Em um mundo corporativo agitado, é comum ouvirmos conselhos como “medite” ou “se alimente bem”. Mas, como pedir a alguém para meditar quando o peso de um dia de trabalho parece insustentável? 

Como aconselhar uma boa alimentação quando os intervalos para as refeições são cada vez mais apertados? 

Como lidar com a presença daquele colega cuja toxicidade contamina todo o ambiente de trabalho? 

E como ter a consciência limpa pagando baixos salários sabendo que salário digno também é saúde mental?

Todo dia, como CEO, eu me faço essas perguntas. E busco respostas e ações concretas, não apenas sair falando frases bonitas por aí. Quero que minha equipe se sinta bem, trabalhe feliz e seja mais produtiva. E isso exige esforço, mas é o único caminho.

E sabe por quê?

De acordo com a Gallup, 80% das pessoas no mundo sofrem desengajamento nas empresas e 60% de burnout no trabalho. O impacto financeiro disso é de US$ 8,1 trilhões de dólares. Além disso, 66% das pessoas sofrem de ansiedade e 59% de depressão, causando um prejuízo de US$ 1 trilhão ao ano e 12 bilhões de dias de trabalho perdido, anualmente. 

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E no Brasil a situação não está muito diferente. Segundo estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS), 53% dos entrevistados declararam piora no bem-estar no último ano, 20% tiveram ou tem depressão, 9,3% do total dos brasileiros sofre de ansiedade e 5,8% têm depressão. O impacto desses números, conforme pesquisa da FIEMG, é uma perda no faturamento das empresas de R$ 397,2 bilhões por ano, chegando a uma redução de mais de 800 mil empregos no Brasil. 

Os números assustam. E a tendência é que só piorem se as organizações continuarem a negligenciar o cuidado da saúde mental de seus colaboradores, adotando uma abordagem superficial, tratando o tema como um simples “checklist” a ser seguido, sem realmente se aprofundar no que seria necessário para promover um ambiente de trabalho mentalmente saudável.

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Agora estamos no famoso mês do “Setembro Amarelo”. Mas o que mais vejo por aí é a reprodução de um discurso que, na prática, nada tem de efetivo. Muitos apenas surfam na onda do momento, dão dicas, algum mimo, uma cartinha ou até promovem alguma palestra a seus funcionários. E chega dia 01 de outubro, parece que uma borracha é passada e tudo volta a ser como antes. 

Então eu pergunto: será que simples dicas de bem-estar são suficientes para enfrentar a complexidade da saúde mental dentro das empresas?

A resposta é um enorme “NÃO”. Até porque se fossem suficientes, os números de pessoas que sofrem de ansiedade, estresse, burnout e depressão devido ao trabalho, não seriam tão grandes. 

Dessa forma, quando falamos de saúde mental, precisamos abordar as raízes dos problemas e desafios que os colaboradores enfrentam. Não se trata apenas de promover a resiliência individual, mas também de transformar todo o ambiente profissional em si.

E esse recado é para todos. Sim, para grandes, médias e pequenas empresas. Cuidar da saúde mental não é exclusividade das grandes corporações com enormes recursos. Empresas de todos os portes devem estar atentas e comprometidas com o bem-estar de seus colaboradores, que é uma via de mão dupla. 

Ou seja, as empresas não podem simplesmente esperar que seus colaboradores se cuidem. Elas precisam ativamente criar um ambiente onde o bem-estar mental é uma prioridade e não apenas um slogan anual. Por isso, a verdadeira adesão ao Setembro Amarelo vai muito além de conselhos bem-intencionados. 

E o que, efetivamente, pode ser feito?

Por exemplo, as empresas podem adotar políticas claras contra o assédio moral ou sexual, garantindo que todos saibam e sejam treinados para entender essas políticas. Treinamentos de desenvolvimento pessoal também trazem ótimos resultados.

Neste caso, podem ser ofertados cursos ou sessões onde os funcionários aprendem habilidades que os ajudam não apenas no trabalho, mas também em suas vidas pessoais. Pode ser um curso sobre gestão do tempo, resolução de conflitos ou até mesmo habilidades de comunicação.

Uma outra opção interessante é realizar workshops sobre Gestão de Estresse. Através deles, poderiam ser ensinadas técnicas como respiração profunda, pausas estratégicas durante o dia ou métodos de organização pessoal para reduzir a sobrecarga de trabalho.

A comunicação é igualmente um ponto fundamental para cuidar da saúde mental dos colaboradores durante todo o ano. Assim, é importante que a organização mantenha um número de telefone ou serviço online onde os funcionários possam falar com profissionais de saúde mental quando se sentirem sobrecarregados ou em crise.

Ou pode criar canais abertos de comunicação, mantendo um e-mail direto para a gerência, caixas de sugestões, ou reuniões regulares de feedback. O importante é que os colaboradores saibam que têm uma voz e que serão ouvidos.

A hora de agir é agora.

Que façamos do Setembro Amarelo muito mais do que uma campanha de marketing e de slogans bonitos que acontece por 30 dias. Que ele efetivamente seja um chamado para ação real para suprir as necessidades de bem-estar emocional no ambiente corporativo durante o ano todo. 

A superficialidade das empresas no cuidado da saúde mental

Por Deivison Pedroza, Co-founder e CEO da Way Minder.

 

 

 

Ouça o episódio 134 do RH Pra Você Cast: “Nova classificação do burnout faz um ano: as confusões e avanços sobre a mudança“. Em janeiro de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) mudou a classificação da síndrome de burnout, que passou a ser descrita como um fenômeno ocupacional, ou seja, um esgotamento condicionado exclusivamente ao trabalho – dentro da #CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde). Passado um ano, ainda há certa confusão sobre a nomenclatura, o que caracteriza ou não o burnout. Além disso, o que mudou ao longo desse tempo? Qual foi o impacto para as empresas e para os RHs? Conversamos sobre tudo isso com Ana Maria Rossi, presidente da #ISMA-BR (International Stress Management Association). Acompanhe clicando no app abaixo:

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