O trabalho desempenha um papel central na vida da maioria das pessoas. Passamos muitos anos de nossas vidas no trabalho e muitas horas dos nossos dias trabalhando ou em atividades relacionadas ao trabalho.
No trabalho podemos encontrar senso de realização e significado, mas também encontra-se adoecimento, stress e ansiedade. O que não podemos ignorar é o fato de que o trabalho, o ambiente e as relações profissionais são pontos importantes para construção de felicidade e bem-estar.
Apesar da importância do trabalho para a felicidade das pessoas, a maioria não percebe o trabalho como uma atividade particularmente agradável, infelizmente. O crescimento nos índices de burnout são alarmantes bem como os dados relacionados à satisfação (ou insatisfação) com o trabalho.
Vale dizer que hoje existe uma Ciência que estuda a felicidade composta por 3 pilares principais:
- Psicologia Positiva,
- Ciência das emoções e
- Neurociência.
Após décadas de estudo do cérebro humano, Richard Davidson e sua equipe de neurocientistas afirmou que: “Felicidade é uma habilidade que pode ser praticada e cultivada”.
Mas afinal, de que felicidade estamos falando? Particularmente, eu gosto bastante do conceito do Professor Tal Ben-Shahar que lecionou em Harvard durante muitos anos e afirma que: “felicidade é a combinação de bem-estar físico, emocional, relacional e intelectual”.
Dessa forma a felicidade deixa de ser uma abstração para se tornar um caminho bem palpável e concreto em que eu assumo minha auto responsabilidade na construção de bem-estar em minha vida através das escolhas que faço. É claro que temos que cuidar com o excesso de auto responsabilização dos indivíduos visto que a desigualdade social limita muito as escolhas de grande parte da população.
Mas para além da esfera individual a Ciência está também se dedicando ao estudo da felicidade em âmbito coletivo. Nessa seara entram os estudos da felicidade no trabalho, mas também o contexto educacional e até político visto que diversos governos já tem suas políticas públicas de bem-estar.
A ONU está comprometida com a causa através do seu Relatório Global de Felicidade composto por uma pesquisa realizada em 140 países no mundo todo e também dos objetivos de desenvolvimento sustentável que incluem saúde e bem-estar.
Percebemos então o crescimento das discussões acerca no tema nas mais diversas esferas. Isso acontece porque alguns dados são muito preocupantes:
Transtornos como depressão e ansiedade já atingem cerca de 1 bilhão de pessoas no planeta – 14% delas são adolescentes. (Organização Mundial da Saúde jun/2022).
Os gastos mundiais relacionados a transtornos emocionais e psicológicos podem chegar a US$ 6 trilhões até 2030 – mais do que a soma dos custos com diabetes, doenças respiratórias e câncer. (Fórum Econômico Mundial).
Nos últimos dez anos, a concessão de auxílio-doença acidentário devido a tais males aumentou em quase em 20 vezes. (Ministério da Previdência Social).
Nesse cenário, a ciência da felicidade assume papel de extrema relevância pois oferece soluções no enfrentamento do adoecimento que encontramos em tantos diferentes espaços da nossa sociedade. Por isso a discussão do tema é tão importante e as organizações tem um papel central para que possamos mudar os rumos da história.
A Ciência demonstra que existe muito a ganhar tanto para as organizações quanto para os trabalhadores. Mas é importante frisar que o olhar da organização para a saúde, felicidade e bem-estar do colaborador não deve conter segundas intenções.
Quero dizer, o olhar precisa ser real, caso exista o interesse apenas em obter mais frutos financeiros a partir de maior produtividade qualquer iniciativa será ineficiente. Os ganhos em produtividade e demais benefícios obtidos pela empresa devem ser secundários. Um efeito colateral (muito bem-vindo) oriundo de um trabalho pautado genuinamente no cuidado com os seres humanos que compõem a organização.
Pesquisas mostram que existe relação direta entre o bem-estar do colaborador e os níveis de produtividade e satisfação do cliente que são dois pilares fundamentais para o sucesso da organização.
Relacionando o conceito do Tal Bem-Shahar fica óbvio que um colaborador gozando de boa saúde física, emocional e mental estará apto a produzir mais e melhor e que isso resulta em maior satisfação por parte do cliente.
Mas as pesquisas e os dados não param por aí. Trabalhadores mais felizes são 25% mais eficientes, 50% mais motivados, 82% mais satisfeitos e 108% mais engajados (Jéssica Price e Jones). Vendedores mais felizes vendem até 56% mais (Shawn Achor).
E seguem em dados importantes e concretos como:
- redução de absenteísmo (Akerlof, G.A. et al – Job Satisfaction –Papers on Economic Activity, 2017),
- retenção de talentos (Bryson, A. – Employee wellbeing, employee performance – H. Relations, 2017),
- redução de turnover (Clark, A.E. et al–Unemployment Psychological evidence – Labor Economics, 2004),
- maior inovação, criatividade e resiliência (Krekel, C. et al – Work and Wellbeing – Global Happiness and Wellbeing Policy Report, 2018) e poderíamos seguir citando benefícios .
Mas a grande pergunta é: como chegar lá? Qual o papel da organização nesse cenário?
Dados da Organização Mundial de Saúde mostram que para cada 1 dólar investido no bem-estar do colaborador estima-se um retorno de 5 dólares para a empresa em melhorias de saúde e produtividade. (OMS, 2020)
É necessário trazer o tema para dentro da organização através de conversas e sensibilização. O início pode ser pelo tema da felicidade ou bem-estar mas pode também ser um tema adjacente como por exemplo a saúde mental ou emocional. Ouvir a opinião dos trabalhadores e uma pesquisa interna podem ser formas interessantes de começar.
As pesquisas realizadas ao redor do mundo demonstram que a cultura organizacional e o papel das lideranças são os dois principais pilares da felicidade dentro das organizações.
As lideranças precisam de conhecimento e formação acerca dessa recente ciência, além de uma série de ferramentas para poderem se tornar líderes mais humanos capazes de auxiliar a gestão do bem-estar das suas equipes. Existem diversas possibilidades de intervenções (sem custo) que podem auxiliar os trabalhadores a elaborarem a sua própria percepção de felicidade dentro dos pilares de bem-estar, bem como sua percepção e expressão emocional e de saúde mental afim de melhores cuidados.
É papel de todos dentro da organização a construção da cultura, portanto os conhecimentos acerca do tema devem chegar a todas as áreas, bem como uma possível revisão dos valores da organização pode se fazer necessária. Sabemos que a transformação da cultura requer esforço e atenção e que leva tempo portanto o imediatismo não tem lugar.
Cabe a organização oferecer um ambiente adequado para que os trabalhadores possam cuidar do seu bem-estar fazendo as melhores escolhas na construção de sua felicidade. Um ambiente em que existe segurança psicológica possibilita alcançar os benefícios aqui listados.
“Quando uma flor não desabrocha, você corrige o ambiente em que ela cresce e não a flor” (Alexandre Den Heijer)
Por Gustavo Arns, especialista em felicidade e bem-estar.
Saiba mais sobre vida pessoal ouvindo o episódio 75 do programa “Vida Pessoal e Profissional: há limites?” do PodCast do RHPraVocê. Nesse episódio, o CEO do Grupo TopRH, Daniel Consani, e a editora do RH Pra Você, Gabriela Ferigato, conversaram com Tiago Petreca, diretor fundador e curador chefe da Kuratore – consultoria de educação corporativa, Country Manager da getAbstract Brasil e autor do Livro “Do Mindset ao Mindflow”, sobre as principais descobertas da pesquisa. Acompanhe clicando no app abaixo:
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