Ao observarmos os programas de eventos corporativos recentes e artigos na mídia leiga podemos concluir que estamos no meio de uma epidemia de burnout. Sempre se apresentam números superlativos, colocando o Brasil no topo de todas as condições mentais. Uma revista de recursos humanos falou em “burnout digital”. Já se fala em burnout social, burnout de Zoom, burnout culinário etc.

Apesar do conceito apresentado pela literatura científica como sendo uma “condição de exaustão devido a uma exposição prolongada a estressores ligados ao trabalho” ainda podemos observar que o termo “burnout” tem sido utilizado com vários significados, tornando-o terreno fértil para muitos palestrantes, consultores e prestadores de serviços para “gerenciar o burnout”.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o burnout é um fenômeno ocupacional e NÃO pode ser considerado uma condição médica. Ele seria específico do contexto ocupacional e NÃO deveria ser aplicado em experiências em outras áreas da vida. E na classificação CID-11 é descrito desta maneira.

Sendo uma condição ocupacional, concluímos que é difícil que seja resolvida com propostas individuais, como psicoterapia on line, sessões de massagem ou meditação ou coaching.

Em nosso país, o instrumento de avaliação de burnout mais utilizado é o questionário “Maslach Burnout Inventory” (MBI) envolvendo três escalas: exaustão emocional, despersonalização e falta de realização pessoal. Devemos lembrar que se trata de um instrumento proprietário, tendo várias versões e custos por questionário. Além disso, os próprios autores relatam que o questionário não deve ser usado para “diagnóstico” visto não se tratar de uma condição médica.

Recentemente, participamos da tradução e adaptação cultural do instrumento “Professional Fulfillment Index” (PFI), que é um questionário para avaliar burnout e bem-estar, desenvolvido pela Universidade de Stanford,  para a língua portuguesa e publicado na revista American Journal of Health Promotion sob coordenação de João Silvestre Silva-Junior.

Deste modo, trata-se de uma condição bem específica e o uso amplo do termo burnout pode ocultar outras situações como os transtornos de humor (depressão) e ansiedade, que exigem avaliação e acompanhamento especializados. Ressalte-se que o burnout pode se associar a estas condições mentais e emocionais piorando a sua evolução.

Provavelmente, a melhor abordagem é buscar a melhoria do ambiente psicossocial, propiciando ao trabalhador, canais de comunicação, autonomia e reconhecimento. Trabalhar o equilíbrio esforço-demanda e esforço-recompensa, propiciando a legítima percepção de bem-estar do trabalhador.

Deste modo, evitam-se o investimento em soluções que são, muitas vezes, cosméticas e que não trazem mudanças efetivas no ambiente de trabalho que, em última análise, é a causa do burnout.

Alberto Ogata, presidente da Associação Internacional de Promoção de Saúde no Ambiente de Trabalho (IAWHP). É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.