a serem vistos como confiáveis e honestos. Isso ocorre porque eles não costumam se envolver em comportamentos de autopromoção, que podem ser vistos como arrogantes ou manipuladores. 

Além disso, uma sondagem realizada pela CNBC que entrevistou mais de 5 mil mulheres, concluiu que, embora 48% se descrevessem como “muito ambiciosas”, a definição em torno da ambição está se transformando a ideia de ganhar um salário elevado e ter uma posição de poder está sendo substituída por algo focado na evolução pessoal e uma frequente preocupação com felicidade e realização pessoal.

Empresas se adaptam

O universo corporativo começa a perceber os desafios que essa tendência traz. Grandes empresas, que costumam atrair talentos jovens ansiosos por liderar, estão sentindo os efeitos da quiet ambition, o que levanta uma questão fundamental: o que as empresas podem fazer para se adaptar a essa nova realidade?

O Google, por exemplo, promove o programa Quiet Leaders“, que identifica e desenvolve pessoas com liderança silenciosa. A iniciativa é voltada para colaboradores que são reconhecidos por sua ética de trabalho, dedicação e habilidades de liderança, mas não se identificam com movimentos de promoção pessoal e luta pelo espaço de poder.

Já a Meta coloca em prática o “The Quiet Power of Ambition“, que tem como objetivo promover a ambição silenciosa na empresa. O programa, que é voltado para funcionários de todos os níveis e cargos, reconhece que as pessoas com ambição silenciosa podem ser uma força positiva na organização.   

Para as empresas que ainda não sabem como enfrentar esse fenômeno, uma abordagem é redefinir as expectativas da sua liderança e ter clareza do que é melhor em sua cultura.  Essas organizações podem valorizar mais as habilidades individuais e a contribuição para projetos em equipe, ao invés de focar exclusivamente em ascensão hierárquica como grande ‘prêmio”.

Além disso, a promoção da flexibilidade e do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal pode atrair os profissionais que buscam um estilo de vida mais tranquilo.

Vale ressaltar que essa tendência já se faz presente no Brasil, embora de forma menos pronunciada pois somos uma sociedade bastante hierarquizada. No entanto, é de suma importância que as empresas estejam prontas para se ajustarem a essa nova realidade.

Uma vez que, com o passar do tempo, a discrição na ambição pode tornar-se mais predominante na cultura individual (valores) e impactar de maneira mais significativa o ambiente empresarial brasileiro, com uma possível divergência entre os desejos individuais de talentos e o que as empresas conseguem oferecer.

É claro que nem todas as pessoas com ambição silenciosa serão líderes. No entanto, a quiet ambition pode ser uma força positiva na liderança, fortalecendo muito as empresas que escolheram culturas mais cooperativas, fazendo com que as  organizações que a valorizam possam estar melhor preparadas para o futuro.

Quiet ambition: um futuro com menos líderes?

Por João Roncati, diretor da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano. 

 

 

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