Embora a discussão e a conscientização referentes à saúde mental tenham assumido espaço de relevância em diversas organizações do país, socialmente ainda é um desafio quebrar a barreira do preconceito e da desinformação sobre doenças mentais. Isso é o que revela um levantamento feito pela YouGov, multinacional especializada em pesquisa de mercado. Segundo o estudo, apenas 25% dos brasileiros acreditam que os estigmas relacionados às enfermidades mentais estão, de fato, desaparecendo.
O relatório indica, também, que enquanto 81% do público feminino diz que conversar sobre saúde mental é importante, 73% dos homens pensam o mesmo. No geral, 77% das pessoas entendem que conversar sobre a temática é necessário.
“É ideal trazer o conhecimento para desmistificar assuntos sobre saúde mental, pois muitas pessoas ainda têm preconceitos associados à doença mental. As pessoas têm vergonha e medo de serem julgadas como ‘loucas’, mas todos, sem exceção, precisam de apoio emocional”, explica Lucas Ledo, psicólogo e pesquisador na área de saúde da mulher e perinatalidade na Amar.elo Saúde Mental.
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Geração Z é a mais afetada por doenças mentais
Segundo outro estudo, desta vez da Cigna International Health com 12 mil pessoas ao redor do mundo, no recorte geracional, a saúde mental da Geração Z passa por um momento complicado, principalmente quando o trabalho entra na equação.
Dos jovens analisados na pesquisa (de 18 a 22 anos), 91% relatam estar estressados – em comparação com 84% das outras faixas etárias. Os especialistas Tábata Silva, gerente do Empregos.com.br, e Alex Araujo, empresário e CEO da 4Life Prime Saúde Ocupacional, explicam que a razão principal para essa discrepância, é que a entrada desse grupo na vida corporativa ocorreu exatamente no decorrer da pandemia, período em que as relações profissionais tiveram mudanças radicais.
“O home office e o trabalho híbrido trouxeram uma nova onda de ansiedade para os funcionários” explica Tábata. “Ficou difícil para as pessoas separarem os problemas pessoais dos profissionais, já que agora eles ocupam o mesmo espaço”, complementa.
Para o executivo, o emocional e as mudanças comportamentais dos jovens trabalhadores devem ser acompanhados com cautela. Em muitos dos casos, colaboradores de 15 a 29 anos, estão terminando o ensino médio ou, em casos mais avançados, a graduação e pós-graduação, e tendo que equilibrar a rotina estudantil em conjunto com o trabalho.
“É uma situação radical, que requer responsabilidade e organização por parte do colaborador. Sem muitas referências e com a alta carga de obrigações, doenças ocupacionais, como o esgotamento mental e a ansiedade, podem vir à tona. É necessário que as companhias se atentem à saúde e ao bem-estar dos colaboradores, por meio de ações efetivas, como palestras de prevenção, acompanhamento médico e disponibilização de benefícios, para evitar o aumento no número de afastamentos e, consequentemente, melhorando a qualidade de vida dos colaboradores”, diz.
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Estigma precisa ser quebrado
De acordo com dados divulgados pelo Empregos.com.br, nos últimos 12 meses, um quarto das empresas afastou de um a cinco colaboradores em decorrência de adoecimento mental. A ansiedade é apontada como o fator que mais impacta a força de trabalho (41%), seguida pelo estresse (31,9%), depressão ou síndrome do pânico (26,7%) e burnout (9,2%).
Luiz Couto, especialista em Recrutamento & Seleção com 20 anos de experiência na área, salienta que as organizações precisam encontrar mecanismos para levar a discussão também para o externo. Para ele, embora seja uma responsabilidade governamental desenvolver e reforçar campanhas de conscientização, as organizações precisam ter um papel ativo.
“Por meio de treinamentos bem estabelecidos, as empresas têm um poder educacional muito forte. Os líderes devem sempre se envolver. Uma vez que ações internas se tornam positivamente avaliadas, iniciativas como eventos, trabalhos voluntários, parcerias com entidades, produção de conteúdo e benefícios que se estendem à família do colaborador são algumas medidas para expandir a mensagem sobre a importância de cuidar da saúde mental e combater estereótipos, estigmas e preconceitos que só contribuem para as doenças crescerem”, finaliza.
Por Bruno Piai