OMS reconhece Burnout como doença de trabalho, e agora? Veja 4 ações estratégicas para empresas. Desde o dia 1 de janeiro de 2022 está em vigor a nova classificação da Organização Mundial da Saúde (OMS) a respeito da Síndrome de Burnout.

A principal mudança foi que a partir deste ano o Burnout passa a ser qualificado como doença associada ao trabalho: “estresse crônico de trabalho que não foi administrado com sucesso”, de acordo com o texto do CID 11, documento que tem o objetivo de padronizar e reconhecer problemas de saúde ao redor do mundo.

A mudança em sua classificação deixa mais clara sua relação com o ambiente de trabalho e pode trazer consequências ainda mais importantes para as empresas.

O Burnout sempre teve impactos significativos no ambiente de trabalho, prejudicando de forma silenciosa a saúde, o bem-estar e a performance dos colaboradores e, consequentemente, os resultados das empresas.

Apesar de bastante negligenciado e pouco discutido nas organizações, a verdade é que o Burnout é um problema de saúde bastante comum no Brasil. De acordo com os dados da International Stress Management Association (ISMA-BR), o Brasil era, antes da pandemia da covid-19, o segundo país do mundo com maior número de trabalhadores afetados pela doença (em torno de 30%).

As mudanças no ambiente de trabalho ocasionadas pela pandemia tornaram os profissionais ainda mais vulneráveis para o desenvolvimento do Burnout.

Diversas pesquisas mostram que profissionais de diversas áreas de atuação encontram-se mais sobrecarregados, trabalhando mais horas por dia, com queixas de insônia, irritabilidade e sintomas de ansiedade. Uma pesquisa da Talenses e da Fundação Dom Cabral mostrou que 74% dos entrevistados reconheceram que a pandemia prejudicou de maneira significativa sua saúde mental.

Esse cenário aqueceu a discussão sobre o papel das empresas em relação à saúde mental de seus colaboradores, incluindo a preocupação sobre a Síndrome de Burnout. Por conta disso, observa-se um número cada vez maior de empresas mobilizando-se para discutir sobre o tema de maneira mais aberta, criando ações para conscientização de gestores, profissionais de RH e os próprios colaboradores.

No entanto, é preciso reconhecer que ainda há um longo caminho a ser percorrido. O tema saúde mental (e tudo em seu entorno, incluindo o Burnout) ainda é considerado um tabu, especialmente no ambiente de trabalho.

A mudança na qualificação definida pela OMS traz impactos ainda maiores para as empresas que não estão atentas a esse fenômeno, extrapolando a saúde e performance, trazendo também desdobramentos jurídicos, financeiros e prejuízos para a imagem da empresa como marca empregadora.

Dessa forma, diante não apenas da nova classificação da OMS, mas principalmente da emergência e seriedade que o assunto exige, o que as empresas que querem prevenir os malefícios do Burnout (e outros desfechos negativos associados a baixa saúde emocional) devem fazer?

1- Ter ferramentas de monitoramento recorrente do estado emocional dos colaboradores

O Burnout ou outros tipos de afastamento associados à saúde mental são, na maioria das vezes, apenas a ponta do iceberg. Quando um colaborador recebe um diagnóstico de esgotamento, sua recuperação e os impactos negativos desse cenário já se encontram bastante alastrados, para além do ambiente de trabalho.

Dessa forma, o melhor caminho é o da prevenção. Identificar pequenos sinais e elementos estressores, que possam ser contornados, resolvidos ou mitigados ajuda a evitar que o desgaste emocional atinja níveis insustentáveis.

Pesquisas de monitoramento do estado emocional das equipes, quando utilizadas de forma assertiva e recorrente, contribuem para a construção de indicadores mais objetivos, que servem como termômetro e suporte na tomada de decisão, permitindo a criação de estratégias para a empresa, com foco na prevenção dos problemas de saúde mental do colaborador.

2- Agir de forma estratégica, criando ações que atuem diretamente na origem do problema (e não apenas com efeito paliativo).

Uma vez que a empresa tenha um bom diagnóstico e/ou monitoramento de seus indicadores de saúde emocional e identifique uma possível ameaça, é importante criar ações que realmente atuem para reduzir ou sanar a origem do problema.

Em geral, os fenômenos observados são complexos e podem ter mais de uma origem, mas não vai adiantar oferecer aulas de yoga ou práticas de meditação se na verdade as pessoas estão desmotivadas, têm uma relação de baixa confiança ou tóxica com a liderança ou sentem que seu trabalho não é reconhecido.

Entender de maneira profunda os aspectos emocionais que deflagram o Burnout é essencial para diagnosticar e criar ações estratégicas.

3- Preparar líderes e profissionais de RH

Saúde mental é um tema complexo e que começou a ser discutido recentemente, de maneira ainda tímida em nossa sociedade. Por isso, não podemos exigir que líderes ou mesmo profissionais de RH tenham total autonomia para lidar com o assunto em suas equipes (ou mesmo individualmente).

As empresas que querem sair na frente em relação a esse aspecto precisam preparar os seus profissionais para atuarem de forma coordenada, dando suporte e oferecendo recursos e ferramentas (cognitivas e emocionais) para que os gestores e a área de pessoas possam contribuir para um ambiente de trabalho mais saudável emocionalmente.

4- Ter uma cultura que prioriza o bem-estar, ajudando os colaboradores a terem uma rotina equilibrada e saudável

Grande parte dos elementos que levam à Síndrome de Burnout estão presentes na própria cultura da empresa, são as chamadas culturas tóxicas. Ambientes de extrema competição, baixa confiança entre as pessoas, líderes autoritários, pressão constante e excessiva por resultados, baixo reconhecimento/valorização, dentre outros elementos que a longo prazo geram um estado emocional de esgotamento e se tornam insustentáveis.

Para evitar esse cenário, é importante que a empresa esteja disposta a promover transformações em sua cultura, construindo um ambiente mais harmonioso e de confiança entre as pessoas, uma liderança inspiradora e empática, e foco nos resultados levando em conta o bem-estar e a saúde das equipes.

Diversas pesquisas ao redor do mundo apontam que essas mudanças impactam de maneira positiva os resultados financeiros, a inovação e o crescimento sustentável das empresas.

Além disso, é importante que as organizações ajudem suas equipes a entender a relevância do tema Saúde Mental, através de ações, palestras, rodas de conversa e um diálogo constante que favoreça a conscientização e ofereça aos colaboradores ferramentas e conhecimento necessários para uma melhor gestão emocional, individual e coletiva.

Burnout como doença de trabalho: 4 ações estratégicas

Por Thaís Gameiro, neurocientista e sócia da Nêmesis, empresa que oferece assessoria e educação corporativa na área de Neurociência Organizacional.

 

 

 

 

Para saber mais
Já que estamos falando sobre Síndrome de Burnout: é sobre isso que o CEO do Grupo TopRH, Daniel Consani, e a nossa editora Gabriela Ferigato falaram no Vem Pra Luz com Renata Tavolaro, Head de Psicologia da OrienteMe e Alexandre Ullmann, diretor de RH do LinkedIn. Confira tudo no player abaixo ou clicando aqui.