As palavras têm uma força muito grande. Elas servem para construir e edificar, mas também servem para destruir e soterrar. Uma palavra direcionada a uma pessoa sempre pode gerar um impacto. Quando eu falo algo que é verdadeiro e que ajuda a pessoa a descobrir onde ela pode melhorar, a desenvolver o seu potencial, a perceber alternativas, a se lembrar e se estimular para dar o seu melhor e a ser a sua melhor versão, eu estou ajudando a construir.

Estou alimentando as conexões (dela comigo e consigo mesma) que irão ajudar na percepção realista e positiva de cada situação e poder, com isso, determinar a melhor forma de lidar com qualquer coisa e agir.

Entretanto, quando uso a palavra, mesmo “falando a verdade”, para diminuir, desqualificar, comparar, colocar uma pressão exagerada, limitar a pessoa a aspectos dela mesma, eu estou contribuindo para destruir essa pessoa. Essas palavras podem levá-la a ter problemas de autopercepção, que acionam pensamentos negativos compulsivos e podem levar a problemas de saúde mental.

Qualquer pessoa que fale algo para nós de maneira agressiva, ou que enfatize os nossos aspectos negativos sem dar um devido suporte, sem mostrar um interesse positivo, sem dar a mão para ajudar, pode afetar a nossa saúde mental. E quando essa pessoa tem um poder de influência, seja formal ou informal, como um líder, suas palavras têm um impacto muito maior, e, portanto, nos efeitos que isso vai causar.

É muito importante que o líder esteja ciente desta reponsabilidade e consciente do motivo que o leva a falar determinada coisa, bem como o quanto isso vai ajudar a pessoa que recebe, dentro do universo dela, a enxergar melhor a realidade e a se desenvolver. Esse entendimento vem de uma ampliação do nível de consciência do líder, de entender o que está acontecendo, de se basear em fatos, de fugir de julgamentos superficiais, de, no fundo, se conectar mesmo com o seu papel de suporte, que foca e permite a si mesmo ser um canal de ajuda para os seus liderados.

Isso exige algumas características, como um propósito claro, o entendimento do processo de comunicação (que tem que ser efetiva, assertiva e positiva – não violenta) e do repertório e necessidades do seu liderado, de uma capacidade de doação, entre outros.

Esse ponto é sempre fundamental, mas neste mês de setembro essa temática da saúde mental recebe foco dentro do chamado Setembro Amarelo. E se torna ainda mais importante neste delicado momento em que vivemos, com um mundo cheio de grandes desafios, como pandemia, guerras, eleição tumultuada, riscos na economia, etc. Estes fatores, por si só, já afetam a nossa saúde mental. Assim, com tanta coisa acontecendo, é ainda mais premente que todos nós estejamos muito conscientes das nossas palavras, do que nós estamos escolhendo dizer, e do porquê estamos escolhendo. Para os líderes, o peso é ainda maior.

Esse entendimento vale quando falamos algo para os outros, bem como quando falamos algo para nós mesmo, por meio dos nossos pensamentos. Afinal, somos o nosso principal líder (princípio da autoliderança).

Assim, vale a pena refletir: como é que você fala com a equipe, com os seus liderados e com você mesmo? Quais são os impactos que isso gera? O quanto que as suas falas inspiram o melhor nas pessoas ou as derrubam?

Essa reflexão também é necessária para quem é gestor de pessoas ou atua na área de RH, pois as palavras sempre podem levantar ou derrubar uma pessoa. Qual é, de verdade, a sua escolha? E o que você faz para concretizá-la e fortalecê-la?

Eduardo Farah é sócio da Invok e professor na FGV. É um dos colunistas do RH Pra Você. O conteúdo dessa coluna representa a opinião do colunista. Foto: Divulgação.

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