Ao longo do tempo, existiu o equívoco de associar sustentabilidade apenas a ações ambientais ou à redução do consumo de carbono. Práticas verdes importam, sim. No entanto, quando falamos do conceito de Environmental, Social and Governance” (ESG) — termo que tem ganhado cada vez mais destaque nas pautas e reuniões corporativas, é preciso ser claro desde o princípio que é muito mais do que isso.
Além do pilar ambiental, a sustentabilidade é resultado de uma interação complexa entre outros dois vieses: o social e o econômico. Juntos eles formam o que se chama de os “Três Pilares da Sustentabilidade” ou “Triple Bottom Line”.
Tanto é verdade que, em 2015, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) – que compõem uma agenda global para a construção e implementação de políticas públicas visando guiar a humanidade até 2030 -, cinco dos seis primeiros objetivos estavam relacionados às pessoas.
Isso faz muito sentido. Afinal, contar com profissionais saudáveis, tanto fisicamente quanto emocionalmente, gera benefícios para as empresas — reduzindo os índices de absenteísmo e turnover — e para a sociedade.
No setor de facilities, não é diferente. Isso porque, em especial, na área de limpeza e conservação, o principal ativo são as pessoas. Daí entra a importância da sustentabilidade social. A questão é: como ser uma empresa no setor de facilities verdadeiramente sustentável?
Antes de tudo, é preciso ressaltar que a sustentabilidade social engloba a promoção do bem-estar das pessoas, a justiça social, a igualdade de oportunidades e a proteção dos direitos humanos, levando sempre em consideração os impactos nas gerações atuais e futuras.
Investir em ações que promovam o desenvolvimento e qualidade de vida das pessoas no setor de facilities vai além do aspecto social; também implica uma importante transformação de posicionamento no mercado. Por muito tempo, o trabalho terceirizado foi estigmatizado como subemprego, e são poucas as empresas que adotam uma abordagem voltada para a sustentabilidade social.
Iniciativas e projetos alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são fundamentais para obter evidência e, acima de tudo, para promover uma sociedade mais justa.
Com o intuito de orientar suas ações e desenvolver o pilar “S” de ESG (Environmental, Social and Governance), o instituto que presido atualmente criou, em 2020, um programa relacionado aos ODSs de erradicação da pobreza, educação de qualidade, trabalho decente e crescimento econômico, bem como redução das desigualdades. Esse programa capacita pessoas em situação de vulnerabilidade social nas áreas de facilities, além de acelerar a diversidade e inclusão.
A iniciativa surgiu em resposta a alguns desafios. Na época, houve uma busca por profissionais de limpeza hospitalar devido ao aumento da demanda nas instituições de saúde. Ao mesmo tempo que os índices de desemprego aumentaram, e muitas pessoas não tinham qualificação para esse tipo específico de trabalho, que difere da limpeza convencional tanto em aspectos técnicos quanto nos produtos utilizados.
Diante desse contexto, o instituto projetou um módulo de treinamento abrangendo limpeza, conservação e higienização hospitalar, e o aplicou nas comunidades selecionadas — vale ressaltar que o programa capacita as pessoas para trabalharem em locais próximos de suas casas.
Dos inscritos no projeto, 90% concluíram o programa e 57% foram contratados pela empresa ligada ao instituto coordenado por mim. Além disso, destacam-se os seguintes resultados:
- Redução da taxa de SLA de contratação;
- Aumento da taxa de retenção: 75% das pessoas que participaram do programa continuam na empresa;
- Promoção da cultura organizacional;
- Contribuição para a sustentabilidade social da empresa.
Mas como engajar e manter essas pessoas na empresa? É aí que entra outro programa do instituto, que está alinhado aos ODSs de saúde e bem-estar, trabalho decente, crescimento econômico e redução das desigualdades. Trata-se de um canal de atenção psicossocial voltado para a promoção da saúde mental, totalmente gratuito e sigiloso, exclusivo para colaboradores.
O programa ajuda as pessoas com questões relacionadas à saúde mental, preenchendo essa grande lacuna existente. Dessa forma, permite uma análise detalhada de características que muitas vezes passam despercebidas.
Em 2023, nós ampliamos os nossos recursos voltados para a promoção e prevenção da saúde mental dos colaboradores, além de garantirmos direitos e promovermos a cidadania. Durante o primeiro semestre, houve cerca de 100 novas adesões e 1.200 atendimentos.
A ideia é que todos se sintam acolhidos e apoiados, e, para garantir a efetividade do programa, novas ações foram implementadas. Agora, representantes do programa visitam colaboradores pessoalmente para esclarecer dúvidas, apresentar os benefícios e abordar outros aspectos cruciais na superação de possíveis barreiras, ampliando, assim, a adesão.
A nova dinâmica utiliza indicadores para selecionar os contratos e promover a visita de psicólogos. Além disso, o canal de atendimento já existente continua funcionando normalmente, com psicólogos disponíveis 24 horas por dia, todos os dias da semana.
Entre os resultados alcançados, destacam-se:
- Redução do absenteísmo;
- Redução da rotatividade: apenas 14% das pessoas que participam do programa deixam a empresa;
- Redução dos custos relacionados a afastamentos por problemas de saúde;
- Retenção de pessoas por meio da adesão ao programa.
Além disso, a empresa ligada ao instituto coordenado por mim tem se dedicado a promover a sustentabilidade social por meio de diversos projetos e ações. Além de uma universidade corporativa que capacita e qualifica os colaboradores, lançamos um programa de diversidade e inclusão empresarial.
Essa jornada contínua envolveu o reconhecimento de indicadores, estabelecimento de parcerias estratégicas, formação de comitê e embaixadores da diversidade, criação de políticas e guias de comunicação inclusiva, bem como treinamentos de conscientização.
A abordagem da empresa em relação à diversidade e inclusão é orgânica e baseada na meritocracia, visando garantir o acesso e a permanência em posições de destaque, alinhadas ao plano de carreira e progressão.
Mas, o que aprendemos com tudo isso?
Olhando todos esses pontos todos é possível notar a importância de ter compromisso sólido em promover a sustentabilidade social em todas as suas ações e continuar avançando na direção de um futuro melhor para todos.
Por Ariane Tassi Guimarães, presidente e fundadora do Instituto Guima, instituição de responsabilidade social ligada à GuimaConseco; a entidade, sem fins lucrativos, visa a realizar atividades assistenciais, educacionais e culturais.
Ouça o PodCast RHPraVocê Cast, episódio 101, “ESG está na moda, mas como tratá-lo para além do modismo?” com Hugo Bethlem, presidente do conselho do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB). Clique no app abaixo:
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