Era para ser o início de férias na Cidade do México (México), até que recebi a notícia que esperava há dias: eu era agora parte do quadro de pessoas colaboradoras de uma Startup de cultura remota! Havia um tempo que eu sonhava com isso, muito por razão de trabalhar alguns dias no famoso home office e passar mais tempo com a minha família, mas eu só estava no início de descobrir o que essa experiência e modelo de trabalho traria para mim.

Senti uma mistura de emoções, que iam desde a euforia de conquistar uma oportunidade que almejei, até a incerteza do que faria com a minha viagem. Do México, iria para a Califórnia, passar alguns dias em São Francisco.

Mas, para a minha surpresa, não precisei fazer nada, segui minha programação normalmente. Tudo graças à cultura remota e a um valor muito presente na cultura das empresas — mas às vezes pouco exercitado — o “seja protagonista da sua carreira”, que eu posso resumir nesse cenário como: assumir o protagonismo da sua vida e carreira, tendo liberdade com maturidade.

RH TopTalks 2023

Fui apresentado a um novo universo, onde sou dono da minha jornada e das minhas responsabilidades, o que me permite estar em qualquer lugar e lidar com as minhas atribuições da forma que mais faz sentido dentro da minha rotina: poderia fazer os meus horários, trabalhar de onde eu quisesse, desde que me comprometesse com entregas de qualidade.

E quando percebi, lá estava eu, trabalhando diretamente de São Francisco. E algumas semanas depois, diretamente do meu lugar preferido no mundo: o Canadá.

Depois de algum tempo viajando, um amigo me perguntou se eu era “nômade digital”. “Nômade digital? O que é isso? Gostei!”, foi a minha resposta, me senti quase um pioneiro, na época nem sabia que existia um nome para esse estilo de vida que eu havia aderido e que várias pessoas haviam adotado, e que agora eu, profissional de RH e CLT fazia parte. Afinal, tudo aconteceu sem que eu sequer tivesse pensado ou planejado.

E aos poucos, fui percebendo que isso realmente era uma realidade e eu amava e valorizava todas as possibilidades que ela me oferecia.

Esse estilo de vida cheio de possibilidades

Tenham em mente que eu passei 3 anos, de 2018 a meados de 2021 em uma empresa onde tinha que encarar um trajeto de mais ou menos 2h00 para ir e 2h00 para voltar. Lá, toda a flexibilidade era somente dentro do horário comercial, o que deixava tudo ainda mais exaustivo.

Veja mais: A queda de barreiras geográficas do trabalho remoto no “novo normal”

No começo, foi desafiador construir uma mentalidade que se adaptasse à essa nova realidade, tive que lidar com a insegurança de sentir que precisava provar o tempo todo que estava produzindo e que eu valia a pena, já que não havia ninguém para me monitorar. Eu estava acostumado a bater ponto, então não estar online às 09h00 ou fazer 1 hora e meia de almoço me causava um certo desconforto, já que nessa cultura remota geralmente cada pessoa é livre para fazer o seu horário.

Hoje, depois de me acostumar com essa possibilidade de autogerir o meu tempo, entendi que o que funciona pra mim é ter uma rotina, gosto de ter horário de início e término do meu período de trabalho, mas aproveitando o melhor que a cultura remota pode me oferecer, sempre prezando o equilíbrio e a minha qualidade de vida.

Há alguns anos, seria impossível para mim fazer uma pausa no meio do dia para tomar um café com os meus pais, passar um tempo com o meu esposo ou aproveitar essa tal vida nômade, que dentre tantas oportunidades, me proporciona assistir ao amanhecer do sol e ir andar pela orla da praia para recarregar as energias.

O funcionamento da autogestão no ambiente colaborativo

Imagino que você deve estar se perguntando: “Mas se cada um faz os seus horários, como o time consegue se comunicar e realizar suas entregas?”

Outro valor importante nessa cultura remota é o de cooperação entre times e áreas. Entendemos que ninguém está online o tempo todo, e que estar online não significa estar disponível. Sabemos estabelecer prioridades e entendemos que nem tudo é imediato.

E isso serve para quando algo nos é solicitado e para quando dependemos da colaboração de outras equipes, focando principalmente na minha atuação em People Operations, pois as minhas principais atividades e demandas incluem dar apoio e atender as pessoas da empresa. Sendo assim, exercitar o comportamento de avaliar o que é importante ou o que é urgente é muito necessário nesta cultura.

Pensando nisso, criamos para People Operations um canal para solicitações diversas: férias, atualização cadastral, movimentação de pessoas, reembolso de benefícios e afins, desenvolvemos também um guideline para as pessoas consultarem informações a qualquer hora sobre benefícios, pagamento, férias e encargos, algo bem próximo de uma intranet, mas com uma interface mais dinâmica e roteiro adaptado ao público que atua conosco, para que não fosse deixado de lado.

