O (im)perfeito mundo da felicidade corporativa: a construção coletiva de uma nova realidade do trabalho. Precisaremos falar sobre saúde mental ainda por uns bons anos, isso é fato. Pessoas estão se medicando para dormir e para acordar. Crianças estão sendo medicadas para estudar e para brincar. Idosos são medicados para interagir. Até os pets estão sob ação de ansiolíticos.
Não fiz essa introdução para criticar os medicamentos, pois eles fazem parte do desenvolvimento da ciência e auxiliam muitas pessoas a retornarem à sua rotina. A ideia é ressaltar que, mais do que medicamentos, precisamos humanizar nossa sociedade, em especial os espaços corporativos, para que boa parte deles deixe de ser espaços de adoecimento e se tornem espaços de florescimento.
Florescimento é um conceito da psicologia positiva que abrange uma série de fatores que permitem ao indivíduo e às organizações manifestarem o seu melhor, considerando a realidade existente.
Florescer, nos espaços de trabalho, é ter condições de sentir mais emoções positivas que negativas, praticar atividades que aliem habilidades e desafios perdendo a noção do tempo, viver conexões profundas e autênticas, encontrando significado, propósito e espaço para a manifestação de talentos e pontos fortes para a realização de ideias e projetos.
Happytalism, Semana de 4 dias, FIB (Felicidade Interna Bruta), Chief Happiness Officer, Comunicação Não Violenta, Liderança Apreciativa, Teoria U são teorias, filosofias, técnicas ou sistemas dos mais diversos campos que embasam processos humanizados de gestão de empresas (logo, de pessoas) que, segundo inúmeros estudos, geram benefícios, passando pela diminuição do absenteísmo, ressenteísmo ou presenteísmo, passando pela redução de casos de burnout, esgotamento mental e emoção, até atração e retenção de talentos e retornos financeiros.
A cada libra investida em programas de saúde mental gera um retorno de £ 5, de acordo com estudo conduzido pela Deloitte Reino Unido.
Os abusos não acontecem só no mundo CLT. Quem nunca ouviu a frase “estude enquanto eles dormem; trabalhe enquanto eles se divertem; lute enquanto eles descansam”? A crença que estimula e normaliza os excessos perpassa todos os modelos de trabalho.
Em agosto do ano passado, a revista de negócios Inc. publicou uma pesquisa em que 5.000 empreendedores responderam: “como é administrar uma empresa em rápido crescimento”? 60% dos entrevistados disseram que a liderança não afetou ou exacerbou problemas de saúde mental, mas para 36% empreender gerou ansiedade, 9% relataram depressão e 3% disseram que a liderança causou ou piorou o abuso de substâncias.
Diante disso, fica a pergunta: quanto os empreendedores e os líderes estão preparados, dispostos ou conscientes sobre a urgência de uma transformação do seu modelo de gestão?
Como promover essa mudança se, de acordo com artigo publicado pela FOLHA, a solidão assola os executivos, impedindo que peçam ajuda ou contem com sua equipe para elaborar estratégias que atendam as necessidades da empresa e dos colaboradores?
Quanto a média gestão das organizações está preparada para um novo modelo de equipe, que acolhe e integra toda sorte de diversidade (racial, sexual, etária, etc)?
Ainda dentro desta ideia, entendo que os líderes têm outros tipos de escolha: atender as necessidades comerciais e expectativas dos proprietários, sócios e acionistas ou oferecer um ambiente com segurança psicológica, benefícios tradicionais, com reconhecimento emocional e financeiro aos colaboradores?
Fazer valer a missão, visão e valores e os compromissos institucionais que norteiam o propósito da empresa ou alcançar as metas a qualquer custo?
No (im)perfeito mundo da felicidade corporativa, não existe uma resposta certa. Como construto social, a felicidade é formada por inúmeras variáveis e não trata-se de soluções mágicas e sim de um olhar minucioso sobre a cultura da empresa e entender que todos esses pontos não precisam ser conflitantes, passando a encontrar nessas variáveis não um problema e sim inspiração para novos modelos de gestão e de negócios mais inovadores, modernos e, principalmente, sustentáveis.
Através dos conceitos da neurociência e da psicologia positiva podemos afirmar que a felicidade está no equilíbrio, indo de encontro a uma pesquisa feita pela Infojobs, que diz: 86% das pessoas mudariam de emprego por saúde mental e mais satisfação no trabalho.
Logo, não é só sobre benefícios e sim, sobre ter uma liderança inspiradora e humanizada, que oferece reconhecimento (financeiro e emocional), valores e propósitos inspiradores (salário emocional) e tempo (flexibilidade para equilibrar vida pessoal e profissional).
O bem-estar e a saúde mental dos colaboradores também estão no subjetivo, na consistência, na coerência e na frequência das ações. O que importa é fazer, agir e oferecer, coletivamente, uma nova realidade aos trabalhadores, sejam eles terceirizados ou registrados, das fábricas ou dos escritórios, da média ou da alta gestão.
A felicidade nasce na coletividade e, no ambiente corporativo, floresce melhor num paradigma horizontal de gestão, abraçando imperfeições e nutrindo potências. Só assim, através da humanização dos espaços, conseguiremos construir uma nova realidade do trabalho.
Por Rodrigo de Aquino. comunicólogo e especialista em psicologia positiva, bem-estar e felicidade corporativa e fundador do Instituto DignaMente.. Estuda desenvolvimento humano desde os 14 anos de idade.
Saiba mais sobre vida pessoal ouvindo o programa “Vida Pessoal e Profissional: há limites?” do PodCast do RHPraVocê. Nesse episódio, o CEO do Grupo TopRH, Daniel Consani, e a editora do RH Pra Você, Gabriela Ferigato, conversaram com Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”, sobre as principais descobertas da pesquisa. Acompanhe clicando no app abaixo:
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