As boas práticas de gestão de pessoas estão andando para trás nesta época de pandemia. Atividades como atrair, reter e desenvolver pessoas, que estão no cerne do RH, acabam dando lugar a um gabinete de crise para demitir, cortar benefícios e reduzir salários.

É como se você estivesse voltando no tempo e negando todo o trabalho já realizado. Compromete-se diversos programas de treinamento já desenvolvidos e todos os líderes se sentem ameaçados. É nisso que mora o grande perigo, pois missão, visão e valores ficam esquecidos; é um verdadeiro “salve-se quem puder”.

Outro problema surge na escolha de quem fica ou sai. Entra o fator humano que busca proteger aqueles que estão mais próximos de você, mesmo que não sejam os mais competentes. O líder se vê acuado pelo fato de manter relações pessoais e interpessoais com diversos colaboradores a quem conhece a família, os filhos e os sacrifícios pela empresa que cada um faz no cotidiano do trabalho.

Como separar essas questões na hora das demissões e de enxugar custos de uma hora para outra? Não há raciocínio lógico que funcione neste momento, pois o emocional de todos está abalado.

A alta direção em geral não tem sensibilidade para tratar de assuntos tão urgentes em tão pouco tempo, e assim, com toda certeza, atrocidades serão cometidas.

Agora, com o distanciamento social e o trabalho remoto, fica ainda mais difícil ter uma conversa sincera com todo o time; o olho no olho é trocado pela frieza das comunicações por e-mail, WhatsApp ou por vídeo.

As decisões ficam mais unilaterais ainda, e a família, que antes era poupada das pressões do dia a dia das empresas, passa a fazer parte do melhor ou do pior momento da vida de um profissional.

É reconhecido que as emoções estão à flor da pele, até mesmo pelo isolamento social e pelo compartilhamento de tarefas domésticas no horário que antes se destinava apenas ao trabalho.

Como agir e reagir diante de tal cenário?

Como lidar com a angústia de não ver os colegas e de ter a convivência social cortada?

É realmente dramático.

Muitos gestores receberam sua demissão pelo WhatsApp ou por e-mail; pior ainda ficou para aqueles que souberam da notícia por videoconferência. Talentos lapidados há anos dentro das organizações são agora jogados ao mercado de trabalho em plena crise e sem direito a defesa.

Como estas empresas vão recuperar sua credibilidade frente aos colaboradores que ficam e a seus consumidores? Suas missões, valores e crenças certamente ficam abaladas, e aí se percebe a selvageria de se administrar apenas pelos resultados de hoje, e não pelas perspectivas futuras.

Os acionistas não querem esperar o fim da pandemia ou entender melhor da economia do futuro; estão focados nos resultados de curto prazo e em manter suas margens de lucro. É este capitalismo selvagem que acaba por desvalorizar as boas práticas de RH e também por decepcionar ainda mais as pessoas que querem construir carreiras saudáveis em tempos de pandemia.

A COVID-19 vai deixar, infelizmente, muitas marcas e aprendizados aos gestores de todas as áreas. Salve-se quem puder.

Andando para trás

Por Alexandre Garret, jornalista e CEO da SFG – Publicações e Treinamentos. É um dos colunistas do RH Pra Você.  O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista.

 

 

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