A experiência dessa construção foi incrível, foi necessário envolver diversos stakeholders e áreas, onde cada um contribuiu para a elaboração do conteúdo, fluxo e até construção operacional deles.

No remoto é muito importante avaliar o famoso: ‘’isso podia ser por e-mail’’ com bastante responsabilidade, e mapear alinhamentos semanais fixos entre os times ou com toda a empresa, para que cada pessoa possa planejar sua semana e sua flexibilidade considerando esses compromissos.

O remoto nos mantém em constante movimento

É muito curioso como as conexões não necessitam da presença física para acontecer. Mesmo não estando presencialmente com o meu time, o time de RH e lideranças pode criar rituais que fortaleçam a relação do time mesmo no remoto, requer atenção e não pode ser deixado para depois esse ponto.

Eu gosto de dizer que o remoto nos mantém em movimento, pois a liberdade nos faz enxergar e nos dá acesso a uma explosão de informações: hoje, eu não vejo só o que existe dentro de um escritório ou de uma tela ou de um curso que opte por fazer, eu consigo ver além!

Eu tenho a oportunidade de participar de eventos para networking não importa onde estejam acontecendo, consigo palestrar em universidades e focar num horário em que eu esteja disponível para as minhas demandas, e posso até mesmo estar no aeroporto de Toronto tomando café com um eslovaco, e conhecendo sobre legislação trabalhista e benefícios do seu país de origem. É uma explosão de conexão.

Trabalhando em people operations, diretamente na área de folha e benefícios, sempre tive interesse em entender como funciona esse universo em diferentes lugares, vivendo o remoto hoje tenho essa oportunidade. Isso cria inúmeros insights que posso levar para o meu ambiente de trabalho.

Quando olhamos tudo o que oferecemos para as nossas pessoas, enquanto RH, precisamos compreender que dentro dessa cultura elas estão em diversos lugares, e precisamos explorar isso, entender como oferecer o melhor benefício ou como elaborar alguma ferramenta que atenda a todos, onde quer que eles estejam.

Life to the fullest

O trabalho nunca foi o único pilar da minha vida e, por fim, encontrei uma cultura que me ajuda a viver todos os pilares da minha vida sem ter que aguardar unicamente pelas férias. Hoje não estou mais naquela startup que entrei enquanto eu viajava para o México.

Agora estou numa empresa do mercado financeiro, um novo desafio pela frente, uma população diferente e que em sua maioria passou por experiências no presencial em grandes instituições. O foco nesse momento é entender como aplicar toda essa minha narrativa de people operations para esse público.

Somos remotos, mas públicos diferentes requer abordagens diferentes, e entender quem atua conosco é uma das principais forças do RH para oferecer a melhor experiência possível.

Mas não importa o desafio, o remoto e as conexões que ele me proporciona estão aqui para me ajudar, seja para criar algo novo para área, para desenvolver alguma habilidade e para a possibilidade de dar uma pausa de 4 horas dentro de um avião de Houston para Vancouver escrevendo um artigo para compartilhá-lo com tanta gente boa e incrível de RH.

Assim tem sido.

O Profissional de RH trabalhando pelo Mundo

Por Ramon Ortega, especialista em People Operations na CERC. Possui 10 anos de experiência em RH em empresas de indústria da moda a Startups. Mentor na People Academy, também é palestrante em universidades e costuma falar sobre departamento pessoal, carreira e trabalho remoto, com passagem, inclusive, no RHCast e na Officeless.

 

Ouça o episódio 135 do RH Pra Você Cast: “As oportunidades e os (inesperados) desafios de quem vive o nomadismo digital“. Problemas com equipamento ou internet, burocracias, custos, questões pessoais e adaptação a novas culturas, hábitos e pessoas. Por mais que o nomadismo digital seja o sonho de muitos profissionais, nem tudo são flores. Ainda assim, segundo relatório da Fragomen, a vida nômade deve ser a realidade de carreira de mais de 1 bilhão de pessoas até 2035.

Diante de uma tendência tão crescente, como, então, medir os prós e os contras? As complexidades envolvidas no planejamento podem frear o entusiasmo pela vida nômade? E como ficam as empresas nesse processo? É sobre isso e muito mais que Heitor Sanches, nômade digital e Talent Acquisition Lead da Arquivei, falou ao RH Pra Você Cast. Após visitar 17 estados brasileiros em sua jornada, o profissional pontuou tudo o que funciona e o que deve ser evitado nessa rotina. Confira clicando no app abaixo:

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Capa: Depositphotos